Fundada em 1998, a MasterFarma apostou no associativismo para chegar a uma base de mais de 950 farmácias, em 11 estados do Brasil. Mas, mesmo com esse alcance, um limite ainda precisa ser superado pela rede: os cerca de 870 quilômetros que separam sua sede, em Criciúma (SC), de São Paulo.
É na capital paulista onde estão os principais executivos e as grandes empresas da indústria farmacêutica, bem como as distribuidoras do setor. Apesar do seu porte, a rede tem pouco contato, assim como acontece com outros grupos que reúnem farmácias independentes.
Esse é contexto da criação da Federação do Comércio Farmacêutico (Fecofar). Na iniciativa, que está sendo lançada nesta terça-feira, 28, a MasterFarma está se aliando a outras seis redes para fazer frente a grandes varejistas como RD, Pague Menos e Drogaria São Paulo,
“Na maioria das vezes, quando surge um projeto na cabeça da indústria, ela passa para quem está mais próximo”, diz, ao NeoFeed, Marcelo Grasso CEO da MasterFarma e que atuará como presidente da Fecofar. “Agora, com a Fecofar, estaremos a 50 metros dessa conversa.”
Com um investimento de R$ 2 milhões, o passo inicial está sendo dado com a escolha da sede da Fecofar, um escritório de 534 metros quadrados que será instalado até o fim de fevereiro de 2024 na Vila Olímpia. O bairro da zona sul paulistana fica próximo do endereço de boa parte das farmacêuticas.
Além da MasterFarma, as operações da Fecofar serão formadas pela Farmais (São Paulo/SP), São Rafael (Chapecó/SC), AMR (Varginha/MG), Drogarias Max (Rio de Janeiro/RJ), Multidrogas (São José do Rio Preto/SP) e Redemed (Recife/PE), cujos CEOs irão compor a diretoria da entidade.
A partir dessa união de forças, outros números devem favorecer o diálogo com a indústria. Juntas, as sete redes faturam mais de R$ 5,6 bilhões anualmente e estão presentes em 24 estados do País. O grupo soma mais de 3,2 mil farmácias e emprega 16 mil funcionários diretos.
Para se ter uma medida dessa escala, a RD, maior varejista do setor, fechou o terceiro trimestre de 2023 com 2,8 mil unidades e, em 2022, teve uma receita bruta de R$ 30,9 bilhões. O fato de a RD faturar mais com menos lojas não é algo restrito ao grupo.
Hoje, as grandes redes organizadas como a RD respondem por 15% das mais de 90 mil farmácias em atividade no País. Com esse índice, esses grupos concentram mais de 50% das vendas do setor, que movimentou R$ 170 bilhões em 2022.
Em contrapartida, um outro dado da consultoria Close-Up International mostra que, entre 2021 e 2022, o mercado brasileiro registrou a abertura de 18.176 novas farmácias. Quase um terço desse universo já fechou as portas, sendo que 80% das que seguiram esse caminho foram farmácias independentes.
“As farmácias menores são um peixe pequeno dentro desse oceano”, observa Grasso. “Muitas são comidas pelas grandes, mas outras tantas conseguem sobreviver, em função do associativismo. Mas estamos indo além. Vamos multiplicar essa equação por sete.”
Finalizada a estruturação da sede em São Paulo, essa conta será a senha para colocar em prática uma série de projetos. A começar pelos investimentos em marketing para que a Fecofar seja reconhecida como um grupo econômico. Na ponta, porém, as bandeiras vão manter suas respectivas marcas.
Uma segunda via passa, claro, pelas negociações em bloco para obter condições comerciais de compra mais favoráveis. Outras medidas irão envolver a extensão de projetos já em curso em uma ou mais redes da Fecofar às demais bandeiras da entidade.
Encaixam-se nessas vertentes a implantação do sistema de gestão e da plataforma de e-commerce já em uso na MasterFarma. Assim como acesso a treinamentos ofertados pela indústria e a softwares de precificação e de gestão de mix. Essa última área também figura na lista de prioridades da Fecofar.
“As pequenas e médias farmácias trabalham, em média, com 3 mil itens e lojas, contra 10 a 12 mil SKUs das grandes redes”, observa Grasso. “Nosso foco não será apenas em trazer descontos, mas também, ampliar e desenvolver o mix, por exemplo, em categorias como os dermocosméticos.”
Outro foco será acelerar o desenvolvimento de marcas próprias, um segmento que, por conta das margens mais atrativas, tem ocupado cada vez mais espaço nas prateleiras e nos sortimentos das grandes redes.
“Já temos mais de 400 itens próprios nessas sete redes”, diz Grasso. “Com esse volume e garantia de compra, fica mais fácil buscarmos uma parceria com a indústria para desenvolvermos marcas exclusivas da Fecofar.”
O plano da entidade não comporta, porém, a busca por outros grupos de farmácias independentes para reforçar o seu pacote. Ao menos não no curto prazo.
“Devemos nos restringir a essas sete redes por, no mínimo, 18 meses a dois anos”, afirma Grasso. “É o tempo para nos estruturarmos e sermos reconhecidos no mercado. E, com essa operação atual, já temos um bom fôlego para dar um salto bem grande.”