O balanço do segundo trimestre da Vale trouxe uma boa notícia para os acionistas, com o anúncio da aprovação da distribuição de US$ 1,44 bilhão em juros sobre capital próprio, a serem pagos no próximo mês de setembro.

Na trilha do desempenho operacional reportado entre abril e junho, a cifra veio em linha com a política de dividendos mínimos da companhia. Mas a gestão da mineradora entende que há uma perspectiva à frente para ampliar o saldo nessa conta.

“Na situação atual do minério de ferro, se o preço seguir nesse patamar, a chance de termos um dividendo extraordinário aumenta”, disse Marcelo Bacci, CFO da Vale, em conversa com jornalistas nesta sexta-feira, 1º de agosto.  “Isso está nos proporcionando uma geração de caixa bastante robusta.”

No segundo trimestre de 2025, a Vale reportou uma geração de caixa de US$ 1 bilhão, ante US$ 197 milhões em igual período, um ano antes. Segundo o CFO, o comportamento da demanda pelo minério de ferro permanece bastante robusto em todos os mercados, especialmente na China, principal destino da Vale.

E isso tem se refletido em um nível relativamente estável do preço da commodity, em torno de US$ 100 por tonelada. “Quando olhamos para frente, em um horizonte mais de médio prazo, continuamos vendo esse equilíbrio, com a oferta mais ou menos estável e a demanda com um crescimento modesto”, afirmou Bacci.

O CFO também ressaltou outro ponto que será determinante para o pagamento de dividendos extraordinários ou mesmo a recompra de ações: o alcance da meta de entregar uma dívida líquida expandida na faixa de US$ 15 bilhões no fim de 2025.

Entre abril e junho, a dívida líquida expandida da companhia foi de US$ 17,4 bilhões. O montante representou um crescimento anual de 19%, mas uma queda de 4% sobre a cifra reportada no primeiro trimestre deste ano.

“Toda vez que nos aproximamos do range de US$ 15 bilhões aumenta a probabilidade de termos dividendos extraordinários ou recompras”, disse Bacci. “No segundo semestre, temos um volume mais forte de geração de caixa, então, a dívida reduz. O ritmo dessa redução é que vai determinar essa probabilidade.”

Ao ressaltar que a empresa está justamente nessa trajetória de redução, o executivo destacou outro fator que deve contribuir para acelerar esse percurso: a venda de uma fatia de 70% da Aliança Energia. O acordo foi anunciado em abril, por cerca de US$ 1 bilhão, e deve ser concluído nesse trimestre.

Lição de casa

Enquanto avalia esses cenários e faz suas contas, no segundo trimestre, a Vale reportou um desempenho operacional que compensou parcialmente os efeitos de uma queda de 13,3% no preço médio realizado de finos de minério de ferro.

Entre abril e junho, a Vale apurou um lucro de US$ 2,1 bilhões, o que representou um recuo de 24% na comparação com o valor reportado em igual período do ano passado. A cifra veio, porém, acima das estimativas do consenso, que apontavam para o montante de US$ 1,4 bilhão.

A receita foi de US$ 8,8 bilhões, uma queda, em base anual, de 11%. O Ebitda ajustado ficou em US$ 3,3 bilhões, uma retração de 15%. Enquanto o Ebitda proforma, que exclui despesas referentes a Brumadinho e itens não recorrentes, caiu 14%, para US$ 3,4 bilhões, mas veio 7% acima do consenso.

Em outra ponta, que agradou o mercado, o custo C1 de finos de minério de ferro – que leva em conta o custo de transporte da mina até o porto -, excluindo compras de terceiros, teve queda de 11%, para a faixa de US$ 22,2 por tonelada.

Já os custos all-in recuaram 10% no minério de ferro, 60% no cobre e 30% no níquel. Nesse contexto, a Vale revisou o guidance do custo all-in do cobre para o ano, para US$ 1,5 mil a US$ 2 mil por tonelada, contra a faixa anterior de US$ 2,8 mil a US$ 3,3 mil.

Em relatório, o BTG Pactual pontuou que a “lição de casa” da empresa está dando frutos, ao destacar que a companhia reportou um conjunto de resultados “decente”, reforçando as iniciativas recentes de governança da gestão de Gustavo Pimenta, que assumiu o comando da empresa em outubro de 2024.

Entre outros fatores, os analistas do banco ressaltaram o Ebitda acima do esperado, impulsionado, particularmente, pelos negócios de metais básicos. Além da queda nos custos, da revisão no guidance de custos do cobre e da sólida geração de caixa.

“No geral, acreditamos que o mercado gostará desses resultados”, escreveram os analistas do BTG Pactual, que, no entanto, mantiveram a recomendação neutra para o papel e o preço-alvo de US$ 11 para as ADRs da Vale, negociadas na Bolsa de Nova York.

“Mantemos nossa recomendação neutra em relação ao fluxo de caixa livre limitado, diante de uma possível queda no preço do minério de ferro, mas se o minério de ferro permanecer como está, em cerca de US$ 100 por tonelada, nossa visão provavelmente precisará ser revisada.”

As ADRs da Vale estavam sendo negociadas com alta de 1,94% por volta das 13h40 (horário local). Já na B3, as ações da empresa registravam alta de 0,94% por volta das 14h25, cotadas a R$ 53,96, dando ao grupo um valor de mercado de R$ 230,3 bilhões. No ano, os papéis têm queda de 1,08%.