A Votorantim e a Temasek estão se unindo e criando um veículo que terá aproximadamente R$ 3,6 bilhões (US$ 700 milhões) para investir em empresas de alto crescimento no Brasil.
O novo fundo será gerido por uma nova gestora, a 23S Capital, que será comandada por Matheus Villares, que era o head da Temasek no Brasil, país onde a empresa de investimentos de Cingapura construiu, desde 2008, um portfólio que inclui Viveo, Bionexo, Memed, Conductor, Neoway, entre outras empresas.
“Começamos a investir no Brasil focados em recursos naturais. Agora, estamos vendo o surgimento de novos empreendedores e de empresas focadas em inovação tecnológica. Para ser bem-sucedido, você precisa trazer mais capital para essas companhias” diz Dilhan Pillay, CEO global da Temasek, ao NeoFeed.
A Votorantim, por sua vez, controla e tem participações em companhias de grande porte e faturou R$ 49 bilhões em 2021. Ela atua em materiais de construção (Votorantim Cimentos), alumínio (CBA), metais e mineração (Nexa), suco de laranja (Citrosuco), energia renovável (Aurem), investimentos imobiliários (Altre), setor financeiro (banco BV), aços longos (AcerBrag) e crédito de carbono (Reservas Votorantim).
“Na nossa perspectiva, é uma forma de estar presente em companhias em seu estágio inicial ajudando-as na estratégia de longo prazo”, afirma João Schmidt, CEO da Votorantim, ao NeoFeed. “A Temasek tem a mesma visão de longo prazo que temos.”
A 23S Capital nasce com o aporte de recursos das duas empresas – o montante que cada uma delas está investindo no fundo não foi revelado. A gestora será agnóstica no que diz respeito a setores, mas estará atenta a empresas de educação, saúde, healthtechs, fintechs e agtechs, áreas nas quais a Temasek já tem experiência no Brasil.
A ideia é investir em empresas maduras, com alto potencial de crescimento, que tenham um modelo de negócio provado e com unit economics saudáveis. O sweet spot da 23S Capital será de tíquetes que variam entre R$ 250 milhões e R$ 300 milhões. “Mas também teremos bastante flexibilidade”, afirma Villares. “Enxergo que podemos fazer cheques menores, até mesmo de R$ 50 milhões.”
Neste primeiro momento, Villares acredita que poderá fazer entre oito e dez investimentos. Questionado se a nova gestora se define como de venture capital ou de private equity, ele diz que o objetivo é ter flexibilidade. “Não queremos nos colocar um selo”, afirma o CEO da 23S Capital, que herdará a estrutura da Temasek no Brasil para dar início a nova operação.
Os investimentos anteriores da Temasek no Brasil, que tem mais de R$ 1 trilhão de ativos sob gestão globalmente, não serão incorporados a 23S Capital. Mas a nova gestora cuidará do portfólio para a Temasek. “Além de alavancar o ecossistema da Temasek, elas terão agora o benefício adicional de alavancar o ecossistema da Votorantim”, diz Pillay. “Vejo como um ganho para as empresas do nosso portfólio no Brasil.”
A estreia da 23S Capital acontece em um momento em que o aumento das taxas de juros no Brasil e no mundo tem provocado uma forte correção de valores de empresas públicas e afetado os investimentos em empresas privadas. E o investimento em empresas de estágio avançado está secando.
Nos sete primeiros meses de 2022, os investimentos em startups no Brasil atingiram US$ 3,3 bilhões, uma queda de 42% se comparado com o mesmo período do ano passado, segundo dados do Distrito. Em julho, foram investidos US$ 235,6 milhões em 38 transações. No mesmo mês do ano passado, os aportes atingiram US$ 483 milhões em 52 rodadas.
Mas, em um sentindo inverso, os investimentos de private equity estão remando contra a maré do venture capital no Brasil. No primeiro semestre de 2022, eles atingiram R$ 16,5 bilhões, uma alta de 617,4%, segundo a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP). “O fluxo de investimento em private equity caiu drasticamente nos últimos anos”, diz Piero Minardi, presidente da ABVCAP, em entrevista ao NeoFeed, em julho deste ano. “Agora, está voltando a subir de novo.”
Votorantim e Temasek, no entanto, não estão preocupados com os movimentos de alta e baixa da maré. “Estamos vendo um ambiente diferente para empreendedores e novas empresas no Brasil hoje. E isso não muda com as condições de mercado”, afirma Schmidt.
O CEO global da Temasek concorda com a avaliação. “Você nunca deve escolher um tempo bom ou não para investir em boas companhias”, diz Pillay. “Você precisa investir em boas empresas, bons empreendedores e bons modelos de negócios. Somos investidores de longo prazo.”
Duas curiosidades. O nome 23S Capital refere-se a latitude onde está a cidade de São Paulo, que será a sede da gestora. Mas há um fato inusitado, que os envolvidos na escolha da marca dizem ser apenas uma coincidência. A letra da primeira palavra do número vinte e três começa com V de Votorantim e a segunda com T, de Temasek.