A Apple é uma das raríssimas exceções entre os players de tecnologia a atrair o interesse – e os dólares - da Berkshire Hathaway, a gestora de Warren Buffett. Conhecido por sua resistência ao setor, o bilionário não se cansa de tecer elogios à companhia liderada por Tim Cook.

Foi assim, por exemplo, em março do ano passado. Na época, em sua famosa carta anual a acionistas, ele elegeu a empresa da maçã como uma das joias da coroa no portfólio da gestora. E nem mesmo o fato de as ações da companhia recuarem mais de 27% em 2022 parece ter abalado essa confiança.

É o que reforça um documento arquivado pela Berkshire Hathaway na Securities and Exchange Commission (SEC). O material traz um retrato sobre as participações acionárias detidas pela empresa até o fim do quarto trimestre de 2022.

Entre outras movimentações, o arquivo mostra que, entre outubro e dezembro, a gestora investiu US$ 3,2 bilhões na compra de mais de 20,8 milhões de ações da Apple. No ano consolidado, a Berkshire comprou 915,6 milhões de ações da empresa, alcançando uma fatia de 5,8% na operação.

Esse apetite contrasta com o fato de que, no geral, no quarto trimestre de 2022, a gestora mais vendeu do que comprou ações. Além da Apple, a Berkshire só ampliou suas participações na Louisiana Pacific, de materiais de construção, e na Paramount Global.

Em contrapartida, a companhia reduziu suas posições em oito empresas no período. O pacote incluiu nomes como Taiwan Semiconductor, US Bancorp, Bank of New York Mellon, Ally Financial, Chevron e Activision Blizzard. Ao mesmo tempo, a Berkshire não abriu novas posições em nenhum ativo.

Em outra ponta, tudo indica que a companhia foi eleita como um dos alvos preferenciais do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

Segundo o jornal econômico The Wall Street Journal, que citou fontes familiarizadas com o tema, nos últimos meses, o órgão vem intensificando a estruturação de uma possível queixa antitruste contra a fabricante dos iPhones.

O caso tem origem em uma investigação sobre uma acusação de abuso de poder de monopólio por parte da Apple, que teve início em 2019. Uma das questões envolve as políticas que regem os aplicativos de terceiros nos dispositivos da empresa.

Outro braço da investigação inclui o iOS, o sistema operacional móvel da Apple, e acusações de que a empresa age de maneira anticompetitiva ao favorecer seus próprios produtos na plataforma, em detrimento daqueles desenvolvidos por terceiros.

Essa abordagem está no centro de críticas e de reguladores em outros mercados além dos Estados Unidos, com ações que buscam analisar se a Apple usa seu poder de precificar e distribuir aplicações externas em seus dispositivos para prejudicar a concorrência.

Em um dos exemplos dessas práticas, em 2021, a Apple passou a exigir que os aplicativos de terceiros tivessem permissão explícita dos donos de iPhones e iPads para usar os dados desses usuários em anúncios segmentados. Na prática, a nova regra afetou duramente as receitas de publicidade de empresas como o Google e Meta.

Como parte do foco em analisar essas políticas, o Departamento de Justiça está solicitando às empresas por trás das acusações que forneçam informações sobre vendas internas e dados de mercado. Esses pedidos, segundo pessoas próximas, vêm ganhando velocidade.

Enquanto esses imbróglios prometem mais desdobramentos, na Nasdaq, as ações da Apple estavam sendo negociadas com alta de 1,33% por volta das 15h15 (horário local). Em 2023, os papéis acumulam alta superior a 19%. A empresa está avaliada em US$ 2,4 trilhões.