Em um momento em que o mapa geopolítico e econômico está sendo redesenhado com tarifaços e disputas comerciais, o Brasil precisa lidar, em paralelo, com velhas questões que, nesse novo cenário, só reforçam os seus já conhecidos dilemas de competitividade.

Um número, em particular, traduz esse desafio: um saldo negativo de R$ 1,7 trilhão que, segundo o Movimento Brasil Competitivo (MBC), responsável por esse cálculo, gera distorções competitivas e afetam diversos setores da economia no País.

Para discutir as raízes e as alternativas para virar esse jogo, um dos painéis do NeoConference 2025, evento realizado pelo NeoFeed nesta terça-feira, 28 de outubro, reuniu Jorge Gerdau, controlador da Gerdau, e Christian Gebara, CEO da Vivo. E a dupla elegeu um dos principais vilões nesse roteiro.

“A macroestrutura do Brasil no sistema tributário é medieval”, disse Gerdau, que também é presidente do MBC. “No mundo, a média dos países mais caros é de 20%, 21%. Nós já estamos em 27%. E eu tenho medo de que isso suba ainda mais.”

O empresário destacou outros indicadores para realçar o quanto esse sistema tributário excessivamente complexo, aliado à burocracia, pesa no “bolso” dos mais diversos setores da economia. E recorreu à própria operação da Gerdau – a uma pergunta para a audiência - para realçar essa distorção.

“Quantos burocratas e funcionários eu tenho para cuidar de questões fiscais na nossa unidade nos Estados Unidos? Zero”, afirmou. “No Brasil, eu tenho 130 burocratas para fazer papelada para o Fisco. Não adiciono qualidade, só me encareço.”

Em linha com essa visão, Gebara, por sua vez, ressaltou como o tema impacta o mercado de telecomunicações, ao observar que o volume somado de impostos pago atualmente pelo setor excede o patamar de 30%. Algo que se estende a outros elos dessa cadeia. Entre eles, o consumidor.

“Seja em serviço ou no dispositivo, nós também pagamos muito imposto”, afirmou Gebara. “Então, o 5G chegou a um índice de cobertura de 70% no País. Só que a penetração do smartphone 5G na nossa base de clientes é próxima de 24%, porque as pessoas não têm poder aquisitivo para comprar um aparelho.”

Na conexão com esse tema, Gerdau destacou o fato de o País ter estacionado no mesmo nível de renda per capita há 30 anos. Em particular, fora dos grandes centros. E, ao apontar a educação como um dos pontos-chave para resolver esse problema, ele citou outro dado alarmante.

“Nós vivemos num país que ainda tem 29,5% de analfabetos funcionais. Como vamos avançar assim?”, questionou Gerdau. “Especialmente quando se pensa que estamos entrando numa esfera do cenário de competitividade global pela inteligência artificial.”

Gebara engrossou esse coro. “Nós também temos analfabetos digitais”, afirmou o CEO da Vivo. “O Brasil muitas vezes se vangloria de ser o quinto país com mais pessoas conectadas a redes sociais. Mas 50% da população não sabe funções básicas de informática, como mandar um e-mail com anexo.”

Ao frisar que a evolução dessa tecnologia só está ampliando a distância do Brasil em relação a outros países, o executivo destacou, em contrapartida, que esse cenário também abre oportunidades para que o País encurte essas lacunas competitivas. Desde que haja investimentos para isso.

“O ensino médio deveria ter cursos técnicos para desenvolver programadores e cientistas de dados”, disse Gebara. “Já temos um déficit estimado de mais de 530 mil vagas para preencher essas posições. E a inteligência artificial, na minha opinião, vai trazer um gap ainda maior.”