A força que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou em popularidade nos últimos meses levou muitos a considerar que a direita perdeu a chance de retomar o Palácio do Planalto em 2026.
Mas, para Gilberto Kassab, secretário de Governo e Relações Institucionais de São Paulo e presidente do PSD, e Andrei Roman, fundador e CEO da AtlasIntel, a vitória do presidente argentino Javier Milei na eleição parlamentar de meio de mandato, no domingo, 26 de outubro, mostra que o jogo ainda está aberto.
“Na Argentina, há um mês, a posição do presidente Milei era uma, e 30 dias depois mudou completamente”, disse Kassab na manhã de terça-feira, 28 de outubro, em painel do NeoConference 2025. “A situação pode se reverter.”
Ele destacou que a oposição sofreu nos últimos meses devido aos erros na condução do tema do tarifaço, enquanto o governo conseguiu capitalizar a situação e reforçar o discurso de defesa da soberania nacional.
A oposição, por sua vez, viu a imagem de pró-tarifas se consolidar, em parte pela atuação de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, assumindo a responsabilidade pela situação.
“Ele trouxe um desgaste muito grande, do qual a oposição ainda não se recuperou. Para piorar, Trump se acertou com Lula — o que foi um revés para quem dizia que Trump iria confrontar Lula e o Brasil”, disse Kassab.
Apesar disso, o presidente do PSD afirmou que a distância entre Lula e os candidatos da oposição não é irreversível. No segundo turno, o candidato oposicionista, seja quem for, tende a unir o eleitorado.
“A situação, seja do governador Tarcísio de Freitas ou de outros postulantes, pode se reverter”, disse ele no evento do NeoFeed. “E quando esse candidato unir todos, terá um piso de 45% dos votos.”
Ele acrescentou que esse candidato deve contar com o apoio dos palanques regionais, com o trabalho dos governadores do Sul, Sudeste e Centro-Oeste — em sua maioria de centro e direita — voltado à reeleição ou à eleição de seus sucessores.
A grande questão é a falta de visibilidade sobre quem será esse candidato. Apesar de ainda faltarem 11 meses para a eleição, o nome que enfrentará Lula precisa ser construído desde já, segundo Roman.
Para o fundador e CEO da AtlasIntel, o tempo que a oposição gastou defendendo Bolsonaro no julgamento da tentativa de golpe de Estado atrasou a formação desse candidato, que precisará se equilibrar entre o centro e a direita.
Nesse contexto, quem mais se prejudicou foi o governador de São Paulo, por não ter se postulado claramente ao cargo e por ter feito muitos acenos à base bolsonarista, o que afetou sua imagem entre os eleitores moderados. Segundo Kassab, neste momento, Tarcísio não é candidato à Presidência.

“Tarcísio estava num momento extremamente favorável há dois anos, sendo o político mais popular do país, com pesquisas indicando vitória no segundo turno com até cinco pontos de vantagem. Mas essa não é mais sua situação”, disse Roman.
Além da indefinição sobre o candidato, Roman afirmou que a direita precisa encontrar formas de “entusiasmar” o eleitorado, como ocorreu na Argentina.
“Lá, houve mobilização da direita, apostando no medo do que poderia acontecer se a esquerda voltasse ao poder”, disse ele. “O entusiasmo pode vir de diferentes frentes: um outsider com novas propostas, elementos de medo. Falta entusiasmo à direita.”
E Lula e o PT?
Se a direita precisa se unir e definir um nome, Lula tem o desafio de manter e ampliar o apoio conquistado com sua postura diante do tarifaço.
Roman destacou que o presidente precisa preservar o apoio no Nordeste — região que compensou o menor desempenho no Sul e Sudeste — e que já não demonstra o mesmo alinhamento de antes.
Questões como segurança pública, baixa popularidade dos governadores de esquerda e o menor receio da população de perder programas sociais com um presidente de direita pesam contra Lula. “Lula está perdendo força no Nordeste e precisará buscar mais apoio no Sul e Sudeste”, disse Roman.
Outra lição das eleições argentinas é que o público está mais receptivo a uma agenda liberal, segundo Kassab, fortalecendo temas como controle de gastos.
“A Argentina deu uma sinalização importante, com o povo compreendendo e aceitando o sacrifício imposto pelo governo. Isso fortalece o discurso liberal e da centro-direita, ao lado de temas como segurança e moralidade”, afirmou ele.
Kassab e Roman reconheceram que a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais é um trunfo para o governo Lula, ao conquistar simpatia da classe C, que havia migrado para o bolsonarismo.
Mas, para vencer, tanto Lula como a oposição precisarão conquistar os votos dos eleitores moderados.
“O centro sempre definiu as eleições. Lula venceu pela primeira vez com José Alencar; Dilma com Temer. Bolsonaro venceu quando o PT perdeu o centro, mas não percebeu. E Lula voltou ao poder com Alckmin”, disse Kassab.
“Nesta eleição, a disputa será pelo centro. Para vencer, a oposição precisa somar centro e direita”, complementou.