Brasília - Pouco depois das 8 horas da manhã de quinta-feira, 28 de agosto, toda a imprensa nacional recebeu uma convocação para uma coletiva de imprensa que aconteceria dentro de três horas nas salas modulares do Palácio da Justiça.

A ideia era detalhar o que estava mexendo com o centro financeiro do País: carros da Política Federal cumpriam, desde as primeiras horas do dia, mandados de busca e apreensão na Faria Lima, em São Paulo. Em Brasília, foi preciso criar uma operação para a comunicação dentro dessa ação policial.

O governo Lula convocou o alto escalão da Esplanada para detalhar a operação contra o crime organizado, a partir do PCC, no setor de combustíveis e de empresas do mercado financeiro. Estavam presentes o ministro da Fazenda, Fernando Haddad; o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski; e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, entre outros.

Os números eram grandiosos. Foram bloqueados 40 fundos de investimentos e expedidos 350 alvos de mandados de busca e apreensão, entre pessoas físicas e jurídicas, incluindo fintechs e postos de combustíveis em 10 estados.

Rodrigues detalhou que a operação apreendeu 141 veículos e sequestrou de 192 imóveis e 2 embarcações. E se chegou a 41 pessoas físicas envolvidas, 255 pessoas jurídicas e bloqueio de mais de R$ 1 bilhão.

Mas algo não saiu como o esperado. A Polícia Federal trabalha com a possibilidade de vazamento e deve abrir uma investigação própria. Dos 14 mandados de prisão, apenas seis foram efetivados, porque as pessoas não foram encontradas. A operação desta manhã contou com a participação de mil policiais e servidores da Receita Federal.

Os alvos presos foram Ítalo Belon Neto e Gerson Lemes, empresários do setor de combustíveis; João Chaves Melchior, ex-policial civil; Rafael Bronzatti Belon, dono da empresa Tycoon Technology e do banco digital Zeit Bank; Thiago Augusto de Carvalho Ramos, empresário do setor de combustíveis de Curitiba; e Rafael Renard Gineste, sócio da F2 Holding Investimentos, também no Paraná

Não foram encontrados e se encontram foragidos Mohamad Hussein Mourad,  apontado como cabeça da organização; Roberto Augusto Leme da Silva, considerado o segundo da organização; Daniel Dias Lopes, com ligação com distribuidoras; Miriam Favero Lopes, sócia de empresas ligadas às fraudes; Felipe Renan Jacobs e Renato Renard Gineste, empresários do setor de combustíveis; Rodrigo Renard Gineste, do ramo de roupas; e Celso Leite Soares, usineiro de São Paulo.

Na Faria Lima, a operação da PF envolveu 42 alvos. Entre os nomes, a gestora Reag, de João Carlos Mansur, que teve um crescimento explosivo nos últimos anos. Outro investigado é o BK Bank, que, de acordo com as autoridades, registrou R$ 17,7 bilhões em movimentações financeiras consideradas suspeitas. Foram alvo de busca e apreensão também as administradoras de recursos Trustee DTVM e Banvox, que têm como sócios Maurício Quadrado, ex-sócio do Banco Master.

Haddad disse que o sistema é sofisticado e envolve uma capilaridade, mas que a força-tarefa é a forma de estrangular o crime organizado. “Não é uma simples apuração. E só é possível com integração e coordenação, não é apenas prender pessoas, que às vezes são apenas a ponta do sistema”, disse Haddad.

Essa megaoperação é fruto de três investigações: Carbono Oculto, do Ministério Público; e Quasar e Tank, da Polícia Federal. Ela foi iniciada a partir de autuações da Receita Federal, que acabaram levando a Polícia Federal a atuar contra o grupo criminoso PCC.

Para se ter uma ideia da dimensão do esquema, apenas uma das fintechs movimentou R$ 46 bilhões por baixo do radar da própria Receita entre 2020 e 2024. O governo fez questão de dizer que, apesar dos números, a contaminação no sistema financeiro é pontual.

Segundo a Receita, o esquema contava com o apoio de criminosos infiltrados no mercado financeiro de São Paulo, principalmente na Faria Lima. O objetivo era de ocultar patrimônio e lavar dinheiro, a partir de fundos com um único cotista, criando camadas em empreendimentos.

“Uma operação desta envergadura só pode ser levada a cabo pelo governo, uma visão macro que se espraia por mais mais de 10 estados brasileiros”, disse Lewandowski, que defendeu a PEC da Segurança, que está em tramitação no Congresso.

As empresas investigadas na operação financiavam importadoras para a compra hidrocarbonetos e diesel com dinheiro de organizações criminosas. Depois os produtos eram vendidos aos mais de mil postos de combustíveis nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas, Tocantins, Bahia, Paraná e Piauí.

A Receita iniciou as investigações a partir do baixo recolhimento de impostos diante do tamanho das atividades dessas empresas. A estimativa é que o esquema criminoso sonegou mais de R$ 7,6 bilhões em impostos federais, estaduais e municipais. A partir daí, a Polícia Federal iniciou a busca por operadores, chegando a integrantes do PCC, que usavam o esquema para lavar dinheiro.

A Receita bloqueou R$ 1,2 bilhão em atuações fiscais. Na coletiva de imprensa, em Brasília, a Polícia Federal disse que o PCC controlou 40 fundos de investimentos, que serviram para financiar quatro usinas de álcool, um terminal portuário, 1.600 caminhões e mais de 100 imóveis incluindo fazendas.

No fim da coletiva de imprensa, Haddad disse que a Receita vai aumentar o monitoramento sobre as fintechs. A ideia é elevá-las a um status de instituições financeiras.

“A partir de amanhã (sexta, 29) elas terão que cumprir rigorosamente as mesmas obrigações que os grandes bancos. Porque, com isso, aumenta o potencial de fiscalização da Receita e da Polícia Federal para chegar nos sofisticados esquemas de lavagem de dinheiro que o crime organizado tem utilizado.”