Poucos programas são tão onipresentes na área financeira como o Excel. Mas o empreendedor Guilherme Pessoa depois de ver a dificuldade que empresas tinham para conciliar informações financeiras de forma manual resolveu criar uma plataforma para substituir a planilha eletrônica da Microsoft.

Em 2018, ele fundou a Dattos e desenvolveu uma plataforma de análise financeira que automatiza boa parte dos processos de planejamento e gestão financeira de uma empresa, como fluxo de caixa, DREs e conciliação.

Na prática, a solução da Dattos permite que um analista financeiro automatize os processos financeiros, integrando dados de diversas plataformas, que podem ser arquivos, sistemas e APIs. “Substituímos o Excel em vários processos”, diz Pessoa, ao NeoFeed.

Agora, a Dattos acaba de captar R$ 20 milhões em uma rodada série A liderada pela Igah Ventures e seguida pela ABSeed Ventures, no primeiro investimento conjunto das gestoras dos irmãos Pedro Melzer e Geraldo Melzer, respectivamente. Os fundos Investtech e GR8 Ventures, que entraram no estágio seed, seguiram o aporte.

“Este é o momento certo para construir portfólio e fazer novos investimentos”, afirma Camila Sangali, sócia da Igah Ventures. “Seguimos vendo bons projetos e, agora, com preços de entrada mais justos.”

Com aproximadamente 100 clientes, que incluem nomes como BTG Pactual, iFood e Nubank, a Dattos construiu um portfólio de empresas que, em sua maioria, faturam mais de R$ 300 milhões. “E existem mais de 200 mil empresas que faturam entre R$ 50 milhões e R$ 300 milhões e quase 50 mil com receita entre R$ 300 milhões e R$ 1 bihão no Brasil”, diz Sangali. “Há muito espaço para crescimento, além do fato de a startup estar inserida em um mercado grande.”

Para se ter uma ideia, esse mercado é estimado pelas gestoras de venture capital que investiram na Dattos em R$ 28 bilhões no Brasil. "E sob a ótica global, pode ser ainda maior", diz Geraldo Melzer, da ABSeed Ventres. "A Blackline, que é comparável a Dattos, vale US$ 4,1 bilhões na Nasdaq e a OneStream foi avaliada em US$ 6 bilhões em sua última rodada em 2021."

O dinheiro do aporte será usado no crescimento da equipe. Em 2022, a startup saltou de 20 para 60 funcionários. Hoje, já são 70. A previsão é chegar ao fim deste ano com até 120 funcionários.

A maioria das contratações deve ser na área de tecnologia. Um dos motivos é que a Dattos planeja lançar, no segundo trimestre deste ano, uma nova funcionalidade 100% no code em sua plataforma.

Entre as novidades que serão contempladas pela nova ferramenta estão a automação de relatórios, a integração de sistemas, demonstrações financeiras (DRE e balanço patrimonial), consolidação de informações de planilhas e fluxo de caixa projetado.

A Dattos pretende também desenvolver um programa de canais para que consultorias e auditorias possam vender a sua solução. A meta é conquistar até 10 parceiros em 2023 – hoje, 100% da venda é própria.

Outro projeto é criar um marketplace de análises financeiras para que as empresas possam automatizar seus fluxos financeiros comprando “fórmulas” prontas feitas na plataforma da Dattos. “Um parceiro pode criar um processo financeiro na nossa plataforma e receber se ele for usado por outra empresa”, explica Pessoa.

O modelo de negócios da Dattos é um SaaS (Software as a Service). A empresa paga um fee mínimo, que aumenta à medida que vai automatizando cada vez mais seus processos financeiros. De acordo com Pessoa, 90% da receita é recorrente.

Antes do aporte, a Dattos era lucrativa. A startup usou os recursos da captação seed feita com a Investtech e GR8 Ventures para testar a máquina de vendas e desenvolver o produto. Mas conseguiu gerar caixa e se manter até então no azul.

Pessoa, no entanto, chegou à conclusão que para acelerar o crescimento iria precisar ir ao mercado em busca de capital. A decisão de procurar um aporte aconteceu no ano passado, em meio a maré baixa dos fundos de venture capital.

Na época em que resolveu buscar uma captação, Pessoa contratou Luiz Fialho, que trabalhou na Ace e tinha experiência em M&A e venture capital, CFO. Ele também ajudou a organizar e a estruturar a rodada. De acordo com Pessoa, a rodada séria A foi oversubscribed, mas pé no chão, diante do novo cenário do mercado de VC.

“Muita gente desencorajou, mas acredito que era o timing, pois estávamos no azul e precisávamos crescer em ritmo acelerado”, diz Pessoa, que é um empreendedor de segunda viagem. Ele já vendeu uma startup que fundou, a Confere Cartões, um software de conciliação de fluxo de caixa e agregação de dados financeiros, para a Cloudwalk, em 2019.