Fundada em 2017, em São Francisco, pelos brasileiros Henrique Dubugras e Pedro Franceschi, a Brex teve, desde então, uma ascensão meteórica, até mesmo para os padrões do Vale do Silício, ao fornecer, sem burocracia, um cartão de crédito para startups.
Sob esse modelo, a fintech atraiu clientes como o Airbnb e captou US$ 732 milhões junto a nomes como Credit Suisse, Barclays, Ribbit Capital e Y Combinator. No último aporte, anunciado em 19 de maio e liderado pelo DST Global, mais de US$ 150 milhões entraram na conta da startup, que foi avaliada em US$ 3 bilhões - o valor anterior era da US$ 2,6 bilhões.
Com a mesma velocidade que se tornou uma das meninas dos olhos da indústria de venture capital, a Brex começa, no entanto, a dar sinais de que o crescimento exponencial vai desacelerar. Apenas dez dias depois de captar mais uma rodada de investimentos, a fintech promoveu cortes em sua equipe.
Em 29 de maio, a Brex anunciou a demissão de 62 pessoas, cerca de 17% do quadro de pouco mais de 400 funcionários. Entre os que deixaram a empresa estavam profissionais recém-contratados, como o diretor de operações Paul-Henri Ferrand, ex-Google e Dell, e outros executivos do alto escalão da operação.
“Após três meses, fica claro que o impacto da Covid-19 não terá vida curta. Sabemos que o ritmo de crescimento não será o que esperávamos”, escreveram Dubugras e Franceschi, em comunicado direcionado à equipe, naquela data. “Hoje, estamos reestruturando a empresa para alinhar melhor nossas prioridades a essa nova realidade.”
Uma reportagem publicada pelo site americano Business Insider, que cita ex-funcionários e profissionais que ainda trabalham na Brex, destaca, no entanto, que essa nova realidade da empresa não está ligada apenas aos efeitos da pandemia.
Nos bastidores, a lista de motivos é longa. Ela passa pelo fato de que a startup teria colocado executivos jovens e inexperientes em cargos de gestão, para os quais eles não estavam preparados.
A falta de abertura dos executivos para as sugestões das equipes é mais um problema, segundo as fontes, bem como uma cultura que não incentiva a interação entre os profissionais da startup.
O pacote passa ainda por outras questões. Como o estímulo às disputas internas, a ausência de um executivo dedicado ao comando da área de risco e o cronograma pesado, agressivo e desordenado de lançamentos de produtos, sem integração entre as áreas da fintech.
De acordo com as fontes, os impactos desse contexto começaram a ser sentidos mais fortemente a partir deste ano, quando a Brex passou a não atingir as metas mensais de volume bruto de mercadorias (GMV, na sigla em inglês). Esse é um indicador fundamental para a empresa, já que traduz o valor transacionado por sua plataforma. Até então, apesar dos problemas, a startup não falhava nesse ponto.
O início do ano também foi marcado pela alta rotatividade na equipe, depois de a empresa quadruplicar seu quadro em 2019. Já em meados de março, a Brex congelou as contratações em áreas como finanças, jurídico e recursos humanos.
Em abril, com o avanço da Covid-19, a fintech também reduziu os limites de crédito para os seus clientes, o que provocou uma reação negativa de boa parte dessa base. Publicamente, no entanto, a Brex mantinha a posição de que não havia problemas na operação.
Essa mensagem era reforçada internamente, com os executivos destacando que a empresa tinha muito caixa disponível para enfrentar a crise. E que não havia planos de demissões.
Apesar de a empresa ter seguido o caminho contrário um mês depois e de todos os problemas citados, as fontes ouvidas têm, em sua maioria, uma visão positiva sobre a dupla de empreendedores brasileiros. E ressaltam apenas a juventude e experiência como pontos de atenção, mas que podem ser superados. O mesmo poderia ser aplicado à cultura da empresa.
Uma dessas fontes, porém, acrescenta. "A empresa terá um problema contínuo de retenção se não começar a equilibrar a liderança das pessoas com a execução."