Ao longo dos últimos anos, a Bossanova Investimentos montou uma carteira com mais de 1,5 mil startups. Agora, parece ter chegado a hora de acelerar também os desinvestimentos. “A temporada de early exits começou”, diz João Kepler, CEO e cofundador da Bossanova Investimentos ao lado de Pierre Schurmann, em entrevista ao NeoFeed.
Nos últimos 60 dias, a gestora realizou sete saídas de investimentos com vendas das suas participações nas startups. Na gestora de venture capital, a previsão é para que sejam realizadas pelo menos 45 saídas de negócios neste ano.
Nos primeiros cinco meses deste ano, já foram nove negócios desinvestidos com vendas para terceiros – além de outros nos quais a participação foi recomprada pelos fundadores. Para efeito de comparação, a Bossanova realizou 33 saídas no ano passado e apenas 25 em 2021.
“As empresas estão observando que este é um bom momento para se aproveitar de barganhas para conseguir bons negócios”, diz Antônio Patrus, diretor da Bossanova. “O setor de venture capital se mostra resiliente e responsivo ao ambiente macroeconômico.”
As saídas acontecem em um momento em que o Copom começa a dar indicações que poderá abaixar a Selic, atualmente em 13,75%, nos próximos meses. "A gente não trabalha em relação à Selic", diz Kepler. "Se você tem um fundamento bem definido de saída, não importa se a Selic está alta ou baixa."
No caso da Bossanova, a gestora fica, em média, três anos, na base de acionista de uma empresa, de acordo com Patrus. A média do setor, segundo ele, é de sete anos do investimento até a saída.
Para identificar os negócios que já estão prontos para serem desinvestidos, a Bossanova tem dentro de seu negócio uma área especializada em M&As para fazer a prospecção das vendas. "Se a startup bate R$ 70 milhões de valuation, a gente já quer vender", diz Kepler. "Mas é claro que isso não é uma regra fixa."
Entre os desinvestimentos anunciados nas últimas semanas, a gestora deixou de ser sócia das startups Medei, SS Telemática, CleanCloud, Becon e DeuBom. O destaque vai para a Medei, startup de recursos humanos que teve a participação da gestora comprada pela LG Informática, que rendeu um retorno de mais de 30 vezes o investimento, segundo a Bossanova.
Por outro lado, nem todos os negócios atingem retornos tão altos. Nesta última leva, a DeuBom, por exemplo, “deu ruim”. Após cinco anos na carteira da Bossanova, a startup que conecta clientes e comerciantes teve sua operação vendida para a empresa de marketing NonStop. Neste caso, o "retorno" foi o mesmo valor investido.
Em média, a Bossanova informa que sua taxa média de retorno é de 5,6 vezes o valor investido – que na média fica em R$ 450 mil e com cheques que podem chegar a até R$ 2 milhões. Segundo a gestora, a taxa média no Brasil é de 4,4 vezes. No total, já foram feitas 90 saídas nos últimos sete anos de operação.
“A gente não compete com as firmas de venture capital tradicionais, mas procuramos fazer uma coopetição com esses investidores para originar negócios”, diz Kepler. “A Bossanova hoje tem centenas de startups no que chamamos de um “aquário cheio de peixes” e que interessa a compradoras estratégicos.”
Na outra ponta do negócio, a gestora informa que mesmo com um aumento no ritmo de saídas, a companhia continua trazendo novas startups para sua carteira. Em média, cerca de oito startups são investidas por mês. Em janeiro deste ano, houve um acordo para que fossem feitos investimentos também em Israel.