A Bossanova Investimentos está ampliando o seu radar em busca de novos negócios. Depois de investir em mais de 1,6 mil startups do Brasil, América Latina e Estados Unidos, a gestora comandada por João Kepler agora está de olho no mercado israelense – berço de negócios como Waze, Wix e Moovit.

Nesse roteiro, a Bossanova firmou uma parceria com a OurCrowd, gestora fundada em 2013 e cuja carteira de investimentos soma mais de US$ 2 bilhões, com um portfólio de 350 startups. O acordo entre as duas gestoras envolve um investimento de R$ 10 milhões, que será destinado a diferentes fundos da investidora israelense.

“Os investimentos feitos por lá são muito focados em produto e desenvolvimento e em alta tecnologia, é diferente do que vemos aqui no Brasil”, diz João Kepler, fundador e CEO da Bossanova Investimentos, ao NeoFeed. “Em relação à OurCrowd, o processo de seleção e curadoria e a ideia de investir em diferentes rodadas nos motivou a criar essa parceria.”

A Bossanova já captou cerca da metade do valor total a ser investido e a captação deve ser concluída até o fim de fevereiro. A maior parte do dinheiro vem de investidores-anjos, mas também há recursos de family offices e corporações. Os nomes são mantidos em sigilo.

O movimento ocorre apenas algumas semanas depois de a gestora ampliar seu time de investidores. No fim do ano passado, a gestora brasileira passou a ser investida pelo empresário Flávio Augusto, da Wiser, holding de educação que no ano passado tinha previsão de faturamento próxima de R$ 500 milhões.

Com o dinheiro destinado para essa parceria, o portfólio de startups na carteira da Bossanova poderá ganhar mais 90 companhias. Esse é o número máximo de investimentos que a OurCrowd espera fazer nos próximos anos com os fundos que receberão a injeção de capital da gestora comandada por Kepler.

Do valor destinado para a gestora israelense, uma fatia de R$ 8 milhões será dividida em três fundos de investimento gerenciados pela OurCrowd: um voltado a foodtechs, outro para cibersegurança e um terceiro mais diversificado. Os fundos mais específicos farão até 20 investimentos cada um, enquanto o veículo mais agnóstico poderá aportar até 50 empresas.

O restante do dinheiro será destinado a single deals em startups de áreas como mobilidade, saúde, fintechs, entre outras. “É um montante destinado para negócios promissores em diferentes áreas e que pode envolver aportes em diferentes rodadas dessas operações”, diz Tiago Fabris, diretor de receita da Bossanova.

Apesar de ser mais ativa em Israel, a OurCrowd já investiu em negócios de mercados como Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Índia, Hong Kong, Cingapura e Austrália. Isso permitiu que a gestora apoiasse empresas que cresceram consideravelmente, como Beyond Meat e Lemonade, que abriram capital posteriormente, e a Jump Bikes, comprada pela Uber.

Mesmo com o dinheiro brasileiro, a seleção das empresas que serão investidas será feita inteiramente pela OurCrowd. Nesse caso, a Bossanova apenas fez o direcionamento para os fundos que pretendia capitalizar. Isso não significa, contudo, que o papel da gestora brasileira será o de um sócio silencioso nos negócios.

De acordo com Kepler, após os aportes serem realizados, o segundo passo será analisar a possibilidade de firmar parcerias entre essas empresas e startups brasileiras já investidas pela Bossanova. “São negócios que não foram criados para o mercado de Israel, mas para o mundo”, afirma.

A possibilidade de entrar em negócios em rodadas mais avançadas se torna um atrativo para a operação brasileira, pelo fato de a Bossanova focar seus investimentos no early stage, preferencialmente em rodadas seed e pré-seed, e com cheques que costumam ficar abaixo de R$ 500 mil.

Na tese de investimentos, o foco está startups com negócios voltados ao B2B ou ao B2B2C. Negócios que atuam em modelo software-as-a-service também atraem a atenção da empresa de capital de risco. Outros filtros: faturamento mensal de pelo menos R$ 30 mil e a possibilidade de realizar desinvestimentos com múltiplos de 10 vezes.

Por ora, a Bossanova já saiu de 85 negócios, mas não revela qual o múltiplo médio que obteve com a venda de suas participações. Entre os principais investimentos já realizados pela gestora desde sua fundação estão aportes em startups como a edutech Sambatech e a martech RankMyApp.

A Bossanova não é a única apostando no mercado israelense. A lista de investidores brasileiros conta com a gestora Mindset Ventures, que tem como sócios Daniel Ibri, Camila Potenza e Nemer Rahal, e o Kortex Ventures, o fundo de corporate venture capital criado pela Fleury em parceria com a rede de laboratórios Sabin.

No caso da Mindset Ventures, o investimento em startups de Israel é algo intrínseco na tese de investimento da gestora, que olha apenas para startups desse mercado e dos Estados Unidos. A estratégia não deve mudar para o quarto fundo de investimentos, lançado no ano passado, de US$ 100 milhões, e que está em processo de captação.

Já a Kortex Ventures estreou no mercado de corporate venture capital justamente com um investimento em uma startup de Israel. Em 2021, o NeoFeed noticiou com exclusividade um aporte na operação da Sweetch, startup israelense que desenvolveu um aplicativo que usa inteligência artificial para ajudar pacientes crônicos.