Foi em uma viagem para Nova York, ainda em 2019, que o empresário Christian de Cico conheceu os sócios da Riverwood Capital, gestora de growth capital que já investiu em empresas como 99, RD Station e Vtex.
Dois anos se passaram desde o encontro ocorrido por acaso na Big Apple e agora a Riverwood lidera uma rodada na Arquivei, startup brasileira fundada por Christian, que faz a gestão de notas fiscais eletrônicas.
A Arquivei acaba de captar R$ 260 milhões numa rodada de Serie B que tem como investidores, além da Riverwood, gigantes do mercado de venture capital como Constellation, NXTP e Endeavor Catalyst, além também do Internacional Finance Corporation, braço de investimento privado do Banco Mundial.
“Na época que a gente se conheceu, a Riverwood demonstrou interesse na nossa tese de negócios. Mas eles só investem em empresas num estágio mais robusto”, diz Christian ao NeoFeed. “E não adiantava a gente captar dinheiro que não iríamos utilizar. Precisávamos chegar num momento que fizesse sentido para buscar um aporte deste tamanho.”
O momento chegou e o dinheiro deve ser utilizado para expandir a operação, que já é responsável por gerenciar mais de R$ 1 trilhão em notas fiscais e prevê triplicar esse número em 2022, para a vertical de serviços financeiros. Isso deve ser acelerado a partir de aquisições. Ao menos quatro empresas estão na mira.
Essa é a terceira grande captação da Arquivei desde a sua fundação, em 2013. Antes da rodada atual, a startup já havia levantado R$ 10 milhões com a Monashees, em uma rodada seed em 2016 – o que propiciou que a operação escalasse o foco de pequenas para médias empresas.
Outros R$ 17 milhões vieram, em 2019, numa rodada de Serie A capitaneada pela Valor Capital e pela Igah Ventures. Dessa vez, o dinheiro permitiu que o negócio atingisse também empresas de grande porte, como McDonald’s e C&A.
Fundada por Christian, Vitor de Araujo, Isis Abbud e Bruno Oliveira, a Arquivei fornece uma plataforma de gestão e compliance de recibos financeiros, principalmente notas fiscais eletrônicas.
“A gente compila as informações que estão nessas notas e democratiza as informações. As empresas não precisam das notas, mas sim dos dados que estão em cada uma delas”, explica Christian.
Por exemplo: o setor financeiro de uma companhia precisa saber a data de pagamento para um determinado boleto. Já o almoxarifado precisa da nota para conferir se um produto descrito é o mesmo que está em estoque.
“A organização das notas fiscais é um processo interno de cada empresa e que necessita de um sistema contábil para fazer isso. Se for uma empresa de um porte maior, é preciso que exista um software para fazer essa gestão da melhor forma possível, principalmente para centralizar o que é feito em diferentes filiais”, diz Ricardo Teixeira, coordenador do MBA em Gestão Financeira da Fundação Getulio Vargas.
Com crescimento de três dígitos por ano e 250 funcionários (número que deve chegar em 400 no ano que vem), a Arquivei hoje soma 15 mil clientes e 100 mil CNPJs atendidos, o que a consolida como uma protagonista no setor contábil. A diferença nos números se dá porque algumas empresas, como o McDonald’s, por exemplo, possuem milhares de lojas, cada uma com seu próprio número de registro.
De acordo com dados da própria startup, a companhia é responsável por tramitar 13% de todas as notas fiscais eletrônicas emitidas no Brasil e 15% de todos os recibos de Conhecimento de Transporte Eletrônico (CTes) – utilizados para movimentar mercadorias dentro do país.
Uma das explicações para este crescimento está na transformação digital do setor contábil. “O Brasil está avançando rapidamente na digitalização em diferentes setores. Ainda que exista muita burocracia, até por questões culturais, há pontos no sistema fiscal, por exemplo, que são dos mais avançados no mundo”, diz Teixeira. Ele cita, como exemplo, os avanços do PIX e do Open Banking.
Mais produtos no portfólio
O dinheiro captado pela Arquivei deve ajudar a companhia a prospectar mais clientes para a fazer a gestão de notas, mas os planos da companhia envolvem o crescimento além dos números. A ideia é expandir o modelo de negócios para que a companhia atue também na área de serviços financeiros, tornando-a uma espécie de Mercado Pago do B2B.
Christian explica que a intenção é fazer com que a Arquivei possa gerenciar também os pagamentos realizados para empresas com seus fornecedores. “É quase o modelo do Mercado Pago, em que a empresa surgiu para ser a última ponta da operação financeira do Mercado Livre. A gente quer fazer isso num modelo voltado para empresas”, diz o empresário.
Com a estratégia, a startup aumentaria suas fontes de receita. No modelo atual em que opera, a Arquivei ganha dinheiro com o pagamento de uma mensalidade para fornecimento de sua plataforma de gestão das notas.
Os planos variam de R$ 39, o básico, até a partir de R$ 249 no business. Grandes clientes, com operações mais complexas, chegam a pagar mais de R$ 100 mil por mês.
A nova estratégia, que será colocada em prática no ano que vem, permite que a companhia ganhe um percentual a cada transação efetuada dentro de sua plataforma, como o serviço financeiro do MercadoLivre.
A companhia não revela dados de receita, mas diz que a maior parte ainda vem das operações de pequeno e médio porte. Com o tempo, a previsão de crescimento na operação voltada para gigantes da indústria deve igualar a receita.
"Estamos bem pulverizados, mas estamos caminhando para igualar os números”, diz Christian. Segundo ele, isso deve acontecer quando a Arquivei conseguir avançar em sua estratégia de criar um ecossistema de empresas, gerenciando os pagamentos.