A govtech Aprova Digital, uma startup que ajuda prefeituras a digitalizar boa parte de seus processos, está levantando R$ 22,5 milhões em uma rodada liderada pelo BB ASG, fundo de corporate venture capital do Banco do Brasil gerido pela Vox Capital, e pela Astella Investimentos, que já havia investido na startup.

O valor, pequeno se comparado a investimentos realizados em startups de outras verticais, é, no entanto, uma das maiores rodadas já feitas em uma govtech no Brasil, segundo levantamento realizado pela Sling Hub, uma espécie de Pitchbook da América Latina, a pedido do NeoFeed.

O dinheiro da rodada, que conta também com a participação do fundo Endeavor Scale-Up e do CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina), será usado para que a Aprova Digital desenvolva novas serviços a prefeituras e entre em pagamentos digitais.

“Conversei com diversos fundos e escolhi o Banco do Brasil por conta dessa sinergia com a área de pagamentos e o relacionamento com diversas prefeituras”, diz Marco Antonio Zanatta, fundador e CEO da Aprova Digital, ao NeoFeed. “Quero entrar no fluxo de pagamentos dos municípios.”

Fundada em 2017, em Cascavel (PR), a Aprova Digital já conta com 75 cidades como clientes. Entre elas, São Paulo, Florianópolis e João Pessoa. A meta, agora, é chegar a 200. A solução da govtech permite que as prefeituras digitalizem seus processos, reduzindo o papel e dando transparência a diversos processos.

Em São Paulo, por exemplo, o licenciamento de obras passa pelo sistema da Aprova Digital. Em Itajaí (SC), a plataforma da govtech ajuda desde a abertura de empresas até o processo admissional de servidores públicos. “Cada prefeitura inclui os seus parâmetros e passa a ter transparência e celeridade na aprovação de processos que eram lentos e cheios de papel”, afirma Zanatta.

De acordo com estimativas da govtech, o seu sistema já ajudou as prefeituras a economizarem mais de 300 mil toneladas de papel e R$ 50 milhões. Atualmente, cerca de 21 milhões de brasileiros em suas cidades têm acesso a serviços governamentais através da plataforma da Aprova Digital.

Para entrar em uma prefeitura, a Aprova Digital precisa participar de uma licitação, em um processo lento e que muitas vezes afasta empreendedores de criar startups focadas em atender o governo. Seu modelo de negócio inclui um valor pago por habitante de forma mensal pela prefeitura. O custo médio mensal é de R$ 0,20 por habitante – os valores dependem dos módulos e da licitação.

“A Aprova Digital permite serviços de melhor qualidade para a população e com um potencial de escala interessante”, diz Marcos Olmos, sócio da Vox Capital e que faz a gestão do fundo BB ASG. “Há uma intersecção muito grande com o Banco do Brasil.”

Tela da plataforma da Aprova Digital

A sinergia imediata, de acordo com Zanatta, é na área de pagamentos digitais, onde o Banco do Brasil é um dos acionistas da Cielo. Sem dar detalhes, o empreendedor acredita que pode automatizar de ponta a ponta pagamentos de taxas serviços públicos, bem como fornecer crédito para que cidadãos possam quitar dívidas e multas.

De acordo com Zanatta, a área de pagamentos pode aumentar o mercado endereçável da Aprova Digital. Ele estima que só as taxas cobradas por prefeituras movimentem R$ 20 bilhões por ano. A dívida ativa municipal supera os R$ 150 bilhões. Todas as 5.570 prefeituras do Brasil têm um orçamento somado de mais de R$ 1 trilhão, segundo as contas de Zanatta.

Esse é o segundo aporte do BB ASG, um fundo de corporate venture de impacto e que investe em fintechs, govtechs e agtechs. O primeiro investimento, realizado há cerca de um mês, foi na Bitfy, uma fintech especializada em infraestrutura para operações com blockchain.

Zanatta, que é arquiteto de formação, teve a ideia de fundar a Aprova Digital por conta da dificuldade que tinha em seu trabalho para conseguir alvarás. “Eu protocolava o processo, mas não sabia quando seria aprovado”, diz o empreendedor.

Resolveu, então, conhecer melhor o mercado e descobriu que não havia sistemas que atuassem na digitalização desses processos. A maioria eram soluções antigas que “não conversavam com ninguém e não integravam com nada”. Contratou desenvolvedores e, segundo ele, desenhou todas as telas da plataforma.

“Ele (Zanatta) criou um sistema de workflow, que ajuda no dia a dia do trabalho do servidor público”, afirma Marcelo Sato, sócio da Astella Investimentos, a primeira gestora a apostar na Aprova Digital, em 2020. “Em meio à restrição orçamentária das prefeituras, a plataforma ajuda a dar mais produtividade aos funcionários.”

A ideia de entrar em pagamentos aconteceu quando Zanatta ouvia um podcast sobre bitcoin que discutia que, nos Estados Unidos, o cidadão fornece a conta bancária ao governo para o pagamento de impostos. “O CPF é a conta bancária”, afirma.

Por conta disso, ele começou a pesquisar o tema e observou que a interface de pagamentos de taxas e tributos é, segundo sua opinião, também muito ruim no Brasil. Foi então que começou a ter insights. “E se tivesse cartão ou eu emprestasse dinheiro para ele pagar a dívida e fazer negócio com o governo?”, questionou.

Agora, com o Banco do Brasil de sócio, o plano de Zanata é tirar do papel (literalmente) esse projeto.