No já aquecido mercado das fintechs, o segmento de crédito desponta como um dos principais campos de batalha. E para avançar nesse front, dois nomes do setor decidiram unir suas forças.
Nesta sexta-feira, 11 de março, as startups Bom Pra Crédito e Focus Financeira anunciam a fusão de suas operações. Com o acordo, as duas empresas passarão a operar sob uma holding que será comandada por Eduardo Dal Sasso Mendonça Cruz, sócio e membro do board da Focus.
“Enquanto tínhamos uma operação financeira constituída na Focus, havia um marketplace relevante do outro lado”, diz Cruz, em entrevista ao NeoFeed.
Cofundador e CEO da Bom pra Crédito, Ricardo Kalichsztein acrescenta: “Estamos juntando o poder de distribuição do marketplace com a robustez de uma instituição financeira para desenvolver novos produtos.”
Fundada em 2013 por Kalichsztein, Eduardo Braz eFelipe Lemos, a Bom Pra Crédito atua como um marketplace que conecta quem busca crédito a empresas do setor, fazendo simulações e facilitando a contratação por meio de uma plataforma digital.
Já a Focus Financeira, que opera, principalmente, com empréstimos pessoais, foi criada em 2020. A empresa é um spin-off da Focus Energia, companhia do setor elétrico que abriu capital no início de 2021 e que está avaliada em pouco mais de R$ 1 bilhão.
A fusão dessas histórias envolve a combinação e a conversão das ações das duas empresas em um novo ativo. Por ora, ainda não há uma definição se as duas marcas serão mantidas ou se a nova companhia irá operar sob uma nova identidade.
Certo mesmo é que o negócio nasce com 10 milhões de usuários ativos. A previsão é ampliar essa carteira para 16 milhões de clientes até o fim de 2023.
A partir da transação, outra meta é ter R$ 100 bilhões em solicitações de crédito, com um volume de R$ 3 bilhões de empréstimos liberados até 2023. Para efeito de comparação, a Bom Pra Crédito concedeu cerca de R$ 1,2 bilhão em crédito no ano passado.
O crescimento será impulsionado por uma gama de novos produtos. No radar, estão soluções de crédito consignado para servidores públicos e crédito com garantia em FGTS, além da criação de uma linha para financiamento educacional.
Como uma primeira ação conjunta, as empresas estão finalizando o desenvolvimento de um aplicativo que será lançado em breve, sob uma abordagem “one-stop-shop”, permitindo que o cliente tenha à disposição diferentes produtos de crédito.
Um dos diferenciais da plataforma será a possibilidade de ganhar dinheiro realizando os pagamentos das parcelas em dia. Quem não atrasar o pagamento das parcelas poderá concorrer a até R$ 10 mil – além de receber descontos e fugir de multas e juros de mora por atraso.
O prêmio é uma ideia da companhia para combater a inadimplência. “Com esse processo de gamificação, o cliente poderá concorrer a prêmios, não vai pagar juros e ainda vai estar economizando”, diz Leonardo Grapeia, CEO da Focus Financeira.
Dados do Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas, da Serasa, apontam que número de endividados no Brasil voltou a crescer, alcançando 64,8 milhões de pessoas em janeiro deste ano. É o maior volume desde abril de 2020, quando foram registrados 65,9 milhões de inadimplentes.
Para ganhar mais fôlego, a nova empresa estuda captar recursos no mercado privado. Vale lembrar que a Bom Pra Crédito já levantou R$ 63 milhões em aportes de investidores como Globo Ventures, fundo da família Marinho, Innova Capital e SP Ventures.
A associação entre Bom pra Crédito e Focus não é o primeiro movimento nesses moldes envolvendo fintechs brasileiras de crédito. Há um ano, a Geru e a Rebel uniram suas operações para criar a Open Co, que atua com empréstimos pessoais.
A partir dessa combinação, a Open Co já atraiu duas rodadas de investimento. A primeira, de R$ 150 milhões, veio menos de um mês depois da fusão e foi liderada pela International Finance Corporation (IFC), braço de investimentos do Banco Mundial.
Já o aporte mais recente foi anunciado em dezembro de 2021. Liderado pelo Softbank, o cheque de R$ 600 milhões contou com a participação de nomes como a LTS, veículo de investimentos de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, que já investia na operação.