Na crise de liquidez que culminou na derrocada da FTX, quem está arcando com as consequências é a Sequoia Capital, uma das mais respeitadas casas de venture capital do Vale do Silício.
Após investir US$ 150 milhões na exchange de Sam Bankman-Fried, a gestora americana que já apostou em Google, Apple e Airbnb em suas fases iniciais está, agora, pedindo desculpas aos investidores do fundo, em uma reviravolta que afeta a sua reputação.
A gestora fundada por Donald T. Valentine entrou em contato com investidores do fundo para explicar (e lamentar) as decisões que a levaram a investir na FTX, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto citadas pelo The Wall Street Journal.
Na teleconferência, os sócios da Sequoia Capital informaram aos investidores que a empresa de capital de risco vai melhorar seus processos de due diligence em aportes futuros. Neste sentido, um dos planos é ter demonstrações financeiras auditadas por grandes firmas de contabilidade de todas as investidas, até de startups em estágio inicial.
A medida vem em resposta ao fato de que a FTX usou firmas de auditorias menores para assinar as demonstrações financeiras de 2021. Esses documentos podem não ter revelado fielmente a saúde financeira do negócio.
De acordo com o que foi dito na teleconferência, os sócios da Sequoia teriam sido enganados por Sam Bankman-Fried, o fundador da FTX. A acusação é de que o empresário mentiu sobre as conexões da empresa com a Alameda Research, sua outra empresa.
O problema neste caso é que a FTX emprestou fundos de seus clientes para a Alameda Reseach. Esta, por sua vez, perdeu bilhões de dólares depois que os preços das criptomoedas despencaram no início de 2022.
O que também prejudicou a transparência foi o fato de que Bankman-Fried negou ceder assentos do conselho de administração da companhia para sócios da Sequoia e para outros acionistas no momento dos aportes. A justificativa do executivo era de que a companhia ainda era pequena demais para isso.
Raro, o mea culpa da Sequoia chama a atenção porque a gestora é conhecida no mercado por ter um padrão-ouro na hora de selecionar os investimentos. O problema é que, durante a alta do setor de criptomoedas em 2021, a Sequoia não teria tido o mesmo rigor na análise antes do aporte.
Não se sabe ao certo qual foi o nível de cautela que a Sequoia adotou para fazer o investimento na FTX. Até o começo de novembro, no entanto, a exchange havia redigido uma postagem em que afirmava que o investimento teria sido aprovado pela Sequoia após 48 horas da conclusão do memorando.
A rápida aprovação mostra que a relação entre Sequoia e FTX nem sempre foi conturbada. Até o começo deste mês, inclusive, a marca da exchange tinha um lugar de destaque no site da gestora. Além disso, sócios da Sequoia também estavam encantados com Bankman-Fried a ponto de enviarem mensagens internas dizendo “eu amo este fundador”.
A Sequoia é apenas uma das gestoras de venture capital que injetaram quase US$ 2 bilhões em aportes nas operações da FTX antes do colapso da exchange. Outros investidores conhecidos são Softbank, Insight Partners, Temasek Holdings e Tiger Global.