Em meio a um cenário em que as principais gestoras de venture capital estão mais cautelosas na hora de assinar um cheque, a gestora DXA resolveu adotar a tática de que o ataque é a melhor defesa.
"Ano bom ou ano ruim, você tem que investir", diz Oscar Decotelli, fundador e CEO da DXA Invest, em entrevista ao NeoFeed. Do discurso à prática, a gestora de private equity criada em 2012 pretende injetar R$ 200 milhões em startups neste ano.
Do total projetado para 2022, cerca de R$ 80 milhões já foram destinados a quatro aportes no primeiro semestre. Um deles, em fevereiro, com um cheque de R$ 20 milhões na operação da Rizi Dental Care, healthcare que atua no mercado odontológico.
Entre outros investimentos realizados, ganham destaque a fabricante de laticínios plant-based NoMoo, que recentemente expandiu sua operação para a Ásia; a Green People, que fabrica sucos e snacks naturais; e a Modern Logistics, companhia aérea de carga que conta com uma frota própria.
Nos próximos seis meses, a DXA, que tem R$ 1 bilhão de ativos sob gestão, prevê entre cinco e dez aportes com cheques que variam entre R$ 10 milhões e R$ 20 milhões. No alvo, estão startups de diferentes setores, mas principalmente negócios ligados aos mercados de alimentação saudável, beleza, energia renovável e pet.
“É um momento de reajuste de valuations, mas também é um momento para investir”, diz Decotelli. “Não vamos desacelerar. Queremos virar uma máquina a ponto de investir algo em torno de R$ 500 milhões por ano.”
A tese envolve buscar companhias que tenham negócios maduros e que atendam a critérios ESG. Outro filtro passa por comprar participações de pelo menos 15%. Em todos os investimentos realizados até agora, a DXA ficou com uma fatia entre 15% e 45% da operação.
Geograficamente, a gestora quer sair dos principais centros urbanos brasileiros e deve começar em breve a investir em mais operações na região Nordeste. O mercado internacional também interessa e há conversas em andamento para realizar um primeiro investimento no México. Outros mercados que despertam interesse no médio prazo são Colômbia e Chile.
Já na questão do desinvestimento, a busca é por retornos entre cinco e seis vezes o valor investido. A intenção é permanecer durante pelo menos cinco anos nas operações, tempo em que é cobrada uma taxa de administração dos investidores.
Por ora, a única saída realizada foi o investimento na Zee.Dog, em que a gestora obteve um retorno de 12 vezes no capital aplicado quando vendeu participação no negócio, ainda em 2018. No ano passado, a companhia foi vendida para a Petz por R$ 715 milhões.
A DXA não é a única a apostar na tese de que o ataque é a melhor defesa. A Tiger Global é um exemplo. Nos primeiros seis meses deste ano, a gestora investiu pouco mais de US$ 18,4 bilhões em 220 negócios realizados, segundo o portal americano CB Insights. Para efeito de comparação, nos primeiros seis meses do ano passado, investiu US$ 29,2 bilhões, mas em apenas 145 negócios.
O que mudou de um ano para outro foi o tamanho dos cheques. Agora, o olhar da Tiger Global está mais centrado em rodadas seed e Série A, que, em geral, envolvem valores menores.
Um dos casos foi o da fintech brasileira Zippi, de crédito instantâneo para autônomos e microempreendedores. No começo de junho, a empresa levantou US$ 16 milhões em um aporte Série A que, além da Tiger Global, teve a participação dos fundos Globo Ventures, Y Combinator, Volpe Capital e Soma Capital, entre outros.
No Brasil, o cenário mostra que o mercado está, de fato, mais devagar. Nos primeiros cinco primeiros meses de 2022, as startups brasileiras captaram US$ 2,6 bilhões em 282 rodadas de financiamento, segundo dados do hub de inovação Distrito. No mesmo período do ano passado, foram realizados 349 rounds, que somaram US$ 3,2 bilhões.
Plataforma de investimentos
O capital da DXA para investir em novos negócios não é obtido com a criação de fundos de investimento. A maior parte do dinheiro dos recursos vem de uma base de investidores que integram o que a companhia chama de um “ecossistema”. O restante vem da própria gestora que, no ano passado, vendeu 20% da sua operação para o TC (TradersClub), por R$ 20 milhões.
“A gente sempre coloca o nosso dinheiro junto com os investidores. Para todos os efeitos, operamos como um fundo tradicional, a diferença é que trazemos para a mesa algo que os outros não têm”, diz Decotelli, que tem passagens também pela Opus Investimentos e pela Ágora Corretora. “A ideia é que os clientes possam ter uma carteira administrada digitalmente.”
Na prática, a DXA identifica negócios que possam ter sinergia com as demandas desse ecossistema e faz uma oferta para investir em determinada startup. Durante o processo de due diligence, que leva em torno 90 dias, a gestora oferece aos investidores dessa sua plataforma a possibilidade de participarem da rodada em questão.
“A partir dos mandatos dos investidores cadastrados na plataforma, já sabemos exatamente quanto devemos investir”, diz Decotelli. Como parte desse processo, a DXA aciona os investidores da sua base mais aderentes à proposta da startup em questão. “Conseguimos unir investidores grandes, que representam entre 70% e 80% do valor do aporte, com quem está investindo o mínimo."
Para participar de um negócio nesse formato, o cheque mínimo é de R$ 50 mil, mas o plano é reduzir esse valor para R$ 10 mil nos próximos meses. Para isso, a gestora busca aumentar sua base, que hoje conta com cerca de mil investidores cadastrados.
Os planos nessa direção envolvem a internacionalização da operação. A ideia da DXA é permitir que investidores de outros países também estejam aptos a colocarem dinheiro em startups brasileiras. Por ora, investidores de 50 países diferentes já podem aportar negócios com cheques mínimos de US$ 10 mil.
“O plano é permitir que uma pessoa que esteja lá na Filipinas possa investir na NoMoo, por exemplo”, diz Decotelli. “E quando a NoMoo chegar lá, este investidor estará ainda mais interessado em ajudar a marca a crescer.”
Em outra ponta do negócio, a DXA pretende permitir que os investidores possam negociar suas participações em um mercado secundário que vai operar dentro de sua própria plataforma. Isso deve acontecer entre o terceiro e o quarto trimestre deste ano.