Poucas empresas retrataram o boom digital no Brasil como a Distrito. Afinal, seus dados do mercado de venture capital ilustraram a euforia – e os gordos investimentos – dos anos 2020 e 2021, recordes para o setor de venture capital no País.

Agora, com a ressaca de investimentos se prolongando ao longo dos anos 2022 e 2023, até mesmo a Distrito, que administrava espaços físicos para abrigar startups de seu ecossistema, está se voltando exclusivamente para o digital por meio de uma plataforma SaaS para unir startups às grandes empresas.

A empresa, que chegou a ter cinco hubs físicos, está mantendo apenas um em funcionamento, em sua sede em São Paulo. Os demais foram repassados para serem administrados por outras empresas.

O último deles sob gestão da Distrito foi o InovaHC, focado em saúde e em parceria com o Hospital das Clínicas, que foi entregue em junho deste ano. Antes, a empresa já havia deixado de operar, em março, seu hub de Curitiba. Em maio, foi a vez do AdTech, em São Paulo. Em 2020, já havia saído fora do hub de varejo, localizado na capital paulista.

“O hub físico deixou de ser importante. No auge, chegamos a ter 150 startups residentes. Hoje, monitoramos mais de 40 mil startups na América Latina”, diz Gustavo Gierun, um dos sócios da Distrito ao lado de Gustavo Araújo e David Laloum.

Os hubs físicos funcionavam como pontos para que empresas, que pagavam para ter suas “placas” no local, pudessem encontrar startups e investir ou contratar seus serviços.

Agora, esse serviço migrou para o digital, através de uma plataforma online que faz o match entre as startups e as grandes empresas. O serviço é gratuito para as startups. Quem paga as mensalidades são as corporações. Atualmente, mais de 80 empresas assinam a plataforma da Distrito. Entre elas, estão companhias como Hypera, Apsen, Blaun, Santander, Vivo, TIM e Algar.

“Hoje, queremos vender ROI (return on investment) para as empresas e temos uma equipe que faz o acompanhamento da implementação do produto ou serviço da startup na corporação”, diz Gustava Araújo.

De acordo com ele, uma empresa, ao fazer a assinatura, descreve qual problema quer resolver. O sistema da Distrito analisa a sua base de dados e faz o match entre aquelas startups que podem ajudar a corporação. Após a validação e a contratação, uma equipe acompanha o processo de implementação.

Dos mais de 100 funcionários da Distrito, cerca de 10% estão voltados para a área de "professional services". O ex-fundador do Buscapé, Ronaldo Takahashi, por exemplo, foi contratado, em 2021, para tocar essa área como CTO. Em meados de 2022, a Distrito trouxe também para essa equipe Ricardo Motta, ex-Take Blip, como diretor de produto digital.

Questionado se a Distrito hoje é mais uma empresa de tecnologia do que uma fornecedora de informações para o mercado digital, Araújo diz que a empresa é uma mistura de CB Insights, que traz dados sobre startups, com a Accenture, consultoria de tecnologia.

Os sócios da Distrito: Gustavo Gierun, David Laloum e Gustavo Araújo
Os sócios da Distrito: Gustavo Gierun, David Laloum e Gustavo Araújo

Araújo diz que a Distrito não se posiciona como um concorrente de uma consultoria de tecnologia – pois não faz a implementação da tecnologia, mas apenas o acompanhamento para garantir que todas as pontas possam ser executadas (e cobra por esse meio de campo). “Muitas vezes, eles são parceiros”, diz Araújo.

Questionado se essa mudança de estratégia foi por conta da retração do mercado de startups, Araújo diz que esse projeto começou a ser pensado em 2019, antes da pandemia e que esse horizonte sempre fez parte do desenho estratégico da Distrito. "Hoje, temos em nossa base startups em todos os estados brasileiros e em todos os países da América Latina", diz.

Fontes com quem o NeoFeed conversou, no entanto, afirmaram que a migração para o digital foi acelerada durante a pandemia, pois muitos desses hubs ficaram fechados sem a presença das empresas e dos funcionários.

Além disso, o trabalho remoto, que se consolidou em especial para as empresas de base tecnológica, fez com que não fizesse sentido manter a gestão desses hubs, uma atividade cuja margem era bastante apertada.

O Cubo, em São Paulo, adotou uma estratégia semelhante, aumentando o universo de startups “residentes” digitais através do Cubo Network. Mas, apesar disso, o hub manteve o espaço físico, onde aproximadamente 300 startups estão presentes fisicamente.