Quando deixou a Uber, empresa que ajudou a fundar em 2009 e que comandou até 2017, Travis Kalanick escolheu o caminho da discrição. Talvez por sua saída ter sido concretizada após forte pressão dos investidores do aplicativo, em meio a denúncias de assédio sexual, entre outras polêmicas.
Desde então, boa parte desse seu comportamento se traduz em cada passo da CloudKitchens, startup de dark kitchens comandada pelo empreendedor americano desde 2018. Na época, ele comprou uma fatia majoritária da City Storage Systems, que controlava a empresa.
O fato é que, apesar de todo o seu silêncio, Kalanick segue fazendo barulho nos bastidores. É o que mostra uma reportagem publicada pelo Business Insider. Segundo o portal americano, a CloudKitchens encerrou 2021 com um novo aporte, no valor de US$ 850 milhões.
Com a rodada, a startup foi avaliada em US$ 15 bilhões, de acordo com pessoas próximas à empresa, que não revelaram os nomes dos investidores por trás do montante.
A cifra representa um bom salto em relação à última avaliação pública da companhia, de US$ 5 bilhões, divulgada em janeiro de 2019, após uma captação de US$ 400 milhões junto ao Fundo Soberano da Arábia Saudita.
O aporte não foi a única novidade recente da CloudKitchens. A empresa encerrou o ano com um novo diretor financeiro, na figura de John Curran. O executivo assumiu o posto depois de uma passagem de mais de 12 anos na Amazon, onde atuava como CFO para os negócios internacionais de consumo.
Capitalizada, a expectativa é que a Cloud Kitchens acelere o ritmo de crescimento observado desde o início da pandemia. Com clientes como a rede de restaurantes Applebbe’s, a empresa tem mais de 50 estruturas com dark kitchens nos Estados Unidos e outras dezenas distribuídas em outros mercados.
Além das cozinhas compartilhadas, o portfólio da startup inclui um software, batizado de Otter, que gerencia os pedidos online dos restaurantes que utilizam suas estruturas. Essa operação conta com engenheiros que trabalharam em empresas como Apple e a própria Uber.
Como parte dos segredos guardados a sete chaves da Cloud Kitchens, os funcionários da empresa são proibidos, por exemplo, de citar o nome da empresa em seus perfis no LinkedIn. E cada departamento da companhia opera de forma isolada.
Todo esse sigilo não impediu que alguns problemas relacionados à operação viessem à tona. No ano passado, por exemplo, muitos funcionários deixaram a operação alardeando seus descontentamentos esse tipo de política adotada na startup.
Ao mesmo tempo, a Cloud Kitchens enfrentou uma série de reclamações de vizinhos das suas cozinhas nos Estados Unidos, diante de questões como aumento do tráfego, desrespeito às regras de trânsito e outros tantos problemas supostamente causados no entorno dessas estruturas.
No Brasil, onde a startup desembarcou, como de costume, silenciosamente, no primeiro semestre de 2020, não foi diferente. Conforme apurou o NeoFeed, na época, a empresa foi alvo das reclamações de moradores no bairro da Lapa, em São Paulo, por conta do barulho gerado por um hub de 30 cozinhas instalado na região.