O Global Founders Capital (GFC), fundo que investiu mais de US$ 200 milhões em mais de 70 startups na América Latina, enxugou sua equipe na região e está reduzindo o número de negócios.
No auge, a gestora de venture capital que tem o bilionário alemão Oliver Samwer como principal investidor teve oito funcionários analisando negócios na região. Agora, o escritório da região será tocado apenas por Fabricio Pettena, que se mantém como sócio para a América Latina do GFC. Os dois mais recentes a deixar o fundo foram Alex Anton e Guilherme Penna.
Em 2021, o GFC chegou a fazer 27 investimentos na América Latina, segundo levantamento realizado pela Sling Hub ao NeoFeed. No ano passado, a gestora de venture capital fez 18 deals. Neste ano, foram apenas três.
Questionado se o GFC estaria reduzindo seus investimentos na América Latina, Pettena respondeu: “Você quer dizer que estamos investindo menos? Quem não está? A razão é a incerteza de mercado. Nada mais.”
Esse movimento deve-se a dois fatores – e, de fato, não é uma exclusividade do GFC. Um deles são as condições para se investir, que estão mais restritivas por conta da alta dos juros globais. O outro é que a gestora optou por não levantar um novo fundo. “Foi uma reorganização da estrutura, pois iriam fazer menos deals”, disse uma pessoa a par dos planos do GFC.
Sobre a não captação de um novo fundo, Pettena argumentou que a “a decisão foi de não levantar por hora e investir apenas do balance sheet, justamente pela incerteza de mercado.” Sobre novos investimentos, ele não fez projeções. “Nunca tivemos esse tipo de meta. Depende de boas oportunidades”, diz o sócio da GFC para a América Latina.
Atualmente, o GFC conta apenas com Samwer como general partner. O bilionário alemão, que é o CEO e fundador da Rocket Internet, outro fundo que foi ativo na América Latina no passado, é quem está provendo diretamente capital para os novos deals, segundo fontes informaram ao NeoFeed.
O NeoFeed tentou também contato com Alex Anton e Guilherme Penna, dois dos investidores que se desligaram do GFC recentemente, mas ambos não retornaram aos pedidos de entrevista.
No LinkedIn, Anton atualizou seu perfil como fundador da Hike, uma consultoria para “fazer parcerias com fundadores selecionados como um consultor independente e confiável”. Penna, por sua vez, também no LinkedIn, informou que vai atuar na Silence, um fundo de venture capital que investe em startups que pensem em soluções para a mudança climática.
Fundado em 2013, o GFC já investiu em Flash, Kovi, Clara, SouSmile e Swap na América Latina. De acordo com o Crunchbase, a gestora captou dois fundos que somam mais de US$ 2,5 bilhões. Mas os ativos sob gestão, atualmente, são superiores a US$ 4 bilhões, de acordo com uma fonte.
No mundo, são mais de 900 investimentos. As startups do portfólio incluem nomes como a fintech Brex, dos brasileiros Henrique Dubugras e Pedro Franceschi, avaliada em US$ 12,3 bilhões, e o banco digital britânico Revolut, cujo valuation é de US$ 33 bilhões.
A companhia se posicionou na América Latina como um investidor early stage, entrando em rodadas pré-seed e seed. A tese é agnóstica e os cheques começavam em US$ 500 mil e chegavam a US$ 3 milhões.
A pisada no freio do GFC é um dos sintomas do inverno das startups, como esse período tem sido chamado pela redução dos investimentos de risco, depois de dois anos de exuberância global para ativos ilíquidos, como o venture capital.
No primeiro trimestre de 2023, os investimentos de venture capital no Brasil caíram 86%, para US$ 247 milhões, segundo o Distrito. Em 2022, já haviam recuado mais de 50%, para US$ 4,45 bilhões.