Se empreendedores de primeira viagem enfrentam mais dificuldades que empresários experientes para convencer um investidor a injetar recursos em suas companhias, o mesmo acontece do outro lado do balcão. Gestoras com seus primeiros fundos também podem perder alguns deals na concorrência com empresas de investimento mais parrudas.
Um dos nomes que confirmam essa tese é a Honey Island Capital, criada por Wagner Ruiz, João Del Valle e Alphonse Voigt, fundadores do unicórnio de pagamentos Ebanx. Em parceria com a 4UM Investimentos, gestora de recursos controlada pelo Paraná Banco, a empresa montou um fundo de R$ 100 milhões para investir em startups.
O problema é que fazer esses investimentos nem sempre foi uma tarefa simples. Não só pela dificuldade de encontrar bons negócios, mas também, pela concorrência com gestoras que ofereciam acordos mais "açucarados" aos empreendedores. Entretanto, com a reviravolta no mercado de venture capital no último ano, a Honey Island passou a ganhar terreno.
“O mercado deixou um espaço para ser ocupado”, diz Mariana Foresti, managing partner da Honey Island Capital, em entrevista ao NeoFeed. “À medida que outras gestoras estão diminuindo o ritmo de seus investimentos, surge uma oportunidade para que gestoras mais novas se posicionem e acessem novos deals.”
Na última semana, a gestora comandada por Foresti coliderou um aporte na Toku, fintech chilena que desenvolveu um software que facilita os processos de cobrança de empresas de receita recorrente. A rodada seed de US$ 7 milhões também teve as participações das gestoras F-prime Capital, dos Estados Unidos, e Wollef, do México.
O aporte incluiu ainda as gestoras Founders Club e Clocktower, que já haviam investido no negócio anteriormente, além de investidores-anjo, como os empresários Matías Muchnik (NotCo), Sebastián Kreis (Xepelin), Santiago Lira (Buk) e Daniel Guajardo (HealthAtom).
Esse foi o primeiro investimento da Honey Island em uma startup fora do Brasil. “O entendimento deles foi que, como um investidor brasileiro, a gente poderia ajudar a localizar a solução de pagamentos por aqui”, diz Foresti. “O Brasil compartilha de problemas semelhantes aos de outros mercados na América Latina.”
A ideia é que esse primeiro aporte na startup fundada em 2021 por Cristina Etcheberry, Francisca Noguera e Enzo Amburini seja utilizado para que a empresa faça seu desembarque no País. “Este primeiro aporte será para discovery”, diz Foresti. Em uma rodada futura, o dinheiro será usado para a expansão.
Além desse investimento, a gestora participou nos últimos dias de um aporte na operação da Makasí, construtech que auxilia na captação de financiamentos junto a instituições financeiras para a construção de casas. O investimento total na operação foi de R$ 5 milhões.
Com esses dois aportes, o fundo da Honey Island já investiu em seis startups em seu fundo em parceria com a 4UM. Pelo menos mais dois ou três investimentos devem ser realizados nesse ano. De acordo com Foresti, a expectativa é de que a alocação seja finalizada no segundo semestre do ano que vem.
Na tese de investimento, a gestora estruturou o fundo com a estratégia de investir em 15 empresas no prazo de quatro anos. No radar estão negócios early stage ligados ao setor financeiro e que operem em um modelo B2B e de software como serviço. O tamanho dos cheques varia entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões e há a possibilidade de que a gestora coinvista em aportes de séries A e B.
Nos últimos meses, a Honey Island vem filtrando melhor as startups que pretende investir. Isso leva em conta um olhar mais cauteloso tanto para as próprias operações como para os setores que interessam mais. “O momento do mercado exige que a gente fique mais criterioso”, diz Foresti.
De acordo com a executiva, há um menor ímpeto em investir em negócios que operam diretamente na concessão dos empréstimos. “Tem sido algo que vem requerendo uma habilidade muito específica das empresas. Estamos olhando com mais cautela”, diz.
Nesse filtro, as startups que chegarem até a fase de negociação de contratos irão receber term-sheets com múltiplos de valuation e outros termos mais realistas. Os detalhes dos contratos, no entanto, são mantidos em sigilo.
Com uma tese voltada para fintechs, a gestora também vem olhando com mais atenção nos últimos meses para negócios focados em web3 e finanças descentralizadas “Tudo isso que está acontecendo com os bancos é uma oportunidade para que essas startups provem seus conceitos”, diz Foresti.
Nessa frente, a Honey Island está estruturando também um novo fundo de investimento para fazer a gestão de ativos líquidos, mais especificamente, de tokens com infraestrutura baseada em blockchain. A previsão do veículo é captar US$ 20 milhões.