Em janeiro, quando anunciou um aporte de US$ 190 milhões liderado pelo Softbank e pela Dynamo, a MadeiraMadeira abriu a temporada de unicórnios brasileiros em 2021. Cinco meses depois, com o caixa reforçado, a plataforma online de móveis e produtos para casa está inaugurando uma agenda de aquisições.
A empresa anuncia nesta quarta-feira, 9 de junho, a compra da iTrack Brasil, startup paulistana de softwares para logística. A transação é a primeira aquisição da MadeiraMadeira e marca o início de uma estratégia de crescimento inorgânico da empresa.
O valor da transação não foi revelado. Pelos termos do acordo, que envolveu dinheiro e troca de ações, Daniel Drapac, fundador da iTrack Brasil, permanecerá no comando da startup, que seguirá operando de forma independente, mas compartilhará estruturas de backoffice com a MadeiraMadeira.
“A logística é um dos pilares para destravar o potencial da nossa categoria, que tem entregas muito complexas”, diz Daniel Scandian, cofundador e CEO da MadeiraMadeira, ao NeoFeed. “E a compra da iTrack está alinhada com a necessidade de incorporar tecnologias para lidar com essa questão.”
A aproximação entre as duas empresas teve início quando a MadeiraMadeira passou a adotar parte dos sistemas da iTrack Brasil. A empresa viu nesse portfólio uma alternativa para antecipar o desenvolvimento de softwares destinados à sua área de logística.
Fundada em 2017, a iTrack Brasil tem um portfólio que cobre e ajuda a gerenciar todas as etapas do transporte de mercadorias. O leque inclui desde softwares de rastreamento de carga e de roteirização até um programa de avaliação, mensuração e compensação de emissões de CO2 nas entregas.
Com essa oferta, a empresa tem atualmente uma carteira de 200 clientes e mais de 46 mil motoristas ativos integrados à sua plataforma. A startup já rastreou aproximadamente 3,6 milhões de entregas desde a sua fundação.
“Vamos ser acionistas, mas seguiremos como clientes da iTrack”, conta Scandian. Ele observa que a MadeiraMadeira vai injetar mais recursos na startup, especialmente para ampliar a estrutura de desenvolvedores da operação, além das áreas de vendas e de marketing.
A aquisição da iTrack Brasil integra os investimentos da MadeiraMadeira para consolidar a Bulky log, seu braço de logística, criado há pouco mais de dois anos. Hoje, a divisão já conta com 14 unidades, entre centros de distribuição e operações de última milha.
Essa malha conta ainda com uma unidade de 35 mil metros quadrados, em Jundiaí (SP). No local, a companhia está tocando um projeto-piloto de serviços de fulfillment há dois meses, com sete clientes. A ideia é estender essa oferta, gradativamente, a outras empresas da sua base.
Até o fim de 2021, a empresa planeja ampliar essa estrutura de logística em até 50%. A expansão vai priorizar regiões como o estado de São Paulo e pode passar ainda por investimentos no Nordeste. Nesse caminho, estão previstos outros dois centros de oferta de fulfillment.
Hoje, a MadeiraMadeira tem cerca de 10 mil vendedores e uma oferta de mais de 2,5 milhões de itens em sua plataforma. Em menos de cinco meses, a empresa saiu de um quadro de 900 funcionários para 1,8 mil profissionais, muitos deles, alocados nas operações de logística.
“A logística é o grande desafio para as plataformas online da categoria”, diz Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo. Além dos gargalos tradicionais de infraestrutura, ele destaca que questões como tamanho e materiais envolvidos complicam ainda mais as entregas.
Ao mesmo tempo, empresas como a MadeiraMadeira ainda não têm a capilaridade de rivais tradicionais, que contam com a estrutura de suas lojas físicas para apoiar a logística. “Fica inviável entregar um produto em estoque em dez dias se uma Tok&Stok fizer o mesmo em 48 horas.”
Aquisições, lojas físicas e marca própria
Em um contexto mais amplo, a compra da iTrack Brasil é parte da estratégia de aquisições da MadeiraMadeira, que começou a tomar forma em 2020, com a montagem de um time destinado a essa frente. Essa questão ganhou fôlego com o aporte captado no início do ano.
Assim como aconteceu nesse primeiro acordo, um dos critérios será manter os fundadores à frente dos ativos adquiridos. “Nossos investidores sempre nos deram muita autonomia”, diz Scandian. “E queremos replicar esse modelo com os empreendedores que trouxermos para operação.”
Além do alinhamento desses empreendedores com a estratégia da MadeiraMadeira, as aquisições terão como foco áreas como tecnologia, logística e a oferta de serviços complementares, mais relacionados ao dia a dia da operação.
“Não vemos nenhum acordo transformacional. A ideia é acelerar o que já estamos fazendo”, afirma Scandian. Ele acrescenta que não há limite para o tamanho dos cheques a serem assinados, bem como para o número de aquisições. “No momento, temos meia dúzia de conversas mais avançadas.”
Uma parcela do montante levantado junto aos investidores será reservada à expansão das Guide Shops, lojas físicas da marca. O formato começou a ser estruturado em 2020 e inclui unidades, em média, de 170 metros quadrados, nas quais os consumidores têm acesso a parte do catálogo ofertado.
Atualmente, a MadeiraMadeira tem 42 Guide Shops e a projeção é encerrar 2021 com uma rede de 120 lojas. Além de reforçar a presença no Sul e no Sudeste, especialmente no estado de São Paulo, a empresa também avalia levar o modelo para a região Nordeste.
A MadeiraMadeira tem cerca de 10 mil vendedores e uma oferta de mais de 2,5 milhões de itens em sua plataforma
Outra prioridade é a construção da marca própria da companhia, lançada recentemente. Com móveis e outros itens de preço mais acessível, essa oferta conta com aproximadamente 400 produtos e já responde por 20% das vendas da empresa.
Com todas essas iniciativas, a MadeiraMadeira é uma das empresas que estão buscando ampliar a fatia do online no mercado de móveis e decoração, que movimenta, anualmente, cerca de R$ 90 bilhões no País, segundo a consultoria IEMI Inteligência de Mercado.
Além de nomes tradicionais, que começam a migrar para o online, a MadeiraMadeira disputa a preferência dos consumidores com duas rivais que nasceram no digital e abriram capital recentemente: Mobly e Westwing, que levantaram, respectivamente, R$ 812 milhões e R$ 1,16 bilhão em seus IPOs.
As duas companhias também estão destinando parte dessas cifras à logística. A Mobly ampliou a malha da Mobly Log, sua empresa voltada à última milha, com dois centos de distribuição e planeja adicionar ao menos mais uma unidade a essa estrutura ainda nesse ano.
Já a Westwing também planeja reforçar sua malha logística, batizada de Westlog. Atualmente, essa estrutura inclui um centro de distribuição, um hub urbano em São Paulo e uma frota de veículos próprios e de parceiros responsável pelas entregas na Grande São Paulo.