A onda de inteligência artificial que chegou ao mercado de tecnologia está moldando os negócios de novas startups que buscam investimentos com gestoras que apostam no early stage. Ao mesmo tempo, com o aumento da oferta, os investidores estão refinando suas teses sobre o assunto.

Durante um painel no South Summit Brazil, evento que o NeoFeed é parceiro de mídia, executivos que comandam gestoras como Domo, Antler e Bossa debateram sobre como estão lidando com o crescimento do número de startups de inteligência artificial – ou, pelo menos, as que dizem atuar com esta tecnologia.

Marcelo Ciampolini, executivo que comanda a operação da Antler no Brasil, adota um tom mais conservador. Ao analisar negócios que podem ser investidos pela gestora criada em Cingapura, que tem um fundo de US$ 30 milhões para aportar em operações brasileiras, o executivo diz que vem encontrando cada vez mais pitchs que falam sobre IA.

“Se você coloca inteligência artificial no pitch, você precisa ter um domínio do assunto demonstrado”, afirma. Segundo o executivo, algumas startups prometem a contratação de profissionais especializados no assunto. “Nessa fase você não tem dinheiro. Se você não faz ou não tem o talento que precisa, esquece.”

No terceiro ciclo de investidas, a gestora injetou R$ 10,7 milhões em uma dezena de startups. Entre elas há algumas que operam com inteligência artificial, como a Arca, que usa a tecnologia para fazer ajudar na triagem de resíduos em centros de reciclagem e a Govy, voltada para a gestão de vendas governamentais.

Principal player de investimento early stage do País, a Bossa Invest (antiga Bossanova) entende que o avanço da tecnologia pode fazer com que alguns negócios que antes não funcionavam possam ganhar tração. “Talvez a gente tenha que revisitar nosso dealflow antigo”, disse Paulo Tomazela, CEO da Bossa Invest.

Para Tomazela, a inteligência artificial “vai pegar muita ideia que não decolou no passado”. Ele compara a tecnologia com a revolução da eletricidade, que mudou a maneira como as ferramentas eram utilizadas na indústria.

Apesar disso, o executivo diz que também está olhando “para o outro lado” da questão. “O que eu estou perguntando para os empreendedores é como a inteligência artificial pode destruir seus negócios”, disse.

Na Domo, gestora que já aportou mais de 100 startups em fases pré-seed e seed, a atenção está voltada para às companhias que estão usando inteligência artificial com foco em aumentar a produtividade dos negócios.

“Quem não fizer isso vai ficar para trás”, disse Felipe Andrade, managing partner e cofundador da Domo.

Andrade afirma que, ainda que um número maior de startups de inteligência artificial esteja surgindo, ele tem observado uma certa cautela de parte dos empreendedores em relação à adoção da tecnologia. “Todo mundo deveria estar olhando e aprendendo sobre IA, mas tem quem esteja esperando estabilizar”, diz.

A busca por negócios de inteligência artificial não está somente no early stage. Gestoras como General Atlantic, Atlantico e Monashees também saíram à caça de startups que atuem com a tecnologia. A Big Bets, por sua vez, já conta com metade do seu portfólio formado por startups de IA.