A CloudKitchens causou surpresa quando, em novembro do ano passado, anunciou a captação de US$ 850 milhões numa operação que mesclava venda de equity e captação de dívida. O que impressionava não era nem tanto o valor, mas a confiança em uma retomada de Travis Kalanick, o polêmico fundador da Uber.

O investimento fez a companhia que opera com as chamadas dark kitchens (cozinhas montadas apenas para atender operações de delivery de aplicativos) ser avaliada em US$ 15 bilhões. O que não se sabia até então era quem eram os investidores por trás do aporte. Nesta semana um deles foi revelado: trata-se da Microsoft.

Não se sabe o valor exato que a companhia fundada por Bill Gates investiu na CloudKitchens. Esta é a segunda vez que a Microsoft aposta em um negócio comandado por Kalanick. Em 2015, a desenvolvedora investiu US$ 100 milhões na Uber em uma rodada que avaliaria a companhia em US$ 50 bilhões. A saída foi feita em 2017.

Seja qual for o valor, o movimento mostra que a Microsoft ainda parece acreditar em Kalanick, empreendedor que tem fama de bad boy no mercado de tecnologia. No comando da Uber, o executivo colecionou polêmicas que vão desde uma discussão com um motorista do aplicativo até acusações de espionagem industrial e de promover um ambiente tóxico e sexista de trabalho no aplicativo de transporte.

O aporte recebido no fim do ano passado ajudou a CloudKitchens a expandir sua operação em uma escala global. A companhia tem mais de 4 mil empregados em operações nos Estados Unidos, Reino Unido, Oriente Médio e América Latina.

A CloudKitchens usa os recursos financeiros que capta para comprar ou alugar imóveis comerciais que possam funcionar como dark kitchens após reformas. Essas cozinhas, então, são alugadas pelos restaurantes que operam nos aplicativos de delivery.

Ainda que o modelo pareça relativamente simples, a companhia vem enfrentando problemas. Em maio deste ano, o site americano Business Insider relatou que centenas de funcionários da startup estavam deixando a companhia alegando questões como trabalho excessivo, tratamento precário, pagamento insuficiente e discriminação. Há processos em andamento contra a empresa e contra Kalanick.

O Brasil é dos principais mercados da CloudKitchens. A operação brasileira começou a operar em junho de 2020 e atende pelo nome de Kitchen Central. No país, ela é líder no mercado de dark kitchens, segundo Renato Avó, diretor da consultoria 360 Varejo em entrevista ao Financial Times.

O novo negócio de Kalanick não está também livre de problemas no Brasil. A startup já foi alvo de reclamações de moradores do bairro da Lapa, em São Paulo, por conta do barulho gerado por um hub de 30 cozinhas instalado na região.

Além das cozinhas

Kalanick vem tentando ampliar seu negócio, mas isso não quer dizer apenas alugar novos imóveis e transformá-los em cozinhas industriais. Nos últimos meses, o executivo passou a se dedicar também a uma operação complementar de delivery e que aproveita os espaços alugados para os clientes.

Chamada de Pik N’ Pak, a startup utiliza os espaços das dark kitchens como pequenos centros de distribuição para o delivery de outros produtos, que vão desde itens de petshop, remédios e até produtos de sex shop.

Segundo o Financial Times, as mercadorias ficam guardadas em porões e até nos corredores das dark kitchens. Por ora, o negócio já está presente em quase 50 unidades presentes em 11 cidades do Brasil, México e Colômbia.

No Brasil, há pontos de entrega em São Paulo, Guarulhos, São Bernardo do Campo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Niterói e Brasília. As entregas são feitas por aplicativos como iFood, Rappi, Goomer, Mottu, Delivery Direto, entre outros.