O novo coronavírus acertou em cheio as economias ao redor do mundo, paralisando países, fechando empresas e matando milhares de pessoas. Esse é o lado mais visível da pandemia. Há, entretanto, um outro, silencioso, que acontece no mundo dos bites e bytes, e que tem outros vírus maliciosos como protagonistas.

Desde o início da crise, o Brasil passou a ser um dos epicentros dos ataques cibernéticos. “Estamos bloqueando cerca de 500 milhões de páginas maliciosas por mês”, diz Marco DeMello, fundador e CEO da PSafe, empresa de segurança digital com operações no Brasil e nos Estados Unidos.

Se, por um lado, a empresa está trabalhando em dobro para conter as ameaças, por outro, esse cenário abre um mar de oportunidades. E a companhia começa a navegar por ele nesta semana. “Vamos entrar no mercado B2B inicialmente para as pequenas e médias empresas no Brasil”, diz DeMello com exclusividade ao NeoFeed. No fim do ano, oferecerá o produto nos Estados Unidos.

Até então, a PSafe, com sete milhões de usuários, dos quais 6 milhões no Brasil e 1 milhão nos EUA, atuava apenas em segurança mobile e, exclusivamente, com o consumidor final. Ela tinha quatro versões de seu software Dfndr: o security, que é o carro-chefe da empresa; o performance, para otimização e limpeza do celular; o battery, para economizar bateria; e, por último, o VPN, que garante uma rede virtual privada.

Agora, com o novo software Dfndr Enterprise, que será lançado na versão beta, vai ofertar seus produtos para o mercado corporativo. “No primeiro momento, ele será gratuito e será encontrado para mobile. Mas já estamos criando para laptop também”, afirma DeMello. Se o produto vingar e a PSafe se consolidar no mercado das PMEs, a meta é partir para as grandes empresas em 2022.

O produto já vinha sendo desenvolvido há nove meses, mas a pandemia acelerou o senso de urgência da PSafe. A preocupação com a segurança cibernética cresceu dentro das organizações. Afinal, muitos funcionários tiveram de trabalhar em casa. “Onde antes havia 5% das pessoas trabalhando em casa, passou a ter 100%”.

O reflexo foi imediato. “O setor de cybersecurity cresceu cerca de 50%. Nos EUA, as assinaturas pagas dos nossos produtos cresceram 50% e a renovação também”, diz DeMello. Com o novo produto para o mercado corporativo, esses números serão encorpados.

Desde 2014, diz DeMello, a empresa investiu mais de US$ 30 milhões em propriedade intelectual e tecnologias capazes de conter ataques e vazamentos de dados. E, diante da nova Lei Geral de Proteção de Dados, prevista para vigorar em maio de 2021, todas as empresas precisarão de algum tipo de proteção.

Marco DeMello, CEO e fundador da PSafe

“É uma regulamentação que traz uma série de exigências e com um nível de segurança de proteção de informações”, diz Patricia Peck Pinheiro, sócia e head de direito digital do escritório PG advogados. “É um desafio para as pequenas em médias empresas”, afirma.

“Por exemplo, as empresas que estão trabalhando em home office e usando cloud precisam ter mais controle de acesso aos dados pessoais, usar soluções para fazer gestão de consentimento, para criptografia, para fazer descarte seguro de informações”, diz a especialista, que também é colunista do NeoFeed.

Estima-se que o Brasil perca cerca de US$ 20 bilhões por ano por conta de ataques digitais

Estima-se que o Brasil perca cerca de US$ 20 bilhões por ano por conta de ataques digitais e, empresas menores, são as mais vulneráveis. “Vamos oferecer um pacote que vai proteger as informações nos dispositivos de cada colaborador da empresa”, diz DeMello.

Depois de oferecer gratuitamente, a companhia passará a cobrar uma assinatura que chega até R$ 10 por mês por dispositivo. O empresário afirma que os valores podem cair de acordo com o número de funcionários de cada cliente.

O serviço, diz ele, protegerá contra vírus, vazamento de dados e ataques cibernéticos. Cada usuário terá os dados criptografados e salvos na nuvem da PSafe. E o produto detecta, avisa e alerta todas as contas e senhas que estão na darkweb.

Momento de arrumar a casa

A entrada no mercado corporativo acontece num momento em que a PSafe se encontra em um patamar mais maduro tanto do ponto de vista tecnológico como de seu modelo de negócio.

“Temos mais de 30 modelos de machine learning para análise de ameaças de phishing, malware e URLs maliciosas”, afirma DeMello. “Contamos com a maior base de ameaças digitais da América Latina. São mais de 500 milhões de ataques únicos na nossa base.”

Isso permite a empresa detectar ataques e sites maliciosos com mais agilidade. O empresário afirma que a inteligência artificial da companhia consegue descobrir e bloquear páginas maliciosas, até mesmo as nunca vistas antes, em menos de um segundo. Isso tem sido crucial nessa pandemia.

No início da crise, quadrilhas passaram a enviar, via WhatsApp, links que prometiam vacinas e remédios milagrosos. Depois, quando o governo anunciou o auxílio de R$ 600 a serem pagos via Caixa Econômica Federal, começaram os ataques para roubar dados dos beneficiários. “Só em uma semana, bloqueamos nove milhões de ameaças para obter os dados para fraude no auxílio do governo.”

A PSafe chegou a ter 200 milhões de instalações e 15 milhões de usuários ativos. Hoje, é metade disso. Nos últimos anos, a empresa teve de passar por uma restruturação e mudança de seu modelo de negócios. “Hoje, 15% da nossa receita já vem de assinatura”. O restante vem da publicidade.

Antes, incentivada pelos investidores da Qihoo 360 Technology, diz DeMello, apostava no crescimento da base independentemente da lucratividade. Isso fez com que ela crescesse exponencialmente e chegou a ser apontada como um provável unicórnio.

Desde sua fundação, em 2011, a empresa, segundo o Crunchbase, recebeu aportes de US$ 86 milhões

Desde sua fundação, em 2011, a empresa, segundo o Crunchbase, recebeu aportes de US$ 86 milhões. Além da Qihoo 360, fundos como Pinnacle Ventures, Redpoint Ventures e Redpoint eventures já investiram na empresa.

Mas a política de crescimento a qualquer custo a fez perder fôlego. E o quadro de funcionários, baseados no Rio de Janeiro e em São Francisco, teve de ser reduzido de 100 para 70 nos últimos dois anos. Novos aportes e até um possível M&A com um concorrente não estão descartados.

“Agora, estamos focando no crescimento lucrativo. Retenção, engajamento e lucratividade”, diz DeMello. Há pouco mais de um ano, a PSafe passou a cobrar assinatura pelos seus softwares. A receita de assinatura veio num momento em que a empresa se viu no meio de um grande dilema.

Até 2018, a monetização da PSafe se dava apenas com as receitas de publicidade. Os usuários baixavam o software gratuitamente e viam propagandas vendidas pela companhia. Mas empresas como Google e Apple mudaram suas políticas, o que afetou os negócios da PSafe.

"O lado ruim é que dificultaram a nossa capacidade de monetizar. Proibiram uma série de métodos que usávamos e tivemos de ajustar a empresa de acordo com isso”, diz DeMello. Isso fez com que as receitas da empresa caíssem pela metade. “E 99% do faturamento vinha dessa publicidade.”

A solução foi focar nos usuários que queriam ter segurança e estavam dispostos a pagar por isso. “É uma receita recorrente que nos permitiu não depender da venda de publicidade todo mês”, afirma DeMello. A entrada no mercado das PMEs é mais uma tacada para aumentar a recorrência. “A partir de 2022, vai ser a principal fonte de receita da empresa”, diz DeMello.

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