A Tiger Global viveu anos distintos em 2021 e 2022. No primeiro, surfou no bom momento do mercado de tecnologia e distribuiu bilhões de dólares para startups. O que aconteceu em 2022, no entanto, foi o contrário. Com a ressaca do setor, a empresa de capital de risco se tornou mais conservadora e tentou diminuir o prejuízo de apostas que deram errado.
Mas não foram apenas as startups que sofreram com as consequências dessa postura mais cautelosa da gestora americana. Quando o mercado de tecnologia estava aquecido, executivos líderes da Tiger Global realizaram diversos contatos com gestoras menores de venture capital e comprometeram US$ 1 bilhão de capital pessoal para apoiar fundos de investimento focados em early stage. O problema é que isso ficou só na promessa.
De acordo com o portal americano The Information, nos últimos meses, diversos sócios da Tiger Global contataram os gerentes dos fundos com os quais haviam feito promessas de investimento. Em diferentes ligações, os executivos tentavam alterar ou desfazer os acordos verbais ou mesmo escritos firmados entre as partes.
A justificativa era a resistência dos próprios sócios (limited partners, LP, na sigla em inglês) da Tiger Global para esse movimento. Entre a cruz e a espada, os gestores dos fundos não quiseram causar atritos com os LPs da gestora americana – mesmo que o dinheiro fosse do capital pessoal de cada um deles.
A Tiger Global não se manifestou sobre o assunto e os gestores que receberam as ligações também pediram para que os nomes de suas empresas fossem preservados. Uma reportagem anterior da Forbes aponta que uma das gestoras que pode estar envolvida nessa situação é a americana Banana Capital.
A Tiger Global não vive uma relação das melhores com seus LPs. Em novembro do ano passado, o The Information revelou que a gestora trabalhava com uma desvalorização de 8% nos investimentos feitos por seu fundo de capital privado lançado em outubro de 2021, no valor de US$ 12,7 bilhões.
Outra justificativa para a desistência ou a redução dos investimentos em fundos de terceiros está no receio de que a própria Tiger Global possa ter dificuldade em captar recursos para seus próximos fundos. Alguns dos sócios que iriam disponibilizar capital para empresas de investimento menores optaram por destinar o dinheiro para a própria gestora.
A dificuldade para encontrar dinheiro com novos sócios, no entanto, não deve afetar a Tiger Global - ao menos, não da mesma maneira que as gestoras menores. Um levantamento do Pitchbook com dados de janeiro a setembro do ano passado mostrou que os fundos de venture capital levantaram US$ 151 bilhões no período, mais do que todo o total de 2021.
O movimento é também uma tentativa de apaziguar as relações com os LPs, já que mostra que os próprios executivos da Tiger Global estão destinando seu dinheiro pessoal para a própria gestora e não para investimentos externos. Se os investimentos futuros derem errado, executivos e LPs estarão no mesmo barco.