Depois de despontarem no mercado de arte com transações milionárias, as NFTs agora podem ganhar um objetivo mais nobre. Os tokens serão usados para ajudar na preservação ambiental.

Essa é a ideia da Preservaland, startup que pretende comercializar os tokens não-fungíveis para financiar a preservação de 5 milhões de hectares de área florestal brasileira até 2024.

Fundada neste ano pelos empresários brasileiros Guilherme Santana, Caio Martinelli, Santiago Thomaz, Maurício Benvenutti, Roberto Santacroce e Gustavo Hansel, a Preservaland quer criar NFTs com uma pegada de ESG. A diferença para outros NFTS é que a renda obtida com as transações será destinada para a criação de Reservas Legais Federais.

“Esse NFT não é uma figurinha. Tem todo um respaldo de ações que são auditáveis e que estão ligadas a este ativo digital. É bem diferente”, diz Guilherme Santana, CEO da Preservaland, ao NeoFeed.

De acordo com o código florestal brasileiro, os imóveis rurais precisam destinar uma porção de sua área para a criação de uma Reserva Legal Federal, em que a lei obriga garantir a preservação da biodiversidade local, coibindo atividades de desmatamento. Essa área não pode ser explorada.

A Preservaland, por sua vez, investe em áreas de florestas excedentes, que é quando o proprietário da terra resolve destinar áreas excedentes para criar o que é chamado de Reserva Voluntária. Com as NFTs, os proprietários ganham recursos para garantir a preservação daquela região.

Inicialmente, a companhia está trabalhando com tokens de hectares da Serra da Bocaina, localizada entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, e que se tornou Patrimônio Cultural e Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) em 2019.

Para chegar aos 5 milhões de hectares, a Preservaland vai trabalhar também com tokens de outros biomas além da Mata Atlântica e que devem começar a ser comercializados ainda neste ano.

Em 2022, a meta é vender tokens que representem 3 mil hectares. No futuro, o objetivo é financiar a preservação ambiental também em outros países. No radar estão mercados como Estados Unidos, Chile e Europa.

Para ganhar dinheiro, a startup que tem matriz nos Estados Unidos fica com uma taxa em cima do valor cobrado em cada NFT. Não há um valor fixo, já que é possível comprar NFTs com lotes de vários hectares de uma só vez. A localização influencia o preço. Em média, um token correspondente a um hectare e pode variar entre R$ 5 mil e R$ 30 mil.

Os fundadores da Preservaland: (em pé) Gustavo Hansel, Santiago Thomaz, Guilherme Santana e (abaixados) Caio Martinelli e Maurício Benvenutti

A formulação dos valores passa por uma análise baseada em um estudo da Embrapa e que define preços médios para áreas de florestas excedentes de Reserva Legal. O preço base é acrescido de 30%, que é o comissionamento para custear as operações da startup.

A meta da Preservaland é comercializar as NFTs para diferentes públicos, mas há uma tendência de que as vendas ganhem mais força no mercado corporativo. “As empresas listadas em bolsa precisam necessariamente fazer seus relatórios ESG. Então elas precisam mostrar o impacto ambiental de seus negócios. Ao investir nas NFTs, elas cumprem a necessidade de gerar impacto ambiental”, diz Santana.

Do lado de quem investe na compra das NFTs, há a possibilidade de negociar o token futuramente em outras plataformas – como acontece com qualquer outro NFT. O valor pode aumentar ou diminuir, como uma ação ou uma criptomoeda.

Para emitir as NFTs, a Preservaland precisou mapear a região e entrar em contato com os proprietários rurais. O trabalho da startup também envolve a utilização de satélites para que os donos das NFTs possam obter informações em tempo real sobre a região e a produção de relatórios de sustentabilidade personalizados para cada área.

Esses relatórios serão produzidos anualmente e serão úteis, principalmente, para que as empresas possam mensurar o impacto dos investimentos nas NFTs na preservação ambiental.

Todo o trabalho é auditado por órgãos competentes como o Sistema de Cadastro Ambiental Rural (SICAR) e o Global Forest Watch, projeto da Universidade de Maryland (EUA) em parceria com o World Resources Institute (WRI), e Google.

Para estruturar o negócio, os fundadores captaram um investimento-anjo de R$ 2 milhões de diferentes investidores nos Estados Unidos, além do capital próprio empenhado na operação. No total, o negócio nasce com um aporte de aproximadamente R$ 5 milhões.