Por três décadas, o engenheiro americano, de origem paquistanesa, Mujeeb Ijaz trabalhou no desenvolvimento de baterias para carros elétricos, em empresas como Ford e Apple. Em junho de 2020, então diretor sênior da big tech e frustrado por não conseguir causar o impacto com o qual sempre sonhara, ele abandonou o Projeto Titan e fundou seu próprio negócio, a startup Our Next Energy; ou simplesmente, ONE.
A decisão não poderia ter sido mais acertada. Na quarta-feira, 1º de fevereiro, a ONE se tornou uma das empresas privadas de baterias mais poderosas dos Estados Unidos. Com um aporte de US$ 300 milhões, em uma rodada de investimentos de série B, liderada pelas gestoras Franklin Templeton e Fifth Wall, a companhia atingiu US$ 1,2 bilhão em valor de mercado.
“Fechar essa rodada é um marco importante para a ONE”, diz o fundador e CEO, em comunicado. “Estamos fazendo a transição de uma startup financiada pelo capital de risco para uma fabricante alimentada pelo capital de crescimento.”
Em entrevista ao portal americano TechCrunch, Ijaz disse enxergar a conexão com os novos investidores como “um relacionamento de longo prazo que passará da série B para a série C e, potencialmente, para a abertura de capital”.
Os US$ 300 milhões serão usados para o término da construção da ONE Circle, a fábrica da empresa, localizada na cidade de Van Buren Township, no sudeste de Michigan. A capacidade de produção inicial será de 2 gigawatts-hora (GWh), em 2024, crescendo para 10 GWh, nos dois anos seguintes, e 20 GWh, em 2027.
Ijaz está longe de ser o único empresário do setor de carros elétricos (EVs, na sigla em inglês) focado na busca por baterias mais seguras e potentes para acelerar a eletrificação. Mas a ONE tem uma abordagem diferente de suas concorrentes, como a QuantumSpace.
A tecnologia da startup usa lítio-ferro-fosfato (LFP), uma química mais barata e menos propensa a incêndios do que as células de “íon de lítio”, denominação genérica para o composto óxido de cobalto, manganês, níquel e lítio (NMC) e a base da maioria das baterias usadas pelos EVs atuais.
Foi esse o diferencial que fez com que o fundo Breakthrough Energy Ventures, empresa de VC de Bill Gates, fizesse um aporte de US$ 25 milhões na operação, em uma rodada de série A, em novembro de 2021. Depois de investir em outras startups de baterias para EVs, Gates quis saber de Ijaz: “O que garante que sua tecnologia não cairá na obsolescência?” Ijaz foi convincente.
“A ONE está à frente da curva”, disse Libby Wayman, líder da equipe de transporte da Breakthrough Energy Ventures e integrante do conselho da startup. “Esse é o início de uma tendência em que as pessoas procurarão produtos químicos alternativos para obter densidade de energia e segurança.”
Em 2027, o mercado global de baterias para EVs deve movimentar US$ 134,6 bilhões, a uma taxa de crescimento anual comporta de 19,9%. No ano passado, o setor foi avaliado em US$ 56,4 bilhões.
“Esse crescimento é motivado por diversos fatores como o aumento da demanda por veículos elétricos e políticas governamentais favoráveis”, avaliam os analistas da consultoria Markets and Markets. “De modo a reduzir o impacto ambiental, governos em todo o mundo estão promovendo a eletrificação da frota de veículos como alternativa aos combustíveis fósseis. Como os EVs não emitem carbono, esses caros tornam-se cada vez mais populares.”
Choque na concorrência
Um outro sinal do aquecimento do setor foi a compra pela General Motors (GM) em US$ 650 milhões em ações da mineradora americana Lithium Americas. É o maior investimento feito por uma montadora em matéria-prima para a produção de baterias para veículos elétricos.
A empresa vai trabalhar na extração de lítio da mina Thacker Pass, localizada em Nevada. Nos cálculos da mineradora, a reserva dispõe de lítio o suficiente para até 1 milhão de carros por ano.
A GM pretende usar carbonato de lítio em suas células de bateria Ultium. A montadora pretende gastar US$ 35 bilhões no desenvolvimento de EVs até 2025. A meta da companhia é zerar as emissões de gases de efeito estufa de suas linhas de produção até 2035.
Na quinta-feira, 2 de janeiro, a GM e a Netflix anunciaram que o serviço de streaming embarcará na campanha “Everybody In”, de incentivo à adoção em massa de carros elétricos. Pelo acordo, a Netflix aumentará a presença de EVs em produções, como os realities Queer Eye e Casamento às Cegas e a série Unstable.
Em 12 de fevereiro, no intervalo do Super Bowl, será lançada a primeira peça publicitária, fruto da parceria entre a montadora e o serviço de streaming, com a participação do comediante Will Ferrel. Não é a primeira vez que o artista participa do “Everybody In”.
No ano passado, em um vídeo de 90 segundos, intitulado “No Way, Norway”, Ferrell convence os também humoristas Keenan Thompon e Awkwafina a se juntarem a ele em uma peregrinação até a Noruega, o país com a concentração de EVs per capita. “Vamos esmagá-los. Avante, América”, provoca o ator, no anúncio. Ele, porém, por engano, vai parar na Suécia.