No TikTok, os vídeos acumulam dezenas de milhões de visualizações. Em todos os filmes, um homem distribui garrafinhas de água. Algumas com mais veemência do que outras, as reações são sempre pautadas pelo ceticismo.
“De graça? O que há de errado com ela?”, desconfia um, o mais cismado. “É sério? Por quê?”, espanta-se uma jovem executiva, a caminho do trabalho.
O americano Josh Cliffords, de 38 anos, então explica. Em 2020, em Austin, no Texas, ele fundou a FreeWater, uma startup com foco no combate à escassez hídrica global. “Nós acreditamos que todos têm direito a água potável de graça e que o meio ambiente pode ser salvo”, diz o empreendedor, em entrevista ao NeoFeed.
Para monetizar a empresa, ele faz das garrafas espaço publicitário. O anunciante paga por tudo – água, embalagem (de alumínio ou papel cartonado), impressão do anúncio e distribuição. O preço? US$ 1, por unidade, em média.
Desse valor, dez centavos de dólar são destinados a ONGs com projetos nas regiões mais afetadas pela crise. “Estamos transformando a indústria da publicidade na melhor versão dela mesma”, afirma Cliffords.
"Isso funciona mesmo? E você ainda lucra?", quer saber um ciclista, em um dos vídeos. Tem funcionado. Nos cálculos de Cliffords, a startup deve atingir o breakeven no primeiro trimestre de 2024. No início de 2024, ele pretende abrir para captação e levantar seus primeiros investimentos externos.
O empreendedor tem um argumento poderoso. As pessoas costumam ficar com uma garrafa pequena de água, por 45 minutos, em média, antes de descartá-la. Nesse modelo, o tempo de exposição à propaganda é muito maior do que em outros veículos publicitários - um outdoor, por exemplo.
Tem surtido efeito. No portifólio de clientes da FreeWater, aparecem grandes empresas, como a plataforma de streaming Netflix, o canal de tevê NBC, os reality shows “America’s Got Talent” e “Ninja Warrior” e a badalada rede de academias Orangtheory.
No ano passado, a startup distribuiu cerca de 100 mil garrafas, o que rendeu cerca de US$ 25 mil para as organizações WellAware, no Quênia, e Charity Water, na Índia.
Colapso hídrico
O planeta está à abeira do colapso hídrico. Cerca de 2 bilhões de pessoas não têm acesso à água potável, gerida de forma segura. Outras 4 bilhões, durante pelo menos um mês, ao longo de um ano sofrem com a falta de água, indica a Organização das Nações Unidas (ONU).
Se nada for feito para reverter essa situação, o futuro será aterrador. Com o crescimento da população, até 2050, a demanda por água deve aumentar entre 20% e 50%.
Os prejuízos financeiros são enormes. Todos os anos, a economia global perde US$ 260 bilhões, com a falta de abastecimento e saneamento. Um dinheiro gasto, sobretudo, com o tratamento de doenças associadas à escassez hídrica. Cada US$ 1 investido em água potável, nas zonas urbanas, rende US$ 3. Na área rural, US$ 7.
Os primeiros protótipos da FreeWater começaram a ser distribuídos durante a pandemia, no centro de Austin. Aos poucos, as pessoas começaram a compartilhar a ação nas redes sociais. Em pouco tempo, o movimento explodiu, impulsionado principalmente pelo TikTok. “A mídia social nos ajuda a educar o público, tanto o consumidor quanto os anunciantes”, diz Cliffords. “Gratuitamente”, gaba-se.
O empreendedor não quer parar nas garrafinhas, não. O próximo passo é mobilizar os anunciantes para que eles invistam na criação de máquinas de distribuição gratuita de bebidas e lanches rápidos, no modelos das vending machines. Um aplicativo móvel limitará o acesso de cada pessoa a três produtos, por dia. No cálculos de Cliffords, uma estação pode render entre US$ 10 mil e US$ 36 mil anuais, para a filantropia.