Mesmo em dias de céu limpo, sem nuvens, sempre existe água na atmosfera. Invisível, sob a forma de vapor, seu volume soma 13 mil quilômetros cúbicos – o que daria para encher um cubo em que cada lado tem 23,5 quilômetros. Em tempos de ameaça de crise global por escassez hídrica, seria um desperdício não recorrer a esse reservatório gigante, que paira sobre nossas cabeças.

De todos os cantos do planeta, empreendedores de inovação tomaram a causa para si e se dedicam a tirar água do ar. Estimado em US$ 2,1 bilhões, em 2022, o mercado global de água atmosférica deve bater a casa dos US$ 9,7 bilhões, nos próximos oito anos. A taxa de crescimento anual composta para o período foi calculada em 14,8%, por analistas da consultoria Allied Market Research.

O ecossistema está em ebulição (sem trocadilhos). As últimas semanas registraram algumas movimentações importante no setor. Uma delas foi a aquisição pela americana Source Global da Proud Source Water, empresa de água de nascente engarrafada segundo os preceitos da sustentabilidade. O valor da compra não foi revelado.

Fundada em 2014, na cidade de Scottsdale, no Arizona, a Source Global foi uma das primeiras startups do mundo a apostar em sistemas para captação de água atmosférica. Batizada Hydropanel, a tecnologia consiste em painéis, de aparência, muito semelhante aos fotovoltaicos.

Alimentados por energia solar, captam o ar e o convertem em líquido. O mesmo sistema faz o tratamento e deixa a água pronta para ser consumida. Com o Hydropanel, é possível estabelecer uma fonte de água limpa e sustentável em qualquer lugar do planeta, sem precisar recorrer às fontes naturais de água doce.

Ao adquirir a Proud Source Water, a startup pretende, até 2024, engarrafar água do ar. Desde seu lançamento, a Source Global já captou US$ 364,4 milhões em investimentos.

Painel da Agua de Sol, que retira água do ar

A tecnologia desenvolvida pela Source Global é muito semelhante à da francesa. No início do ano, a empresa levou seus painéis, chamados SunAirFountain, para um projeto-piloto em ilhas da Grécia. Se tudo correr dentro do esperado, em breve, a tecnologia da Agua de Sol chega ao mercado

A caminho do Japão

Outro movimento recente entre as empresas de água atmosférica foi o aporte de US$ 2,3 milhões na startup indiana Uravu Labs. Até agora, a empresa levantou cerca de US$ 4 milhões, com participação da Speciale Invest, JITO Angel Network e Anicut Capital.

Fundada em 2019, pelos engenheiros Swapnil Shrivastav e Venkatesh RY, a empresa desenvolveu um sistema à base de dessecantes líquidos, para captar a umidade do ar. Movida a energia solar, a tecnologia produz atualmente entre cinco e 20 litros de água potável por dia.

Os empresários estão trabalhando em um modelo com capacidade para mil litros diários. A previsão é chegar a 10 mil, no mesmo período, até meados de 2024. Nos próximos meses, a Uravu inaugura seu primeiro projeto piloto fora da Índia, com a chegada ao Japão.

Iniciativas como as da Source Global, Agua de Sol e Uravu, apontam para uma entre várias estratégias em desenvolvimento para tentar mitigar os danos causados pela crise hídrica. Mantido o ritmo atual de consumo de água, conforme especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2050, 5 bilhões de pessoas não terão acesso adequado à água potável.