SUNNYVALE – Quem acessa o site da Benchmark encontra apenas uma página pintada de azul escuro que exibe um logo e dois endereços de escritórios na Califórnia. Um link discreto redireciona o interessado para uma página no X (antigo Twitter) com postagens de algumas das investidas de gestora. E é só.
“Não é intencional manter uma operação ‘secreta’”, diz Victor Lazarte, cofundador e ex-CEO da startup brasileira Wildlife e que desde julho do ano passado passou a atuar como general partner da gestora americana. “Mantemos as coisas simples.”
A declaração foi feita durante sua participação em um painel no Brazil at Silicon Valley, evento realizado em Sunnyvale, na Califórnia. Durante sua participação, Lazarte revelou alguns detalhes do modus operandi da gestora que já investiu em startups como Uber, Tinder, WeWork, além da própria Wildlife.
O empresário se tornou sócio da Benchmark em julho do ano passado - uma das casa de venture capital com mais prestígio no Vale do Silício. Desde então, ele tem operado em conjunto com outros quatro general partners: Peter Fenton, Eric Vishria, Sarah Tavel e Chetan Puttagunta. “Cada um faz um investimento por ano e permanecemos no board por uma média de 10 anos”, afirma Lazarte.
Dados do PitchBook apontam que a Benchmark já investiu em mais de 800 empresas desde sua fundação, em 1995. Foram oito fundos de investimento levantados até o momento. O último, de US$ 425 milhões, teve a captação encerrada em dezembro do ano passado.
No radar atual da gestora estão startups early stage que buscam investimentos até a rodada de série A. “Procuramos as motivações dos empreendedores. O porquê de eles quererem construir aquelas empresas”, diz Lazarte.
Lazarte contou que o número mais enxuto de investimentos tem relação com a filosofia que foi adotada pelos sócios de dedicar mais tempo para cada investida. “Fazemos poucos investimentos, mas passamos muito tempo dentro das empresas”, afirma.
Por investir menos, a busca é mais rigorosa. "Estamos no negócio de achar exceções", afirma. Segundo Lazarte, o empreendedor buscado precisa ter a mente aberta, ser organizado e "até um pouco teimoso"
A entrada de Lazarte na Benchmark pode abrir portas para mais investimentos no Brasil. “Os fundos mais conhecidos de venture capital não estão interessados no Brasil. Isso abre uma grande oportunidade”, disse. “Startups são sobre talentos e há muitos talentos por lá.”
Segundo ele, o empreendedor brasileiro tem a habilidade de construir empresas nos quais os times são leais, algo que ele diz não ver com frequência no Vale do Silício.
Lazarte contou que o desejo de se tornar investidor teve relação com seu passado. Durante o painel, ele lembrou que a Wildlife enfrentou problemas durante seus primeiros anos na busca por investidores. Na época, ele chegou a receber uma proposta de US$ 50 mil por 50% do negócio.
“Eu tive uma má experiência e via pessoas tentando tirar vantagem. Isso fez com que eu me isolasse e o problema de fazer isso é que você não se comunica com outras empresas que já resolveram problemas que você está enfrentando”, afirmou. “Você precisa reinventar a roda toda a vez. Foi um grande erro.”
No comando da Wildlife, Lazarte ajudou a companhia a alcançar um valuation de US$ 3 bilhões em 2020. Na época, o estúdio de jogos captou US$ 120 milhões em rodada liderada pela Vulcan Capital.
Em fevereiro deste ano, a empresa demitiu 21% de seu quadro de funcionários. Foram 130 demissões no terceiro corte em massa na startup desde novembro de 2022.