Assim como na indústria de venture capital, boa parte dos fundos de corporate venture capital (CVC) ainda vive uma ressaca após a onda de rodadas e investimentos registrada na pandemia. Mas há quem esteja indo na contramão desse “pé no freio” e ampliando sua aposta nesse espaço.
Quem está seguindo esse percurso é o Vivo Ventures. O CVC da Vivo anuncia nesta segunda-feira, 15 de dezembro, a expansão do seu fundo com um aporte de R$ 150 milhões, o que leva o total já destinado a essa frente para R$ 470 milhões.
A Vivo respondeu por 98% do novo cheque, enquanto os 2% restantes foram aportados pela Telefónica Open Innovation, braço de inovação e conexão com startups da espanhola Telefónica, controladora da operadora brasileira.
“Já alocamos boa parte do nosso capital original”, diz Rodrigo Gruner, vice-presidente de inovação e novos negócios da Vivo, ao NeoFeed. “E, hoje, o mercado talvez não tenha o volume de oportunidades que tinha anteriormente, mas quando elas aparecem, precisamos ter recursos para entrar.”
Nesse ponto, ele ressalta que, diante de um mercado menos ativo e com pouca liquidez, o Vivo Ventures vem conseguindo fechar bons deals, justamente pelo fato de o CVC ter capital disponível para aproveitar essas oportunidades.
Em operação desde 2022, o Vivo Ventures já alocou R$ 230 milhões do montante de R$ 320 milhões inicialmente destinado ao fundo. O saldo restante inclui frentes como os custos de operações e uma reserva de 20% a 30% para follow ons nas investidas do portfólio.
Hoje, esse leque inclui 12 startups. Entre elas, nomes como a Agrolend, fintech voltada ao agronegócio; a Asaas, de produtos e serviços financeiros para pequenas e médias empresas, a Klubi, de consórcios digitais; a Klavi, de open finance; a healthtech Conexa; e a Digibee, startup de tecnologia.
Uma questão, em particular, baliza a tese por trás desse portfólio: a conexão e as sinergias dessas startups com o ecossistema de serviços digitais – do B2C ao B2B - que a Vivo começou a construir há alguns anos, como parte da busca por novos negócios e receitas além do seu core em telecomunicações.
Nesse escopo, diferentemente da Wayra, fundo da Vivo centrado no early stage, o Vivo Ventures investe em empresas já com mais tração, com cheques que, em média, variam de R$ 5 milhões a R$ 25 milhões. E em segmentos como serviços financeiros, saúde, educação e entretenimento.
Agora, com os R$ 150 milhões aportados, o CVC da Vivo também está ampliando as fronteiras dessa tese para abrigar um novo pilar, que, por sua vez, tem sido o norte de boa parte dos investimentos em startups atualmente, tanto no Brasil como em escala global.
“Uma parte desses recursos será reservada para teses emergentes de inteligência artificial”, afirma Gruner. Como reflexo desse novo componente, ele observa que uma parcela dos cheques a serem assinados pode vir abaixo do valor que usualmente o CVC investe.
“Estão surgindo muitas empresas de inteligência artificial. Então, precisamos fazer um número maior de apostas, porque ainda é muito cedo para saber quais delas vão adiante”, diz. “Vamos olhar para esse tema na camada de aplicações e, naturalmente, para o que possa ter relação com a Vivo.”
Nessa direção, Gruner destaca que essas aplicações de inteligência artificial podem estar relacionadas tanto a ofertas na ponta dos consumidores como a recursos para serem usados internamente pela operadora.
A quatro mãos e dentro de casa
Essa linha já vem sendo adotada nas conexões entre as startups investidas do CVC e a Vivo. Em muitos desses casos, a operadora constrói ofertas a quatro mãos com essas empresas. Ao mesmo tempo, o grupo já vem adotando parte dos produtos e serviços desenvolvidos por elas dentro de casa.
“Estamos tendo muito sucesso em conectar essas empresas com o ecossistema da Vivo”, afirma Gruner. “E, para nossa surpresa, não apenas na nossa tese inicial, mas também com o próprio core do grupo.”

Uma das startups que navegam por essas duas abordagens é a Conexa. A healthtech oferece serviços de telemedicina na Vale Saúde, plataforma de benefícios em saúde da Vivo. E, recentemente, passou a ser o nome por trás de uma iniciativa interna lançada pela operadora: o Hospital Púrpura.
Com o objetivo de complementar o plano de saúde e os programas de bem-estar ofertados pela Vivo, o projeto é uma plataforma de atenção primária de saúde disponível para os mais de 33 mil funcionários da Vivo, bem como seus 50 mil dependentes, com atendimento 24 horas, sete dias por semana.
Sob essa ótica, a Vivo já tem mais de 100 contratos com startups, investidas ou não do Vivo Ventures e da Wayra. E não faltam exemplos também de produtos e serviços já na prateleira ou que estão sendo desenvolvidos com as empresas do portfólio do CVC.
Com a Klubi, a Vivo oferece consórcios de celulares e até motos. E já avalia a extensão para novas categorias. A mesma pegada vale para a CRMBonus, cuja parceria já é forte em vale-bônus. Assim como para a 180 Seguros, que terá seu portfólio ampliado já no início de 2026.
Gruner destaca ainda outra questão à parte dessas duas vertentes. “Ainda é muito cedo, mas nós já provamos que é possível uma corporação construir um portfólio por meio de um CVC que vai, sim, trazer retorno financeiro”, afirma.
Ele cita alguns casos para reforçar essa visão. Entre eles, a CRMBonus, startup na qual o fundo passou a investir em junho de 2024. E que, em julho deste ano, teve uma fatia de 20% de sua operação comprada pelo iFood.
Enquanto isso, os valores movimentados pelos CVCs seguem mais modestos. De janeiro a setembro deste ano, os aportes com participação de ao menos um desses fundos somaram R$ 1 bilhão, ante R$ 1,3 bilhão em igual período de 2024, segundo a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP).
No que depender, porém, do Vivo Ventures, esses números serão reforçados em breve. “Já acabamos de aprovar um novo investimento, que vamos divulgar em breve”, diz Gruner. “E já temos algumas oportunidades no pipeline de inteligência artificial e em fintechs.”