Durante décadas, a Mastercard foi sinônimo de cartão para os consumidores brasileiros. Mas a companhia vem trabalhando para mudar essa imagem e ser vista como uma empresa de tecnologia. Hoje, o braço de serviços já representa cerca de 40% de sua receita global e cresce duas vezes mais rápido que o de pagamentos.

Em entrevista ao programa Call de Negócios, Marcelo Tangioni, presidente da Mastercard Brasil, contou que a empresa já oferece mais de 200 serviços, que vão desde a prevenção de fraudes até plataformas de lealdade e personalização. E as possibilidades de novos produtos só aumentam a partir do uso de inteligência artificial.

O caso mais recente é a parceria com a C&A, em que a tecnologia da Mastercard ajuda o cliente a escolher roupas e acessórios com base no histórico de consumo. Na prática, se uma consumidora comprar on-line um vestido preto para uma festa, o site tem a proatividade de oferecer sapatos, brincos e outros acessórios que combinem na ocasião.

A experiência é uma espécie de digitalização daquela funcionária simpática que te oferece, na loja, algo pertinente na hora do pagamento.

“O interessante é que você vai interagindo com aquela máquina e, conforme a conversa vai evoluindo, ela vai evoluindo também aquilo que te oferece de opções, baseado naquilo que já conhece do seu comportamento de consumo. É uma ferramenta de bastante sucesso”, diz Tangioni.

Apelidada de “Shopping Muse”, a ferramenta de recomendação alimentada por IA já é adotada por marcas no exterior, como Hugo Boss e Michael Kors.

A lógica por trás da estratégia de acelerar o braço de serviços e tecnologia é clara: o core dos pagamentos se tornou uma commodity: “Tudo o que a gente fazia de diferente era facilmente copiado”, lembra Tangioni. A saída, então, foi investir em novos produtos, serviços e fontes de receita que extrapolam o universo transacional.

Outro foco da Mastercard está nos pagamentos instantâneos. A empresa tem histórico nessa área desde antes do surgimento do Pix por operar sistemas similares em cerca de uma dúzia de países, como Reino Unido, Polônia e os nórdicos.

No Brasil, onde o Pix é gerido pelo Banco Central, a Mastercard tem buscado espaço para contribuir com novas soluções. Tangioni conta que a empresa quer emplacar o Pix cartão, que funcionaria de forma bastante semelhante ao cartão de débito, mas precisa convencer o governo.

Na visão do executivo, o fato de não precisar abrir aplicativos bancários para escanear QR Codes melhoraria a experiência dos consumidores, além de acelerar o checkout no varejo físico, reduzindo o tempo de filas.

“A ideia é replicar a experiência dos cartões no ambiente do Pix. Hoje, a experiência no varejo físico ainda é uma dor. Queremos resolver isso com uma solução acessível a todos, por exemplo via cartão plástico”.

Um dos efeitos colaterais do sucesso do Pix é a inevitável competição com os cartões de débito, cujo uso vem desacelerando. Para tentar reverter esse quadro, a Mastercard vem recheando seus cartões de débito com benefícios alinhados ao perfil dos usuários dessa modalidade de pagamentos.

“Estamos desenhando uma proposta de valor voltada para o uso no dia a dia, com recompensas mais instantâneas”, antecipa Tangioni.

Embora não revele metas específicas, a Mastercard mira liderar a próxima onda da indústria, conectando pagamentos, dados, IA e experiências personalizadas para ser lembrada em toda a jornada de consumo: da carteira ao guarda-roupas.