Em um ambiente em que tecnologias disruptivas surgem da noite para o dia, confiar apenas em projeções baseadas no passado se tornou perigoso.

Esse é o alerta central da abordagem apresentada por Glaucia Guarcello, managing director da Singularity University Brasil, em seu livro Menos Forecast, Mais Foresight e nas imersões que conduz com executivos de grandes corporações.

Para Glaucia, devido às incertezas do mundo moderno, trabalhar apenas com planejamentos que têm por base dados históricos, o chamado forecast, não é mais eficaz.

“Se eu fico preso ao forecast, posso até superar as metas e ainda assim perder oportunidades que nem consegui enxergar”, afirmou em entrevista ao programa Humanamente Possível, do NeoFeed.

Em vez disso, Glaucia defende a importância de as empresas também usarem uma metodologia que explora sinais emergentes e cria diferentes cenários para tomar decisões conscientes diante da incerteza, o foresight estratégico. A proposta é ajustar a rota de forma ágil sempre que necessário.

“Não é você que dita para onde o mundo vai. Isso vem muito dessa arrogância corporativa de achar que somos tão geniais que vamos dizer para onde o cliente ou o mercado irá. O foresight parte de um lugar muito mais de humildade: entender sinais latentes de tecnologia, mudanças geopolíticas e comportamentais e, a partir desse olhar externo, desenhar cenários possíveis para dentro da empresa”, diz a executiva.

Glaucia ressalta que não se trata de abandonar o forecast, mas de equilibrá-lo com ferramentas de foresight, criando um portfólio de estratégias que permita reagir rápido quando o inesperado acontece.

“A vida em geral está no ‘e’ e não está no ‘ou’. É sobre encontrar em quais situações essa metodologia é mais adequada, em quais situações essa outra metodologia é mais adequada e fazer esse balanço. O problema é que a gente tenta pegar a mesma fórmula e aplicar a tudo”, diz Glaucia.

Com uma carreira pautada em inovação, a executiva avalia que a explosão recente da inteligência artificial torna essa prática ainda mais urgente. E sugere que quem insistir em repetir o passado corre o risco de ver seu modelo de negócio se tornar obsoleto antes mesmo de perceber.

Para os líderes, o desafio não é apenas adotar novas ferramentas, mas mudar a mentalidade, cultivando a capacidade de escuta para captar sinais fracos, incentivar a experimentação e aceitar que nem todas as hipóteses darão certo.

“Quando se entende que inovação não é só eficiência, mas criar novas avenidas de crescimento, a empresa deixa de reagir e passa a influenciar o futuro”, afirma Glaucia.