Por mais de três décadas, o farmacêutico e executivo Antônio Carlos Matos da Silva construiu carreira em grandes companhias da área da saúde, no Brasil e no exterior.

Chegou a ocupar o cargo de CEO para Equador e Chile em uma farmacêutica global, mas foi fora das salas de reunião que ele encontrou uma nova forma de pensar a liderança.

Em entrevista ao programa do Humanamente Possível, do NeoFeed, ele contou como a sua paixão pelo vinho se transformou em metáfora para o mundo dos negócios.

“Quando você começa a visitar as vinícolas, conversa com as pessoas que estão à frente do negócio, seja na parte de cultivo, na fermentação ou no blend, tudo tem a ver com o nosso dia a dia”, diz Silva. “Eu ficava fascinado em entender por que esse cara que é vizinho desse outro faz um vinho de excelência e o outro, não.”

Inspirado pela enologia, Silva, que hoje atua como Conselheiro Associado ao Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), escreveu o livro Equilíbrio, Estrutura e Estratégia: Como a arte do vinho pode inspirar a gestão empresarial. Para ele, o vinho ensina sobre tomada de decisão, risco e liderança equilibrada.

“O enólogo coloca leveduras, calor e transforma glicose em álcool. Se a temperatura sobe demais, cozinha o vinho. Se baixa, não fermenta. É como o líder que precisa calibrar a temperatura do time, para não estressar, nem ser complacente.”

Ainda fazendo o uso de analogias com o mundo dos vinhos, Silva afirma que a gestão moderna exige dos líderes a mesma sensibilidade dos grandes enólogos: observar o ambiente, respeitar os ciclos e agir com propósito, além de tomar decisões com base em variáveis que não controla.

Na visão de Silva, assim como o vinho precisa de tempo para amadurecer, empresas sólidas se constroem com paciência, consistência e aprendizado contínuo. As companhias ainda podem aprender a serem mais inovadoras observando o ciclo de produção da bebida. Como exemplo, o conselheiro citou a chamada “poda de inverno”, criada por um brasileiro.

“Ele alterou o ciclo natural da colheita no Brasil. Com isso, regiões como São Paulo e Bahia começaram a produzir vinhos de alta qualidade fora do verão.”

O principal ensinamento dos vinhedos para o mundo corporativo, no entanto, é a importância de construir uma boa reputação. “A vida pode te tirar tudo, emprego, dinheiro, mas não a reputação que você constrói. Aquilo que você plantou, como uma grande videira com raízes sólidas, é o que fica.”