A Amazônia já é uma potência ambiental, mas continua longe de se tornar uma potência econômica, avalia Denis Minev, CEO da Bemol.
Para ele, conciliar desenvolvimento e conservação exige uma mudança profunda no sistema de crédito rural brasileiro, que ainda privilegia atividades de retorno rápido, como pecuária e soja, em vez de projetos de reflorestamento e agricultura regenerativa.
“O financiamento brasileiro da agricultura é normalmente o financiamento de safra. Mas se você quer fazer uma agricultura regenerativa, um sistema agroflorestal, as árvores demoram três, cinco anos, às vezes 15, 20 anos para crescer. Você precisa de financiamento condizente”, disse Minev, em entrevista ao NeoFeed durante o evento NeoSummit COP30.
Segundo o empresário, a lógica atual favorece atividades de curto prazo em detrimento de iniciativas que poderiam gerar mais valor ambiental e econômico no futuro.
“O setor privado responde a incentivos, e os incentivos hoje são ruins. Minha esperança com a COP e com todo o grau de conscientização, inclusive do governo brasileiro, é que a gente redesenhe esses incentivos”, afirmou o CEO da rede varejista.
Minev ressalta que não se trata de criar novos subsídios, mas de reorientar o sistema financeiro para que empreendedores enxerguem vantagem em conservar ou restaurar a floresta.
“O Brasil já tem muito incentivo fiscal para tudo que é lado. É só redesenhar. Hoje é muito mais viável a pecuária na Amazônia. Um pequeno empresário que quer começar a vida faz a conta na ponta do lápis e percebe que é melhor escolher a pecuária. A gente precisa fazer com que isso não seja verdade”, disse ele.
Minev também vê na precificação do carbono uma ferramenta essencial para tornar práticas de agricultura regenerativa competitivas.
“É importantíssimo você ser pago por esse carbono porque ele muda as equações. Hoje faz mais sentido pecuária e soja do que uma agricultura regenerativa. Mas para mudar essa conta, o carbono é essencial. Já está acontecendo, mas em pequena escala”, afirmou ele.
“Nós já somos uma grande potência. Nenhuma nação, nenhum povo no mundo conseguiu manter 80% do seu bioma original”, complementou.