A edição histórica da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que será em novembro, em Belém (PA), será uma grande oportunidade para que o Brasil possa iniciar um movimento de mudança na narrativa criada de que o agronegócio brasileiro é um grande emissor de gases de efeito estufa.

A análise é de Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, maior produtora de proteínas do mundo, que participou do painel ‘Alimentar o Mundo que Cresce’ do NeoSummit COP30, evento realizado pelo NeoFeed na quarta-feira, 10 de setembro, em São Paulo.

“Ao longo do tempo, deixamos que essa narrativa avançasse. É preciso mudar essa história de que o agro brasileiro não é sustentável. A oportunidade que temos agora é mostrar exemplos reais do que o Brasil faz. Quando mostramos os casos, a gente muda essa percepção”, diz ele.

Um dos exemplos das iniciativas sustentáveis no Brasil lembrado por Tomazoni é o trabalho realizado pelo Grupo Roncador, uma das principais companhias agropecuárias do Brasil. Para Pelerson Penido Dalla Vecchia, presidente da empresa, que também participou do painel, o caminho de uma produção sustentável precisa estar ligado ao resultado financeiro.

“As práticas sustentáveis geram um meio ambiente mais saudável e um ecossistema equilibrado. A busca por melhores resultados econômicos não é antagônica a esse caminho. Sustentabilidade hoje é o único caminho”, afirma Della Vecchia.

Essa mudança de percepção, na visão de Tomazoni, passa pela necessidade de uma padronização das métricas para aferir as emissões e capturas de carbono no País.

“O fato é que estamos medindo errado o sistema. Há problemas de métricas. A conta está errada porque está incompleta e só considera as emissões. As capturas não estão sendo computadas. Esse conjunto de ações não está sendo levado em consideração”, afirma o CEO global da JBS.

Com essa leitura, segundo o executivo, o segmento agropecuário brasileiro é carbono positivo, com mais retirada de gases do que emissões. “Se a gente olha o sistema integrado, que é lavoura, pecuária e floresta, o Brasil é carbono positivo. E vamos levar esses exemplos para a COP30 e para o Climate Week, em Nova York [no fim de setembro]”, diz Tomazoni.

No Grupo Roncador, o resultado alcançado com uma média de produção por hectare, que é acima da média nacional, é possível graças a um acompanhamento constante de medição e de integração entre as atividades.

Pelerson Penido Dalla Vecchia, Grupo Roncador (Foto: NeoFeed/Divulgação)
Pelerson Penido Dalla Vecchia, presidente do Grupo Roncador

“Temos um sistema integrado da lavoura e pecuária, que integra as duas atividades e garante um resultado mais eficiente. Na pecuária, a gente tem melhorado a fertilidade do solo, a taxa de crescimento do capim e volume de ocupação do gado”, afirma o presidente do grupo agropecuário. “Não é possível olhar somente como algo extrativista.”

“Na agricultura, temos adotado a prática do plantio direto, com práticas regenerativas e que permite uma cobertura de solo. Isso favorece os microrganismos e garante a reciclagem dos nutrientes”, explica Dalla Vecchia.

“Na pecuária, a gente produz o composto que vai entrar na adubação das áreas de agricultura, diminuindo custos e a dependência de importação de cloreto de potássio, além do repovoamento das áreas produtivas, que a gente chama de sopa de florestas”, complementa.

Em 2025, a empresa reduziu em 81% a aplicação de defensivos químicos por hectare, chegou a um custo 10% menor e um aumento de 10% na produtividade. “Por isso que insisto que sustentabilidade é parte do resultado”, diz Dalla Vecchia.

Nesse sentido, Tomazoni também enxerga que é importante dar suporte a pequenos produtores, para que também possam alcançar resultados parecidos com o do Grupo Roncador.

“Temos um projeto que ajuda 500 produtores, com tecnologia de processo e gestão. E 31% dessas fazendas já são carbono positivo. Elas sequestram mais do que emitem. O principal desafio não é com as grandes empresas e sim com médios e pequenos produtores”, afirma o executivo da JBS.

“Temos o que chamamos de escritórios verdes, que apoiam no processo de regularização. Já fizemos isso em 19 mil propriedades. E para aquele é que bem pequeno, temos o Fundo JBS pela Amazônia, que trabalhamos em 1,8 mil propriedades, com recursos para ele começar o trabalho. A JBS tem apoiado a transformação de todo nosso escopo 3.”