Pouca gente olha para a Eucatex como uma empresa de base florestal. No mercado, a companhia controlada pela família Maluf costuma aparecer associada a painéis de madeira, portas, pisos ou tintas.
Mas é justamente longe do varejo e antes da fábrica que está a engrenagem que ajuda a explicar os números reportados no terceiro trimestre pela Eucatex - um dos mais consistentes da companhia nos últimos anos.
No terceiro trimestre de 2025, a Eucatex entregou um Ebtida recorrente de R$ 191,8 milhões, crescimento de 26,8% em relação ao mesmo período do ano passado, com margem de 24%. O lucro líquido recorrente avançou 64,6% sobre o mesmo período do ano anterior, para R$ 84,3 milhões.
Esses números ganham outra dimensão quando vistos com a estratégia que vem sendo construída: verticalização florestal, disciplina financeira e investimento na contramão do ciclo.
“Quando falamos em equilíbrio, não é só de mercado ou de produto. É também de risco”, diz José Antônio Goulart de Carvalho, vice-presidente executivo e diretor de relações com investidores da Eucatex, em entrevista ao Números Falam, programa do NeoFeed.
A Eucatex opera hoje com cerca de 48 mil hectares de florestas próprias, todas localizadas no Estado de São Paulo. Em um setor cada vez mais pressionado pela disputa por madeira (especialmente com a expansão de grandes players de celulose no Sudeste e no Centro-Oeste), esse ativo funciona como um seguro operacional.
Em 2025, a companhia bateu recorde de plantio, com 7,4 mil hectares, e já planeja ampliar esse número em 2026. O ciclo florestal é longo: o desembolso ocorre majoritariamente nos primeiros 18 meses, mas o retorno vem só após seis a sete anos. É um investimento intensivo em capital e paciência.
“Madeira não é como a soja. Não existe um mercado amplo, líquido, com centenas de fornecedores. Ou você tem floresta, ou você fica refém de preço”, afirma Goulart de Carvalho.
Para a Eucatex, a autossuficiência reduz a volatilidade de custos, dá previsibilidade ao planejamento industrial e sustenta um modelo de crescimento menos dependente de ciclos favoráveis.
Da floresta ao CRA
A base florestal não protege apenas a operação. Ela também abre portas no mercado de capitais. Em 2025, a Eucatex realizou duas emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), que somaram mais de R$ 600 milhões.
Em um ambiente de Selic elevada e crédito escasso para a indústria, a empresa conseguiu reforçar o caixa e alongar o perfil da dívida, sem pressionar a alavancagem. Ao fim do terceiro trimestre, a relação dívida líquida sobre o Ebtida estava em 0,7 vez, mesmo após um ciclo intenso de investimentos.
“O CRA só faz sentido porque a gente é, de fato, uma empresa de base florestal. E isso nos dá uma flexibilidade que não é comum na indústria”, diz o executivo.
Com caixa reforçado e baixa alavancagem, a Eucatex acelerou o investimento no momento em que boa parte do setor pisa no freio.
Nos nove primeiros meses de 2025, o capex somou R$ 293,4 milhões, alta de quase 30% em relação ao ano anterior. Mais da metade foi direcionada ao segmento florestal. O restante se dividiu entre manutenção industrial e investimentos estratégicos.
O principal deles está nas linhas de acabamento - aquelas que transformam o painel de madeira, uma commodity, em produtos de maior valor agregado, como portas prontas, divisórias e pisos.
“Não faz sentido investir só na linha primária. O ganho está na escala de valor”, afirma ele.
Em 2026, a empresa deve ampliar significativamente a automação da fábrica de portas, aumentando capacidade e reduzindo custos operacionais. A lógica é preparar a companhia agora para colher resultados em 2027, quando o ciclo macroeconômico começar a virar.
A ação EUCA4 acumula valorização de 30,1% na B3 este ano, ante 33,2% do Ibovespa. O valor de mercado da Eucatex é de R$ 1,7 bilhão.