No início do ano, o Conselho Monetário Nacional (CMN) promoveu ajustes nas normas que regem a emissão de títulos incentivados emitidos com lastro em operações do agronegócio e do setor imobiliário, as Letra de Crédito Imobiliário e do Agronegócio (LCI/LCA) e os Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRI/CRA).

Essas mudanças mexeram com a oferta e a demanda, bem como com a rentabilidade desses títulos, que agora começam a se reajustar. E os investidores, agora, estão repensando a alocação nos portfólios.

O prazo mínimo de vencimento das LCAs foi ampliado dos atuais 90 dias para nove meses e o das LCIs, de 90 dias para 12 meses. Com isso, esses títulos, que muitas vezes eram usados como substitutos de liquidez das carteiras, passaram a ser entendidos como investimento. Como reflexo, parte desse dinheiro foi alocado em CDBs de liquidez diária e outra foi direcionada para o médio prazo.

E o fato de o investimento ser isento não significa que terá a melhor rentabilidade. “Uma LCA, LCI que paga aí 97%, 98% do CDI, significa 115%, 120%, não isento. A verdade é que elas não estão mais pagando isso. E tem muito CDB pagando até mais que isso. Então, é preciso analisar o risco e retorno”, afirma Odilon Costa, estrategista de renda fixa e crédito privado do grupo SWM, com cerca de R$ 7 bilhões sob custódia.

A outra mudança foi para a restrição dos lastros elegíveis tanto para as Letras como para os Certificados. O que vem provocando uma diminuição das emissões no mercado e encolhendo o estoque.

“A nova resolução vem diminuindo as emissões. O que chama a atenção é que apenas as grandes instituições desses segmentos é que estão ainda emitindo esses ativos, como grandes frigoríficos e os shoppings. O mercado secundário passou a ser bem atrativo e fundamental para compor o portfólio”, afirma Ramon Coser, sócio e especialista em renda fixa da Valor Investimentos, com cerca de R$ 12 bilhões sob custódia.

Como resultado, a busca por outro título isento de imposto de renda: as debêntures incentivadas, disparou. E, com isso, a rentabilidade dos títulos despencou. Chegaram a ser emitidos no mercado títulos com a mesma remuneração do Tesouro IPCA e o investidor pessoa física não ficou atento ao risco que estava correndo.

“Parecia que o crédito isento era a última bolacha do pacote, mas até hoje a gente continua vendo spreads mais comprimidos, principalmente nos nomes mais óbvios, em papéis com rating AAA”, afirma Costa. “Isso mostra duas coisas: o mercado tem uma demanda relevante por isentos, mas ainda tem muito esse viés conservador. É preciso ir além do óbvio para conseguir melhores rentabilidades, talvez olhar papéis AA, ou A.”

Os dois especialistas acreditam que ainda há boas oportunidades no mercado de títulos isentos, mas elas passam a ser menos óbvias. É preciso ficar atento e ver as recomendações dos assessores de investimento. Mas, para que o mercado se equilibre novamente, é preciso que novas emissões continuem a vir. E o pipeline está aquecido.

“A gente acredita que as emissões devem, nesse segundo semestre, estarem voltando aí com mais força, e com isso, venham taxas mais atrativas no mercado primário”, afirma Coser.