Quando fundou a Neurotech em Recife, em 2002, Rodrigo Cunha estava longe de imaginar que a empresa, nascida dentro da Universidade Federal de Pernambuco e sustentada por editais de pesquisa do CNPq, Finep e Fapesp, se tornaria uma das referências em inteligência artificial para o mercado financeiro, sendo comprada 20 anos depois pela B3 e atraindo 90% dos bancos e financeiras do País como clientes.
Em entrevista ao Revolução IA, programa do NeoFeed com apoio do Magalu Cloud, ele contou como a aquisição pela Bolsa brasileira ajudou o negócio a ganhar escala. “Percebemos que precisávamos sair da Série A para jogar a Libertadores. A transação possibilitou que a gente tivesse mais acesso a dados”, diz Rodrigo Cunha, cofundador da Neurotech.
Como parceira estratégica de quase todos os grandes bancos brasileiros, a Neurotech desenvolve modelos de concessão de crédito, definição de limites, prevenção a fraudes e recuperação de inadimplentes.
Um dos exemplos vem do Banco BV, para o qual a Neurotech desenvolveu um assistente que analisa conversas de áudio e texto entre cobradores e devedores. Em dois meses, a ferramenta trouxe R$ 8 milhões em recuperação adicional de crédito, tornando as interações mais humanas e efetivas.
“Tem um caso super engraçado de um consumidor que falava o seguinte: ‘Eu só tenho mil paus, eu só tenho mil paus’. No Nordeste, mil paus são R$ 1.000 para pagar a dívida. E o operador não conseguia entender isso", afirma Cunha.
Já no setor de seguros, as soluções da empresa estão por trás de cotações de automóveis, precificação de riscos e análise de fraudes em sinistros. E, mais recentemente, a empresa também começou a aplicar suas ferramentas no setor de saúde, em especial na jornada de operadoras e hospitais.
Na visão do empreendedor, o diferencial competitivo dos próximos anos não estará apenas nos algoritmos, mas no acesso a informações únicas. “Todos os dados da humanidade já foram usados para treinar os grandes modelos. O desafio agora é encontrar novas fontes de informação exclusivas. É aí que veremos as maiores disputas”, diz ele.
Esse cenário explica movimentos recentes de gigantes como Meta e Google, que buscam aquisições de empresas especializadas em coleta de dados. Para a Neurotech, a vantagem está justamente na proximidade com seus clientes e no entendimento profundo de suas operações.
“Mais do que acesso a dados de mercado, o que faz diferença é conhecer a jornada de cada banco, seguradora ou operadora, e cocriar soluções customizadas para aquela realidade”, acrescenta Cunha.