Enquanto CEOs e conselhos olham para a IA como motor de produtividade, eficiência e inovação, os criminosos usam essa mesma tecnologia como arma e com velocidade superior à capacidade de defesa de muitas organizações. Essa é a visão da conselheira Tania Cosentino, ex-presidente da Microsoft Brasil e ex-vice-presidente de cibersegurança da gigante para a América Latina.

Em entrevista ao Revolução IA, programa que tem o apoio de Magalu Cloud, Cosentino alertou que as empresas não podem achar que sofrer ataques cibernéticos é apenas uma hipótese, quando todas são alvos em potencial.

“Não é se eu for atacado. É quando”, disse a executiva. “O hacker também está usando IA generativa. E aí você vê o crime cibernético aumentar em escala, velocidade e sofisticação. Fica muito barato atacar todo mundo ao mesmo tempo. Com isso, ele vai, com certeza, furar as barreiras de alguém.”

Segundo Cosentino, a transformação digital acelerada pela pandemia deixou brechas. Muitas organizações adotaram novas plataformas e modelos de trabalho remoto antes de amadurecer procedimentos de segurança. Além disso, o FOMO (fear of missing out, ou medo de ficar de fora, em um tradução livre) em relação à adoção da inteligência artificial levou companhias a estimularem o uso dessa ferramenta sem governanças bem definidas, o que aumenta o risco de invasões ou vazamentos de informações sigilosas.

A executiva cita que mesmo executivos sêniores ainda adotam comportamentos arriscados, como delegar a terceiros a troca de senhas. A falta de uma cultura de segurança nas organizações contribui para que os ciberataques sejam um “negócio” comparável ao tamanho das maiores economias do mundo.

“O crime cibernético movimentou de 2023 para 2024 cerca de US$ 8 trilhões. Se fosse uma economia, seria a terceira maior do mundo e deve crescer em uma taxa de 15% ao ano”, ressaltou Tania.

Se por um lado a inteligência artificial agrava os riscos, essa tecnologia também pode ajudar. Técnicas como detecção comportamental permitem identificar acessos suspeitos, transações fora do padrão ou tentativas de fraude antes que causem danos irreversíveis. A Microsoft, por exemplo, bloqueou mais de 30 bilhões de ataques a senhas apenas no ano passado.

Na visão da conselheira, um dos caminhos para um cenário com maior segurança digital é enxergar o tema como estratégico em vez de apenas técnico. Para isso, no entanto, é necessário que a liderança estabeleça essa prioridade, entendam do assunto e saibam o que perguntar aos times de tecnologia e segurança.