A Conta Simples, startup de gestão de gastos corporativos, nasceu no fim de 2018 com o intuito de endereçar o mercado de pequenas e médias empresas, que, na visão da companhia, ainda era bastante negligenciado pelas fintechs do mercado. O que a companhia não esperava era que, em pouco tempo de vida, teria que aprender a lidar com os seus próprios gastos - e da maneira mais difícil.

Para chegar lá, é preciso dar um passo atrás. A Conta Simples levantou R$ 160 mil no início de 2019 para tirar o projeto do papel e sair com ele rodando no segundo semestre daquele ano.

Porém, o primeiro problema, com o qual os fundadores da companhia, Fernando Santos, Rodrigo Tognini e Ricardo Gottschalk, não contavam, surgiu em pouco tempo. Isso porque esse dinheiro, que efetivamente foi feito para durar pouco, acabaria antes da empresa conseguir uma nova rodada.

“Assim que nós lançamos o produto, eu já fui novamente para o mercado para levantar uma rodada, porque sabia que precisaríamos de mais dinheiro”, disse Tognini, CEO da Conta Simples, ao Vida de Startup, programa do NeoFeed.

“Eu pensava assim ‘agora que eu tenho um produto, uma história para contar, eu vou conseguir levantar um cheque com um fundo de early stage, né?!’, mas não foi o que aconteceu.”

O empreendedor conta que bateu na porta de diversos fundos e investidores, mas sempre recebendo respostas negativas.

Nesse cenário, a escolha do CEO foi reduzir o valuation e o cheque pedido a esses investidores, mas ele também optou por avisar seus sócios de que a situação poderia começar a ficar apertada em relação ao dinheiro em pouco tempo. “Falei para eles prepararem a reserva da reserva, porque estávamos com poucas opções”, afirmou Tognini.

A primeira crise, por outro lado, foi evitada no momento em que um investidor-anjo afirmou que colocaria R$ 100 mil no negócio e, junto com ele, outros investidores se animaram e passaram a integrar a rodada. Porém, esse foi apenas o começo de um novo perrengue, que surgiu justamente com esse dinheiro entrando.

Tognini conta que um fundo acabou se interessando por entrar na jogada junto com os investidores-anjo, o que elevou o valor da rodada para R$ 1,5 milhão. A partir disso, o CEO refez seu plano de negócio por completo e, animado com a perspectiva, começou a aumentar o porte da companhia e fazer novos investimentos.

“Nós assinamos o term sheet e começamos a investir na empresa. Saímos do coworking e pegamos um escritório próprio, começamos a contratar pessoas… Mas aí chegou março de 2020 e a pandemia estourou”, conta Tognini. “O fundo me liga e fala que temos que entregar um plano de contingência em uma semana. Eles iam reavaliar se ainda fariam o cheque ou não.”

Foi nesse momento que Tognini teve uma de suas lições mais valiosas, aprendendo que não se pode contar com o ovo antes da galinha botar, como diz o ditado popular.

Ali, a empresa decidiu mudar de trajeto e olhar para dentro de casa, entendendo as necessidades de seus clientes. Na visão do CEO, essa foi a decisão mais acertada que eles fizeram em toda a trajetória, o que possibilitou muitos avanços tecnológicos dentro da companhia.

Com essa estratégia, a startup conseguiu levantar mais de US$ 70 milhões com fundos como Valor Capital, Jam, Y Combinator, Big Bets, Broadhaven e DOMO.

Atualmente, a startup conta com mais de 80 mil consumidores ativos e opera com diversas soluções para os clientes PMEs, que vão desde o cartão corporativo até as possibilidades de crédito empresarial e open finance. A empresa já emitiu cerca de um milhão de cartões, entre físicos e virtuais.