Os investimentos no setor de energia solar devem chegar a R$ 40 bilhões neste ano. Parcela importante desse dinheiro será usada para instalação de painéis fotovoltaicos de pequenos e médios sistemas em telhados, fachadas e terrenos. E é esse mercado, altamente dependente de financiamento, que ilumina os planos da Sol Agora.
A empresa de financiamento da gestora canadense de ativos alternativos Brookfield, que detém R$ 200 bilhões sob gestão no Brasil e mais de US$ 1 trilhão globalmente, está se preparando para atender a demanda por usinas de geração com um montante de, pelo menos, R$ 800 milhões. O objetivo é viabilizar o financiamento de 40 mil pequenas e médias instalações em residências.
“Esse mercado de varejo é super crédito dependente. Se você pegar os R$ 40 bilhões de investimento anual em energia solar, cerca de 70% desse universo é financiado”, afirma Eduardo Solamone, superintendente de mercado de capitais da Sol Agora, ao NeoFeed.
O recurso da fintech da Brookfield virá do terceiro Fundo de Investimento em Direito Creditório (FIDC), o Flagship Sol Agora FIDC 3, que acabou de ser lançado no mercado com colocação 100% ancorada por um banco internacional - o nome será mantido em sigilo por acordo entre as partes.
Mas existe a possibilidade de chegar a R$ 1 bilhão para a Sol Agora atender outros investidores institucionais. “A ideia é também privilegiar os investidores que estiveram conosco desde o começo”, diz Solamone.
A Sol Agora foi lançada em 2022 e começou a rodar em MVP, com um investimento inicial de R$ 13 milhões. No ano seguinte, a Sol Agora lançou seu primeiro FIDC. Foram R$ 500 milhões ancorados pelo Itaú Unibanco - até 2026 todos os cotistas devem receber a integralidade do dinheiro de volta.
No ano passado, o segundo FIDC de R$ 900 milhões teve BR Partners, BNP Paribas e o IFC, braço de financiamento do Banco Mundial, como âncoras da colocação. O return on equity (ROE) médio desses dois primeiros veículos é de 21%.
O terceiro FIDC, um veículo fechado com prazo de nove anos e com duration de 3,2 anos, tem o Banco Genial como administrador e a gestão da Régia Capital, a asset que nasceu por meio da joint venture entre a JGP e o Banco do Brasil.
Esse novo veículo tem características semelhantes ao dos seus predecessores, tendo como diferencial as diferentes classes de risco e retorno. A cota sênior tem rentabilidade de CDI+2,70% com subordinação de no mínimo 25%. E a cota mezanino de CDI+5,55% com subordinação de 12,5%.
“A cota júnior é detida integralmente pela companhia e pela Brookfield, numa proporção mínima de 12,5%, o que assegura a credibilidade para o mercado e o skin in the game”, afirma Solamone. “A nossa estrutura emula a de um grande banco, pois nosso próprio capital está em risco e concorrendo na qualidade e concessão de todos os créditos.”
Mercado iluminado
Dentro da estrutura de negócio da Brookfield, a Sol Agora fica sob o guarda-chuva da Descarbonize, uma energytech responsável pelas soluções de infraestrutura para o mercado de energia solar.
Segundo balanço da Descarbonize, a companhia alcançou um faturamento líquido de R$ 704,8 milhões de janeiro a setembro do ano passado. A margem Ebitda da empresa estava em 16%.
Desde a criação da fintech há três anos, a Sol Agora já concedeu R$ 1,2 bilhão em financiamentos. O montante poderia ser muito maior, mas a empresa prefere ser conservadora na concessão. Por mês, ela recebe R$ 1,1 bilhão em pedidos de crédito, mas atente menos de 10% desse total.
“Eu converto, em concessões de financiamento, cerca de R$ 90 milhões por mês. Se eu quiser correr mais risco, é possível”, diz Solamone. “Mas não dá para originar a qualquer custo. É preciso criar uma carteira que gere retorno.”
A confiança da fintech vem do acesso aos dados gerais de mercado, como os de importação de painéis solares e kits para usinas solares. Ao cruzar essas informações com os dados de venda dos distribuidores, a empresa tem uma proxy importante do potencial.
Para 2025, a expectativa é conceder R$ 1,2 bilhão em crédito, o que vai fazer a companhia atingir R$ 2,4 bilhões em financiamentos. É um montante maior do que o projetado no lançamento da Sol Agora, quando a gestora canadense tinha como meta fazer R$ 1,9 bilhão em crédito em cinco anos.
“Há um espaço nessa captação atual, que pode chegar a R$ 1 bilhão, que nos dá a chance de acessar outros veículos de securitização e outras classes de ativos”, afirma o executivo da Sol Agora.
Nesse mercado, a fintech da Brookfield tem como concorrentes bancos como Santander e BTG Pactual, que têm programas específicos para concessão de crédito para a energia solar, e o Portal Solar, que pertence ao Banco BV. Além desses, a plataforma Solfácil, que em meados do ano passado captou R$ 750 milhões por meio de um CRI, é outro forte competidor.
Para a Absolar, a associação do setor de energia solar, o Brasil deverá acrescentar 13,2 GigaWatt (GW) de capacidade instalada em 2025, sendo 8,5 GW na geração distribuída, modalidade composta por pequenas e médias instalações residenciais e comerciais. É uma estabilidade na comparação com o ano passado. Mas, se confirmada, a fonte chegaria a um total acumulado próximo de 65 GW.