Quem olha a operação da Celcoin talvez não imagine que a companhia tenha enfrentado dificuldade para realizar sua primeira captação. Isso porque a startup que fornece infraestrutura de serviços financeiros já levantou mais de R$ 180 milhões junto a investidores como Vox Capital, BTG Pactual, Innova Capital e Torq Ventures.
Em entrevista ao Vida de Startup, programa original do NeoFeed, o fundador e CEO da Celcoin, Marcelo França, conta como precisou ajustar o negócio para que a companhia se tornasse uma fornecedora de serviços financeiros e atraísse o interesse dos investidores privados. Para conseguir isso, até um terremoto atrapalhou.
O primeiro problema foi encontrar o modelo certo para que o negócio deslanchasse. Inicialmente, a startup queria atender diretamente os usuários e não outras empresas. “A nossa ideia era colocar a lotérica no bolso do usuário, para que ele fizesse tudo pelo celular”, afirma França. “Mas o modelo B2C era muito difícil de escalar”
Com dificuldades para levantar capital e escalar as soluções para uma base grande de usuários, a Celcoin percebeu que estava atraindo o interesse de outro tipo de cliente: as startups que buscavam construir um negócio para ser uma alternativa aos grandes bancos.
“Eles procuravam a gente para acessar os serviços que havíamos construído, de pagar contas, fazer recargas e transferências pelo celular”, diz França. “Então, pivotamos o negócio para ser uma infraestrutura de serviços financeiros abertos.”
Com um modelo de negócio promissor, o próximo passo da Celcoin foi então tentar garantir funding para que a operação ganhasse mais fôlego. O problema é que os investidores não conseguiam entender muito bem o que a empresa fazia. Foram mais de 50 negativas, segundo França.
A solução imediata encontrada para conseguir levantar capital foi a inscrição da Celcoin em competições de startups, na qual a empresa poderia garantir um prêmio financeiro caso fossem bem avaliada. Ao vencer uma etapa de uma etapa de uma competição no Brasil, a fintech então foi classificada para uma fase final no México.
A gente chegou no México afiadíssimo para fazer o pitch, que estava marcado para às 14h30. Às 14h15, a gente ouviu uma sirene que indicava que estava ocorrendo um terremoto no país”, afirma França, ao relembrar o episódio ocorrido em setembro de 2017. “Todo mundo me ligava pra saber se a gente havia ganhado o prêmio. Mas ganhamos um terremoto no lugar.”
A Celcoin ainda enfrentou outro problema para garantir captação de dinheiro junto a investidores privados. “"Estava tudo certo e o banco que liquidava nossos boletos quebrou. Os investidores desistiram”, diz França, que conta que o primeiro aporte só aconteceu em 2018, com um investimento de R$ 6 milhões da Vox Capital.
Passadas as dificuldades para escalar o negócio, França agora vislumbra a expansão internacional da Celcoin. “Já abrimos um primeiro escritório no Chile, já que o open banking tem atraído o interesse mundial. Estamos também olhando para mais dois ou três países na América Latina”, afirma.
A chegada no Chile ocorreu através da Finansystech, empresa que também fornece infraestrutura de serviços financeiros. A startup foi adquirida pela Celcoin em fevereiro deste ano por R$ 85 milhões e desembarcou no país vizinho em agosto.