Foi durante o tempo em que passou como diretor-executivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz que o empresário Alan Paiotti percebeu que havia uma oportunidade para trabalhar com medicamentos voltados para pacientes com doenças crônicas. Mais especificamente aqueles à base de cannabis.

Em meados de 2021, Paiotti decidiu montar a Cannect, um marketplace para facilitar o acesso a esses medicamentos, que em grande parte são importados. A intenção era boa e o modelo também parecia promissor, mas havia uma dificuldade adicional: a desconfiança do mercado.

“As pessoas me chamavam de louco”, diz Paiotti, cofundador e CEO da Cannect, em entrevista ao Vida de Startup, programa original do NeoFeed. “Todo mundo tinha produto, mas ninguém ouvia a demanda. Os médicos e pacientes estavam buscando informação de qualidade.”

A sacada de Paiotti foi evoluir o marketplace que funcionava como se fosse uma farmácia online para um ecossistema em que os pacientes poderiam agendar as consultas com os médicos diretamente pela plataforma e fazer o acompanhamento de seus tratamentos com os profissionais.

Mas ainda era preciso superar a barreira do preconceito com a cannabis medicinal. “As pessoas olhavam para a cannabis e falavam: isso é droga, é baseado”, afirma Paiotti. “Não tem nada a ver com o uso do recreativo. Até a genética da planta é diferente.”

O preconceito não foi o único problema. Entre novembro e dezembro de 2022, a Cannect se preparou para buscar um round institucional. “Estava na hora de trazer investidores para mandar uma mensagem para o mercado de que não era uma brincadeira, era um negócio médico. Não era vender erva”, afirma Paiotti.

Como era de se esperar por esse histórico de dificuldade, Paiotti encontrou um mercado fechado. As conversas, que haviam sido iniciadas no fim de 2022, foram interrompidas meses depois. “O processo começou a ficar mais moroso”, relembra o empresário. Com alguns investidores fora da jogada, a Cannect passou a conversar com outras gestoras.

O aporte pretendido veio em junho do ano passado, quando a Cannect levantou um investimento de valor não revelado junto à Supera Capital, fundo de venture capital que une Globo Ventures, Luciano Huck, Gilberto Sayão e Duda Melzer; e a BlueStone, fundo brasileiro comandado por ex-funcionários do Pátria Investimentos.

Ao todo, contabilizando rodadas anteriores Cannect com investidores-anjo, a Cannect já levantou quase R$ 40 milhões. Com o dinheiro, Paiotti montou a empresa que já atendeu mais de 50 mil pacientes e fez duas aquisições: o portal de conteúdo Cannalize a plataforma de cursos Dr. Cannabis.

Em sua participação ao Vida de Startup, Paiotti também comenta sobre uma polêmica mais recente envolvendo a Cannect. Em outubro do ano passado, a Anvisa suspendeu temporariamente as vendas do marketplace por infrações em relação à publicidade dos produtos.

“Nunca houve uma proibição para a venda”, afirma Paiotti. “O que recebemos foi uma notificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para retirar 23 links do site.” Esses links eram referentes a produtos que estavam sendo vendidos em pacotes promocionais, do tipo “compre dois e leve três”.

De acordo com Paiotti, isso é algo comum nas farmácias, quando um paciente vai comprar um produto com um custo menor. Quando a notificação da Anvisa chegou, Paiotti diz que todos os links foram removidos imediatamente. “Temos um diálogo aberto com a Anvisa, não queremos brigar com ninguém”, diz ele.