A Multiplica, uma boutique de crédito que expandiu sua atuação para outras soluções financeiras, estreou no mercado livre de energia. Em outubro, a empresa passou a atuar como comercializadora de energia elétrica e vender essa energia para as empresas clientes a um custo mais barato do que no mercado convencional.
Além do ganho de um spread sobre a venda de energia, a Multiplica incrementa o seu plano de se tornar um hub completo de soluções corporativas.
O mercado livre de energia está em ascensão com a regulação que passou a valer no início deste ano, o que expandiu a possibilidade de indústrias e comércios de alta voltagem negociarem diretamente com a geradora de energia elétrica em vez de continuar no mercado cativo. Segundo a Abraceel, a redução de preços no mercado livre chega a 49%.
“Vimos que os bancos estão fazendo isso para grandes empresas e que havia um gargalo para o nosso cliente também, já que energia corresponde ao terceiro ou quarto maior custo deles”, afirma Eduardo Barbosa, cofundador e diretor financeiro da Multiplica Crédito & Investimento.
Segundo ele, há clientes que pagam mais de R$ 8 milhões por ano na conta de luz em suas empresas e, ao acessar o mercado livre, conseguem economizar de 10% a 20%.
A área foi recentemente lançada, mas já demonstra grande demanda. O time de quatro pessoas vai crescer nos próximos meses. O objetivo é aumentar o crosseling entre as operações. Com a economia na conta de luz, o cliente libera recursos para se alavancar em operações de crédito na casa, acelerando os seus objetivos de crescimento.
Neste fim de ano, a Multiplica está aumentando o portfólio de parcerias com distribuidoras para oferecer o serviço para todo o País. O foco continua sendo a região do agronegócio no Centro Oeste e Sul, além do Sudeste onde estão a maior parte dos clientes da casa. A perspectiva é transacionar por mês cerca de R$ 5 milhões a R$ 10 milhões em energia até o fim do ano que vem.
Tudo bem seguro
A entrada em uma nova área de negócios acontece depois da bem-sucedida empreitada em seguridade. Há um ano, a empresa abriu uma operação de seguros que deu tão certo que ultrapassou as expectativas iniciais. Nesse período foram fechados R$ 130 milhões em prêmios e assegurados mais de R$ 1 bilhão em valor total. O crescimento foi tanto que já são 38 pessoas dedicadas a esse negócio.
A ideia de entrar no segmento veio de uma demanda da própria empresa. A Multiplica já atuava no universo de seguros com os FIDCs, fazendo contratos para a proteção das carteiras. Mas percebia que alguns seguros que gostaria não eram ofertados pelo mercado com a flexibilidade desejada. E decidiram fazer a sua própria operação.
“O seguro é importante para trazer segurança para a operação de crédito. Trouxemos para dentro de casa uma ótica de soluções em seguros que acompanha a forma que a gente atua no crédito, sob demanda e focados em atender uma necessidade”, afirma Mickael Paolucci, cofundador e diretor comercial da Multiplica.
Com produtos voltados para seguros patrimoniais, seguro de incêndio, equipamentos, risco de engenharia e transportes, a operação tem como principal público médias e grandes empresas, visando um faturamento médio de R$ 300 milhões, assegurando um crédito mínimo de R$ 60 milhões, com foco para o setor industrial e agropecuário.
“Estamos buscando os mesmos clientes que as grandes seguradoras, mas ao invés de darmos uma esteira de produtos padronizados nossa proposta é trazer algo customizável para a necessidade de cada caso”, afirma Fernando Martinez, responsável pela área de seguros da Multiplica.
Martinez chegou há poucas semanas para a liderar a Multiplica Seguros. Com mais de 20 anos no setor, o executivo estava anteriormente no comando da equipe de subscrição e distribuição no Unibanco AIG e distribuição na Alfa Seguros. Ele fundou a PMR Seguros, corretora especializada com foco na distribuição de produtos que posteriormente se juntou a ItsSeg.
Na Multiplica, a busca pelos grandes tíquetes se justifica para conseguir manter a personalização dos produtos. A seguradora atende tanto às demandas da própria gestora como do mercado externo.
E atua também como resseguradora com a Managing General Agent (MGA), formato de operação que atua em nome das seguradoras, realizando funções que incluem subscrição de apólices, administração de sinistros e desenvolvimento de produtos. Área ainda incipiente no Brasil, mas que nos Estados Unidos já representa 30% do mercado segurador.
A meta é chegar até o fim de 2025 com R$ 500 milhões em prêmios e mais de R$ 10 bilhões em valores assegurados.
Hoje os clientes de seguros são praticamente os que já estão na casa usando os FIDCs para se financiarem. Mas, na visão da empresa, com o crescimento da área, os clientes externos crescerão e irão trazer clientes para a área de crédito, criando grande sinergia entre as áreas.
O que está no horizonte
Para 2025, a Multiplica quer colocar os pés nas operações de crédito internacional, ajudando os seus clientes do agronegócio a trabalharem seus recebíveis de importação e exportação.
Com todas essas novas frentes em curso, a boutique de crédito está crescendo. Hoje, a empresa de cerca de 300 pessoas tem escritórios em São Paulo, Goiânia e Londrina. Para os próximos dois anos, a expectativa é entrar no Rio de Janeiro, no Nordeste e se fortalecer no Centro Oeste com pelo menos mais uma cidade.
Com esse investimento, a empresa acredita que pode chegar a R$ 20 bilhões sob gestão até o fim do ano que vem. E próximo a R$ 30 bilhões em 2026. Um crescimento impressionante para a gestora de FIDC criada em 2014 que, antes da pandemia, tinha apenas cerca de R$ 1,2 bilhão em carteira de crédito. Prova de que o mercado de crédito mudou.
“Estamos vendo a descentralização do crédito, que antes estava todo na mão dos grandes bancos. Cada vez mais o mercado demanda soluções mais customizáveis e os FIDCs tomarão muito espaço”, afirma Paolucci.