Primeiro foram as plataformas de investimentos que ganharam os clientes investidores dos bancões. Nessa leva, estão XP, Guide, Órama e outras. Agora, outro movimento tem acontecido: o de escritórios de agentes autônomos virando corretora para pegar um bolo maior, caso de EQI e Monte Bravo. Mas o jogo não promete ser tão fácil assim.
Dentro de um mês, o Itaú prepara uma ofensiva que deve chacoalhar o mercado de investimentos. O banco vai levar o seu aplicativo íon, voltado ao público investidor, a mar aberto. Isso significa que não será mais preciso ser correntista do banco para baixar o app e investir por meio dessa plataforma. Trata-se de um poderoso movimento estratégico.
“É uma maneira de trazer de volta clientes que saíram e também novos”, diz Carlos Constantini, diretor-executivo de wealth management & services do Itaú Unibanco, ao NeoFeed. “Investimento é uma porta de aquisição de clientes para o banco.” E já há uma enorme quantidade de novos clientes para serem “atacados”.
O executivo explica que, desde que foi lançado, em 2020, o aplicativo do íon foi baixado por 850 mil pessoas que não são correntistas do banco e não podiam usar o serviço. “Isso construiu um pipeline e o nosso compromisso de oferecer uma alternativa para que eles pudessem usar o íon. Esta alternativa está ficando disponível agora”, afirma.
O movimento não deixa de ser importante como uma forma de proteção e, ao mesmo tempo, de ataque. “A disputa com as plataformas não é da maneira tradicional de disputar o cliente. Podemos ter produtos distribuídos para clientes de outras plataformas”, diz Constantini. Mas, evidentemente, é mais um ponto de contato para o Itaú ganhar mercado.
Claudio Sanches, diretor de produtos de soluções em investimentos e previdência do Itaú Unibanco, diz que o íon conta com 1,5 mil produtos financeiros embarcados, mas não é esse o diferencial. “Produto está virando commodity, a diferença está na experiência hiper-personalizada, nas jornadas de assessoria mais simples e convenientes para os clientes”, diz Sanches.
O Itaú conta com R$ 2,4 trilhões sob custódia. Dos investidores que estão em sua carteira, 70% deles usam o superapp e os outros 30%, o íon. Com 110 mil clientes em sua base, o íon dispõe de produtos que não estão no superapp. “O íon conta com toda a parte de ações, fundos imobiliários, derivativos que vão entrar em breve”, diz Sanches, acrescentando que os clientes que estão no superapp também acessam o íon com um clique.
Hoje, dez em cada dez bancos e plataformas dizem oferecer os serviços mais completos e um extenso leque de produtos. Indagados sobre os motivos que fariam um investidor a escolher o íon em detrimento de outra plataforma, tanto Constantini como Sanches dizem que “o íon se diferencia pela experiência”.
“Fomos buscar inspiração em uma série de experiências fora da indústria do mercado financeiro. A maneira como apresentamos stories vem do Instagram, a maneira como apresentamos os produtos vem do Netflix”, diz Constantini. Nos últimos tempos, antes de se preparar para ir a mar aberto, foi acrescentando ferramentas a pedido dos clientes do banco.
“Tem uma jornada do íon, particularmente diferenciada comparando com a competição, que é na parte de assessoria”, diz Constantini. “É ajudar o investidor a tomar decisão, entender a carteira dele e o que está acontecendo.” O íon também passou a consolidar a carteira de quem é investidor da Avenue, empresa da qual o banco é acionista.
Recentemente, a plataforma também passou a oferecer um consolidador de notícias de investimentos. Agora, está para lançar para todos os usuários do íon uma ferramenta que os executivos chamam de contextualização de notícias.
“Olhamos para a carteira de cada cliente e vemos quais os dias em que a rentabilidade foi anormal do que estava acontecendo e tentamos entender naquele determinado dia as notícias que impactaram a carteira do cliente”, diz Sanches.
“A personalização desse comentário é para cada cliente, para cada carteira, tanto analisando o macro como o micro”, diz Constantini. Outra ferramenta que entrou é a nota da carteira do cliente, que vai de 1 a 5. “É um diagnóstico que leva em conta a liquidez, adequação ao perfil, rentabilidade futura e etc.”, diz Sanches. Isso é feito por algoritmos que analisam os dados da carteira.
Se a nota estiver ruim, o íon explica por que está ruim e, automaticamente, diz o que pode ser feito para melhorar a carteira. “São mais de um trilhão de interações e simulações que são feitas mensalmente para fazer essas recomendações”, diz Sanches.
Constantini explica que é uma experiência intuitiva porque a nota estimula o diálogo. “E, caso queira falar com um especialista, o cliente pode iniciar a conversa via WhatsApp. São, no total, 2 mil especialistas funcionários do banco.”
Sanches aproveita a deixa e avisa. “Não temos conflito de interesse. O nosso especialista tem no processo de remuneração dele a rentabilidade da carteira do cliente e o NPS.” Esse tema vai e volta no mercado financeiro e já serviu de estopim para uma disputa entre o próprio Itaú e a XP por conta da remuneração dos agentes autônomos. Na disputa pelos investidores, a temperatura vai esquentar.