O banco suíço Julius Baer divulgou o seu resultado financeiro de 2023 na segunda-feira, 18 de março, juntamente com o anúncio de que cortou o pagamento de bônus de todos os seus executivos sêniores envolvidos na decisão de crédito ao grupo imobiliário austríaco Signa, que entrou em colapso no fim do ano passado e levou o banco a perder 586 milhões de francos suíços (CHF) em 2023  - o equivalente a mais de R$ 3,3 bilhões.

O banco faz empréstimos a seus clientes tomando ativos como garantia. No caso da Signa, o empréstimo foi para seu fundador, René Benko, e tinha como colateral alguns edifícios comerciais e lojas detidas pela Signa.

Em novembro, o Julius Baer já havia provisionado cerca de US$ 80 milhões para cobrir o que chamou de “o risco de um único cliente no portfólio de crédito privado.” E os analistas já previam que o caso afetaria os resultados anuais do banco.

O corte na remuneração dos executivos foi uma maneira de diminuir o impacto para os acionistas. O lucro líquido do banco atribuível aos acionistas caiu para CHF 454 milhões em 2023, uma queda de 52% em relação ao ano anterior. Resultado da perda de CHF 586 milhões na sua área de dívida privada devido à falência do grupo imobiliário Signa.

O lucro líquido subjacente de Julius Baer foi de CHF 947 milhões, 10% inferior ao de 2022. Isso foi impactado por uma taxa de imposto efetiva mais elevada.

Entre os executivos que ficaram sem bônus está o ex-CEO, que se retirou da função no mês passado exatamente devido ao caso, Philipp Rickenbacher, de forma que seu pagamento total caiu de CHF 6 milhões (cerca de US$ 6,7 milhões) para CHF 1,7 milhão (US$ 1,9 milhão), segundo o relatório financeiro do banco.

O corte dos 10 executivos membros da diretoria executiva do banco levou a um pagamento anual de CHF 13 milhões a todos, frente a CHF 35,5 milhões no ano passado. Tanto o pagamento informado para a direção como para o ex-CEO se refere aos salários. A remuneração variável de todos eles foi cortada.

“Lamento profundamente que a provisão total para perdas para a maior exposição em nosso negócio de dívida privada tenha impactado significativamente nosso lucro líquido em 2023. Os nossos resultados refletem a nossa determinação em acabar com qualquer incerteza relativamente ao nosso negócio de dívida privada através desta provisão total para perdas", disse o chairman Romeo Lacher na conferência de imprensa, na Suíça.

No entanto, o banco teve um recorde de captação líquida em 2023, de CHF 12,5 bilhões. E os ativos sob gestão cresceram 1% para CHF 427 bilhões.

O banco também anunciou que o vice-CEO e COO Nic Dreckmann está assumindo a função de CEO de Rickenbacher de forma interina. David Nicol, presidente do comitê de governança e risco do conselho de administração, não se candidatará à reeleição na reunião anual de 2024. E Richard Campbell-Breeden foi nomeado vice-presidente.

Procurado pela reportagem, o Julius Baer Brasil afirmou que a política de corte de bônus não incluiu a operação no Brasil

As ações de Julius Baer estão caindo quase 0,7%, para CHF 49. Em 12 meses, as ações acumulam queda de 16,5%.