A gestora de crédito estruturado Multiplike, com cerca de R$ 1,5 bilhão sob gestão, enxerga no agronegócio uma oportunidade para crescer. No ano passado, concedeu R$ 690 milhões em crédito e quer chegar a R$ 1 bilhão neste ano.

Para alcançar essa expansão de 45%, os créditos são cedidos no fundo do FIDC multicedente e multisacado, cuja estratégia está focada nos distribuidores de insumos do agronegócio, por meio de operações de recebíveis. Hoje, o setor agropecuário já representa 35% da operação da gestora.

“O agro chegou a um patamar de alavancagem, que o plano safra não consegue suprir e isso gera oportunidades para o mercado financeiro. Nossa estratégia é da “porteira para fora”, de forma que não corremos o risco de safra, mas estamos ajudando a cadeia”, diz Volnei Eyng, CEO da Multiplike, em entrevista ao NeoFeed.

Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, a aplicação do crédito rural da safra 2022/2023 somou R$ 344 bilhões, nos seis primeiros meses de 2023 e, desse total, já foram liberados R$ 131 bilhões. O ritmo repete um padrão histórico das últimas dez safras.

No setor financeiro como um todo, o volume do crédito rural liberado para os produtores avançou 126,1% em termos nominais desde a safra 2013/14 até agora, enquanto o sistema cooperativo de crédito cresceu quase o triplo no período, perto de 360%.

Enquanto o setor demanda mais crédito, o mercado financeiro está se ajustando a nova realidade de restrição de lastro para Letras de Crédito Agrícola e Certificado de Recebíveis Agrícolas imposta pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em fevereiro, impondo que apenas empresas cujas atividades fins estejam no agronegócio possam gozar do benefício de emissão com isenção tributária.

Volnei Eyng - multiplike
Volnei Eyng, CEO da Multiplike

O resultado imediato foi uma redução nas emissões desses títulos por grandes empresas. Os investidores estão buscando alternativas e, uma delas, é o FIDC para o agro, que ficou de fora da reforma tributária.

“O governo acertou em limitar os CRA ventures, que estava uma bagunça e não beneficiando exatamente o setor agrícola. E isso nos beneficia, na medida em que a competição tanto pelo ativo como passivo fica menor. O investidor está disposto a tomar mais risco para ter retorno porque não vai ter CRA triplo A o suficiente no mercado”, diz Eyng.

Esse é um dos motivos pelos quais a gestora está confiante em chegar a R$ 1 bilhão neste ano. Além disso, Eyng destaca que o agro está em uma fase de grande amadurecimento, e lembra que nessa etapa as empresas e produtores deixam de financiar suas produções com os grandes bancos e passam a procurar investimentos no mercado de capitais.

A empresa adota um modelo distinto em relação aos bancos tradicionais, baseando-se na alocação de recursos próprios como garantia para os investidores.

“O setor imobiliário, por exemplo, quando amadureceu seu modo de operar, passou a buscar recursos para financiar suas obras fora dos grandes bancos e assim surgiram os fundos imobiliários. Agora, está amadurecendo fundos para o agro”, lembra.

Distante do centro financeiro do País, a Multiplike aparece entre as 10 maiores gestoras multisacado/multicedente e securitizadoras de crédito privado do País, especializada em antecipação de recebíveis e capital de giro. De Joinville (SC), a empresa cedeu mais de R$ 30 bilhões em créditos nos últimos anos para mais de 400 mil clientes. Além do agronegócio, a companhia atua em construção civil, agronegócio e indústria.