Madeleine Albright (1937-2022) e Carlos Kawall tiveram papéis importantes no setor público. Ela na secretaria de Estado dos Estados Unidos e ele como secretário do Tesouro Nacional. Agora, as gestoras criadas por eles se unem para investir na tese de special situation no Brasil.

Com ajuda da Albright Capital, a Oriz Partners está levantando R$ 200 milhões para seu primeiro fundo de special situations, que identifica ativos desvalorizados que, por meio de uma reestruturação, conseguem ter uma correção de valor. A gestora brasileira, criada em 2022, detém cerca de R$ 3 bilhões sob gestão.

"Dentro da nossa tese de ser uma casa de negócios, vemos a área de distress como muito importante e com muita oportunidade", diz José Paulo Scheliga, CEO da Oriz, ao NeoFeed. "E o Brasil é um originador infinito desse tipo de oportunidades."

O fundo da Oriz fará de cinco a oito investimentos em companhias do chamado middle market, com faturamento entre R$ 200 milhões e R$ 500 milhões. Os cheques terão um tamanho de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões.

A Albright Capital ajudou a estruturar o fundo e vai assumir um papel consultivo para a gestora brasileira. Além disso, é esperado que surjam oportunidades em subsidiárias brasileiras de multinacionais que enfrentam problemas, cujos processos não estão abertos aos fundos brasileiros.

Em um primeiro momento, a gestora americana não fará aportes. Os recursos estão sendo captados com investidores institucionais - inclusive com aqueles que tem esse tipo de tese no portfólio - e os clientes da base.

Mas a Albright se dispôs a assinar cheques caso seja necessário complementar um investimento. Nesse caso, os recursos virão de investidores do exterior.

"Se não completarmos o cheque com recursos do fundo, podemos complementar com um de investidores da Albright lá fora", diz Guilherme Bolina, diretor responsável pela parte de special situations da Oriz.

Ele conta que trabalha com a Albright Capital há pelo menos 20 anos, quando estava na Matlin Patterson, casa especializada em ativos distressed, ajudando a gestora em seus investimentos no País, que não tem uma equipe no Brasil. E a ideia é que um segundo fundo tenha capital da parceira americana.

Retorno especial

Bolina chegou à Oriz em 2023 com a missão de levar o tema do distressed para um próximo nível. Segundo Scheliga, a ideia inicial para a parte de special situations era fazer deals específicos. Mas, diante da forte demanda dos clientes por esse tipo de investimento, a Oriz decidiu montar o fundo.

"No início, o plano era fazer gestão de alocação, e agora ele é o nosso segundo fundo proprietário que lançamos, o primeiro sendo de terras", diz o CEO.

Dentro do universo de special situations, o fundo da Oriz vai atuar no chamado corporate distress, colocando a mão na massa. Isso significa que os gestores vão se envolver nas companhias em que os aportes serão realizados, atuando na reestruturação de capital e na guinada operacional das companhias.

Para isso, a equipe da Oriz conta ainda com a expertise de nomes como Pedro Guizzo, especialista em turnaround e sócio da T&SS, e João Lencioni, que teve passagem pela consultoria Alvarez & Marsal.

Bolina diz que o fundo da Oriz visa a buscar retorno de equity com proteção de dívida. No caso, se der algum problema com o aporte feito, a gestora tem salvaguardas em ativos da companhia para liquidar e reaver os aportes. Segundo ele, a estratégia tem tudo para oferecer retornos robustos aos investidores.

O fundo pretende buscar uma TIR (taxa interna de retorno) de 30% ao ano, com a liquidez vinda de diversas formas: venda parcial ou total da companhia para fundos de private equities ou um IPO.

"A maioria dos fundos aloca um risco de equity com um retorno de dívida, que deixa de capturar um grande retorno desse dinheiro, que está salvando a companhia", diz Bolina. "Quando se salva uma companhia, o melhor e maior retorno é o de equity."

Oportunidades e segmentos

Desde que a nova estratégia da área de special situation foi definida, a Oriz analisou cerca de 110 oportunidades de investimentos. Desse total, a gestora tem conversas avançadas com quatro delas.

A Oriz pretende adotar uma postura agnóstica quanto aos segmentos econômicos em que possa investir, mas tem algumas restrições. Uma área que inspira cautela é o varejo, por exigir muito capital de giro para fazer a reestruturação das companhias.

"No varejo é mais difícil ter equity value, além de ser mais difícil de ter proteção no varejo, porque às vezes a companhia está com todos os recebíveis descontados, não tem ativo fixo, o estoque está obsoleto", diz Bolina. "Quando uma empresa de varejo está numa situação complexa, os ativos disponíveis para alocar capital de forma segura ficam escassos."

Com esse fundo, a Oriz se junta a outras gestoras brasileiras que apostam no tema de special situations, tese que vem ganhando força no País em meio à escalada das dívidas corporativas, junto com o aperto das condições do mercado de crédito local.

Segundo estudo feito pela gestora Spectra Investments, o tema de special situations cresceu silenciosamente dentro da indústria de investimentos alternativos brasileira, se consolidando como a terceira maior estratégia do segmento e representando 25% do dry powder dele entre 2012 e 2022, para R$ 11 bilhões.