Nos últimos encontros entre os principais gestores brasileiros, o tema eleição 2026 é recorrente. No Macro Vision, do Itaú BBA, não foi diferente: há curiosidade para saber se eles já estão montando posições com base na perspectiva de vitória da esquerda ou da direita no País.

Luis Stuhlberger, da Verde Asset; Rodrigo Azevedo, da Ibiuna Investimentos; e James Oliveira, da Vinland Capital, ainda não estão olhando para a eleição para ver oportunidades de investimento no Brasil.

Para eles, a eleição será acirrada e equilibrada. Hoje, eles enxergam 50% de chance de o presidente Lula emendar um segundo mandato e 50% de chance de vitória de um candidato da direita.

Essa perspectiva não permite empolgação, mas ao mesmo tempo exige atenção com os ativos no Brasil.

“Ano que vem será um ano atípico para oportunidades de poll market (pesquisa eleitoral) e todos vão ficar muito atentos. Por isso, acho que os hedges estão baratos para isso”, diz Stuhlberger, da Verde Asset.

“Mas o que eu não faço é comprar o rally Tarcísio. Tendo um nome [de consenso na direita], não acho que terá um rally. Será de qualquer forma uma eleição muito acirrada”, complementa.

Até os candidatos estarem claros, os gestores não querem se posicionar. Esse cenário será analisado com mais calma perto do meio do ano que vem, com as pesquisas eleitorais em mãos.

“Se abrirmos o jornal nos próximos meses e vermos que o Lula não vai competir, é outro cenário”, afirma Azevedo, da Ibiuna.

“Mesmo as oportunidades estando lá fora, não se pode não estar em Brasil”, complementa.

Isso significa que o que “está fazendo preço” no Brasil hoje é o exterior. Com o enfraquecimento do dólar, os investidores estão mais propensos a risco em emergentes como o País.

Com relativo otimismo para ativos no Brasil, os gestores se posicionam, mas ao mesmo tempo compram proteções para o caso de o cenário virar.

Não deixam de ter algumas posições em bolsa, mas a aposta mesmo está em juros: a NTN-B é vista como uma oportunidade precificando o juro real a mais de 7% ao ano, de olho no início do corte de juros.

“Estamos com juro real de 10%. É extremamente alto. Estamos vendo a construção civil contraindo e a expectativa é a inflação começar a confluir. Pelas contas que fizemos, em janeiro a inflação já vai estar abaixo da meta no horizonte de longo prazo e deve acontecer o primeiro corte”, diz Oliveira, da Vinland.

Azevedo, da Ibiuna, acredita que a Taxa Selic permanecerá alta por um período mais prolongado de tempo.

“Sim, a taxa de juros está alta. Mas olhando os indicadores da economia, não me parece ser uma economia que pede queda na taxa de juros. Estamos a pleno emprego. O que eu vejo é que esses canais de transmissão da política monetária estão entupidos, seja pelo fiscal, crédito subsidiado etc”, diz ele.

O que é um consenso entre os gestores é que o dólar vai continuar a se desvalorizar e que os ativos americanos não vão performar como antes. Para quem está overweight em EUA, é o momento de voltar para o neutro.

Um mundo multipolarizado tira um pouco do privilégio exorbitante do dólar. Com o adicional da incerteza sobre quando o Fed vai cortar juros diante da pressão de Donald Trump (algo que, ao mesmo tempo, gera mais inflação).

Azevedo lembrou que o mercado precifica três ou quatro cortes à frente com um juro terminal de 2,5% a 3%, mas foi taxativo sobre o risco de menos afrouxamento do que o embutido nas curvas: "a gente acha que tem uma chance grande de que isso acabe não acontecendo".

O grande problema do fim do protagonismo do dólar é que não se tem ainda um ativo à altura. Por isso tem crescido a aposta em bitcoin, ouro e ativos reais de infraestrutura. O que parece certo diante de tantas incertezas, é que esse mundo pós-pandemia não será de juros baixos como antes.

“Os governos expandiram seus déficits, estão gastando mais em armamento etc. O desafio dos policy makers é ter que lidar com um mundo de juro real alto”, afirma o sócio da Ibiuna.